Com pouco mais de dois meses de mandato, o deputado estadual Mário Jardel (PSD) fez de seu sumiço e da demissão do gabinete os pontos mais marcantes de sua atuação na Assembleia até o momento.
Segundo os registros do parlamento, o ex-jogador não apresentou nenhuma proposição e não realizou qualquer pronunciamento até desaparecer. Jardel é o único deputado da atual legislatura que jamais foi ouvido na tribuna, embora seja um dos mais assíduos.
- Ele não parece ser um deputado que goste de falar muito. Não lembro de tê-lo visto discursando alguma vez - comenta um assessor da casa.
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A atuação discreta se deve, entre outras razões, ao fato de que Jardel era considerado por sua equipe anterior um político ainda em formação. Os antigos assessores sugeriram que ele se tratasse com uma fonoaudióloga antes de fazer seu discurso de estreia - o que foi aceito pelo novato com problemas de dicção. Depois das primeiras duas ou três consultas, disse aos funcionários mais próximos que pretendia se pronunciar até o final de maio. Outros cinco parlamentares também não contam com registro de discurso no Departamento de Taquigrafia da Assembleia em 2015, mas já se manifestaram em legislaturas anteriores.
Jardel não apresentou nenhuma proposição entre as 280 que entraram em tramitação desde o início do ano. Seu antigo chefe de gabinete, Sérgio Bastos Filho, afirma que a equipe vinha trabalhando na elaboração de três projetos voltados à prevenção e ao combate ao uso de drogas, uma das bandeiras de campanha. Enquanto a atuação política do ex-atacante não deslanchava, a maior preocupação de seu gabinete era cultivar a imagem de um parlamentar assíduo e, assim, aumentar sua credibilidade.
Até pedir licença em 1º de abril alegando depressão e sumir, conforme o registro das presenças em plenário, Jardel participou de todas as 12 sessões realizadas desde a posse até o final de fevereiro - último período disponível no sistema informatizado. Segundo informações do gabinete, em março teria faltado a apenas uma sessão em razão de uma viagem a trabalho.
Em parte, a assiduidade foi garantida pela supervisão intensa de seus assessores. Sempre que Jardel tinha compromisso no plenário ou em uma reunião das duas comissões de que participa (Economia, Desenvolvimento Sustentável e Turismo, e Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia), um assessor mantinha-se o tempo todo ao seu lado.
- Como ele é novo na Assembleia, a intenção era dar mais segurança para ele - confirma o ex-funcionário Bastos Filho.
Nos corredores, é um pouco mais falante do que na tribuna. Costuma bater papo com outros colegas, como o colorado Juliano Roso (PCdoB), com quem gosta de comentar as rodadas do Campeonato Gaúcho de futebol, mas não é visto como exemplo de desenvoltura.
- Ele se soltou um pouco desde que chegou, mas ainda parece um pouco desconfortável na Assembleia, pouco à vontade - analisa um assessor que trabalha no mesmo andar.
Uma das críticas feitas pelo novo chefe de gabinete, Cristian Lima, é de que a assessoria antiga procurava "mandar" no deputado. Essa alegação é negada pelo antecessor no cargo, que admite, porém, a existência de uma preocupação constante em monitorar e orientar Jardel a fim de "preservar sua imagem". Pouco antes de uma reunião da Comissão de Educação, por exemplo, Bastos Filho ainda estava em deslocamento para a Assembleia. Telefonou para o gabinete e solicitou que um outro assessor lembrasse o deputado do compromisso e o acompanhasse até a sala.
Bastos Filho conta que, eventualmente, a supervisão constante incomodava o antigo chefe. Em um evento, ele insistiu para que Jardel evitasse o consumo de bebida alcoólica - o ex-atleta tem histórico de abuso de drogas.
- Na hora, ele me xingou, mas depois demos risada juntos. Nosso papel era assessorá-lo tão bem quanto possível - conta o ex-funcionário.
Antes da eleição, Jardel concedeu entrevista ao La Urna. Confira abaixo.