Sábado, data que marca um ano do assassinato de Bernardo Uglione Boldrini, o túmulo do menino no Cemitério Ecumênico Municipal de Santa Maria ganhará novas flores. Elas também cobrirão as grades da casa onde ele morava em Três Passos. Os locais se tornaram pontos de visitação e orações. Cartazes e banners vindos de diversas cidades serão carregados em uma procissão luminosa pelas ruas do município do noroeste gaúcho. Por lá e no Coração do Rio Grande, celebrações religiosas também renderão homenagens ao menino.
A morte prematura do garoto meigo e de sorriso triste revelou ao país a crueldade dos seus algozes _ segundo a polícia, o pai, Leandro Boldrini, e a madrasta, Graciele Ugulini. Ambos estão presos preventivamente e respondem a processo por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Edelvânia Wirganovicz, amiga da madrasta, e o irmão dela, Evandro Wirganovicz, são réus no mesmo processo pelos mesmos crimes. Conforme a denúncia, Bernardo foi morto com uma injeção letal e enterrado em um matagal em Frederico Westphalen em 4 de abril de 2014.
Vigília em homenagem a Bernardo reúne cerca de 100 pessoas
Mas a investigação mostrou mais do que uma morte cruel, apontou que, nos anos subsequentes à morte da mãe, Odilaine Uglione Boldrini, em 2010, o menino foi vítima de negligência familiar e abandono. Ele denunciou e queria uma nova família. O caso chegou à Justiça. Mas, um acordo com o pai, manteve Bernardo com Boldrini e Graciele.
A morte do menino motivou discussões sobre a rede de atendimento a crianças e adolescentes e trouxe mudanças. No âmbito federal, a chamada Lei da Palmada foi sancionada com nome de Lei Menino Bernardo em junho do ano passado. Em Três Passos, o sistema de acolhimento ganhou reforço. A ONG Lar Acolhedor, criada naquela cidade para abrigar crianças de 0 a 12 anos vítimas de maus-tratos, abusos ou por encontrar-se em situação de risco tem uma nova sede, com mais estrutura. A inauguração foi em outubro de 2014. À época da morte de Bernardo, em fevereiro de 2014, o lar abrigava 7 crianças. De lá para cá, a demanda de encaminhamentos da Justiça em Três Passos triplicou. Na quinta-feira, havia 20 abrigados. Segundo a vice-presidente do lar e amiga de Bernardo, Tayná Petry, um efeito da morte do menino:
_ As pessoas estão denunciando negligências e abandonos como o do Bernardo.
Rua Menino Bernardo
Na segunda-feira, será votada na Câmara de Vereadores de Três Passos, a proposta que dá nome de Rua Menino Bernardo à via onde foi construída a nova sede do Lar Acolhedor.
Enfrentando problemas cardíacos e já tendo sido hospitalizada diversas vezes, a avó materna de Bernardo, Jussara Uglione, 74 anos, encontra forças nas homenagens, nos amigos e nas orações que faz ao neto e à filha.
_ Me sinto perto dele quando vou ao cemitério. Vou sempre. Peço que ele (Bernardo) me cuide. Me sinto bem. Ele é um anjinho _ disse a avó emocionada.
HOMENAGENS
Em Três Passos
Sábado
- 10h _ Vigília em frente à casa onde Bernardo morava, na Rua Gaspar Silveira Martins (haverá tendas no local)
Domingo
- 19h _ Missa na Igreja Matriz Santa Inês, na Praça Reneu Geraldino Mertz
- Após a celebração, será realizada procissão com velas e banners com fotos enviadas por grupos de amigos do Bernardo de vários locais do país
Segunda-feira
- Câmara de Vereadores de Três Passos vota a proposta que dá nome de Rua Menino Bernardo à via onde foi construída a nova sede do Lar Acolhedor, que abriga crianças em situação de risco encaminhadas pela Justiça na cidade
Em Santa Maria
Sábado
- 9h _ Terço no Cemitério Ecumênico Municipal
- 20h _ Missa na Igreja Nossa Senhora de Fátima
Domingo
- 15h30min _ Jogadores do Inter-SM e do Riograndense entrarão em campo para o Rio-Nal carregando banner com fotos de Bernardo. A homenagem dos clubes ao menino se deve ao fato de o bisavô materno ter sido fundador do Inter e de o avô materno ter sido presidente do Riograndense
LINHA DO TEMPO
Confira abaixo os principais fatos sobre o Caso Bernardo
O QUE DIZEM OS ADVOGADOS
- Vanderlei Pompeo de Mattos, que defende Graciele Ugulini, diz que só se manifesta nos autos do processo
- Ezequiel Vetoretti que defende Leandro Boldrini diz que só se manifesta nos autos do processo
- Helio Francisco Sauer, defensor de Evandro Wirganovicz, diz que o cliente nega qualquer participação no crime. Que Evandro tinha ido ao rio pescar. O defensor diz ainda que não há provas da participação de Evandro no crime e que encaminhou pedido de revogação da prisão preventiva do cliente ao judiciário de Três Passos nesta semana. Como alternativa, solicitou cisão do processo, para que Evandro responda separado dos outros três réus
- Demetryus Eugenio Grapiglia, defensor de Edelvânia Wirganovicz, diz que ela não participou da morte de Bernardo e cometeu um erro ao ajudar Graciele a ocultar o corpo do menino, o que teria sido seu único crime. Disse ainda que sua cliente teria sido pressionada no primeiro depoimento. Que não houve premeditação, que o buraco foi aberto no dia da morte. Que não foi usada soda e que o irmão não tem participação alguma
PEÇAS PARA O DESFECHO
- Um vídeo mostra Graciele e Edelvânia saindo com Bernardo de um posto de combustíveis em Frederico Westphalen no dia do crime. Elas voltam horas depois sem ele e colocam uma pá no porta-malas do carro
- Sinais de terra no porta-malas do carro de Edelvânia
- Compra de uma pá e um cavadeira manual em loja de Frederico Westphalen por Edelvânia
- Gravações telefônicas e vídeos
- Multa aplicada a Graciele no dia do crime, quando ela estava com Bernardo no carro
OS MOTIVOS
- Dinheiro _ Edelvânia receberia R$ 20 mil para ajudar Graciele no crime
- Ciúme ou interesse econômico _ O casal demonstrava incômodo com a presença de Bernardo. Outra possível motivação seria um acordo de bens feito na separação, não consumada, de Boldrini com a mãe de Bernardo. O acordo previa bens e pensão para ela e para o menino
ANTES DA MORTE
- O Ministério Público de Três Passos ficou sabendo dos problemas familiares da família Boldrini em novembro de 2013 por meio de uma assistente social do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), do Conselho Tutelar e abriu um procedimento administrativo em 16 de dezembro
- No dia 24 de janeiro de 2014, Bernardo queixou-se de falta de afeto por parte do pai no Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cededica)
- O caso foi parar na Vara da Infância e Juventude, onde virou processo
- Boldrini foi ouvido, em 11 de fevereiro, teria se comprometido com o filho e o processo foi suspenso por 90 dias e foi marcada audiência para 13 de maio de 2014
- Até o desaparecimento do menino, nenhuma nova reclamação foi registrada por parte da criança
- No dia 7 de abril de 2014, após o desaparecimento, a promotora pediu ao judiciário que a guarda fosse dada à avó materna Jussara Uglione, de Santa Maria. A Justiça determinou que, assim que encontrado, ele fosse encaminhado ao Lar Acolhedor porque não podia comprovar que a avó tinha condições de assumir Bernardo
- Uma ex-babá de Bernardo disse que Bernardo contou ter sido vítima de tentativa de asfixia pela madrasta em 2012
DEPOIS DA MORTE
- A chamada Lei da Palmada, batizada de Lei Bernardo, foi sancionada em junho de 2014 e estabelece punições a quem impuser a crianças castigos que resultem em sofrimento físico. Determina que as crianças sejam educadas sem o uso de castigo físico ou "tratamento cruel ou degradante, como forma de correção, disciplina ou educação".
- Em agosto de 2014, Polícia Civil revela vídeos que mostram Bernardo sendo ameaçado pela madrasta. Um dos vídeos foi gravado no celular de Boldrini e apagado depois que o menino foi assassinado, mas acabou recuperado por técnicos do Instituto-Geral de Perícias (IGP)
- Família de Odilaine contrata perícia particular que analisa carta supostamente deixada por ela antes de morrer. Peritos atestam que a pessoa que escreveu a carta não tem traços suicidas
- Em março de 2015, nova perícia particular das características da escrita reforçam que texto não teria sido escrito por Odilaine
- A demanda no Lar Acolhedor, que abriga crianças em situação de risco encaminhadas pela Justiça em Três Passos, triplicou.
- Na segunda-feira, será votada na Câmara de Vereadores de Três Passos, a proposta que dá nome de Rua Menino Bernardo à via onde foi construída a nova sede do Lar Acolher