LEVEL 1
A primeira fase dos jogos
Você está sentado no ônibus ou tomando um café no shopping. Perto de você, um celular mostra na tela alguma cidade medieval ou algum arranjo confuso de peças coloridas, que lembra Tetris mas não é. A novidade? A pessoa que segura o aparelho pode ter 10, 20, 30, 40, 50 anos ou até mais. E está jogando.
Nas quase cinco décadas de existência dos games, as várias gerações de novos recursos foram conquistando diferentes idades. Há quem joga desde os primeiros aparelhos que chegaram no Brasil, como o Atari, mas também aqueles que começaram agora, com a popularização dos smartphones.
Thiago Tietz, 24 anos, e Sandro Tomasetti, 29, moram em cidades diferentes e têm trabalhos distintos. Mas tem uma coisa em comum: as coleções de videogames. O primeiro mora em Guarulhos, São Paulo, e é árbitro na Federação Paulista de Atletismo. A principal joia da sua coleção é um Telejogo, o primeiro console do país, vendido em 1977, e que rodava o que é considerado o primeiro jogo eletrônico da história, o Pong. Duas barras movimentáveis em cada lateral da tela da TV, com uma "bolinha" que se movimentava pelo meio e tinha que ser rebatida para evitar o "gol".
- Sou o que podemos chamar de "retrogamer" - diz Tietz.
LEVEL 2
A era do cartucho
Já o Sandro mora em Santa Catarina, em Florianópolis. E escolheu os games como profissão. Estudou computação e hoje é desenvolvedor. Tem 24 videogames, o primeiro lançado em 1983 e o último, em 2013. Mas os preferidos estão no meio dessas datas. Ele conta que fica entre o Mega Drive e o Nintendo 64, da época dos cartuchos pela nostalgia, e o Xbox 360, já no domínio digital, com DVD, que foi o que mais jogou.
- Minha primeira memória de videogames é de jogar Tartarugas Ninja na casa do meu primo no NES (Super Nintendo). E que era difícil demais e eu basicamente não conseguia fazer nada (risos) - conta ele, que hoje é sócio de uma empresa de games, que ajudou a fundar, a Cyber Rhino Studios.
Os primeiros videogames da forma como a gente os conhece hoje, de poder escolher que jogo vai jogar, começam a chegar no início da década de 1980. E conquistaram fãs. São os anos de lançamento do Atari 2600, do Master System, do Mega Drive e do que ficou mais famoso por aqui, o Super Nintendo, com a popularização de um encanador de macacão azul e boina vermelha que nunca envelhece, o Mário.
LEVEL 3
Os mundos em 3D
Aparecem os primeiros títulos que colocam o jogador dentro da exploração do mundo do game, com jogos que trocam os cartuchos e o 2D, com apenas movimentação lateral na tela, pelos CDs e o 3D, com movimentos mais livres e realistas pelas fases.
Como nas outras décadas, ainda é um entretenimento que está ligado às crianças e aos adolescentes, encarado como brincadeira. Começa também a popularização nos computadores, que competiam com Playstation e Nintendo 64. Com o final da reserva de mercado, em 1992, os PCs mais modernos entram no país.
- Eu jogava mais quando tinha 18, 19 anos, no 386 e 486. Fiquei um bom tempo sem jogar, e só voltei recentemente - conta o empresário Emerson Salomão, hoje com 41 anos.
Foi uma lembrança daquela época que ajudou a salvar sua empresa. Desde 1997, Salomão trabalhava com computadores. Percebeu uma tendência e fundou a Notebook Century em Santa Catarina. Começou a vender o produto em Joinville, numa época em que todo mundo tinha computadores de mesa.
Mas 10 anos mais tarde, o negócio começa a engasgar. Muitas marcas entram no país e as grandes lojas de varejo dominam a venda de notebooks. Ele muda. Aposta todas as fichas em uma marca própria, criada em 2004 e em um foco. A Avell se especializou em computadores portáteis para games. Virou referência nacional. E faturou R$ 15 milhões em 2012, R$ 40 milhões em 2014 e espera faturar R$ 55 milhões neste ano.
LEVEL 4
O game une famílias
Lembram do Mário? Foi ele que uniu o Fabiano Machado, 35, na paixão pelos games com os filhos Lucas, 9, e Leonardo, 8. A dele surgiu jogando no Super Nintendo. A dos pequenos, jogando no Wii, também da Nintendo, mas três gerações à frente. Videogames com décadas de distância entre seus lançamentos.
Enquanto o Playstation 3 e o Xbox 360, plataformas bem-sucedidas das empresas Sony e Microsoft, apostaram em gráficos cada vez mais reais para jogar como personagem controlável dentro de um filme, o Wii, novidade da Nintendo lançada em 2006, queria ser jogado por todos os membros de uma família, com comandos por meio do movimento dos braços.
Essa é a década em que o videogame sai do quarto da criança e vai para a sala, ligado na maior TV da casa. E as primeiras gerações que viciaram em games no Brasil passam a jogar com os filhos.
- Minha vó queria até me levar no psicólogo. Ela não entendia que era bem a época do lançamento do Super Mario e do Street Fighter. Era mais fácil chamar os amigos do que ir para a rua - conta Fabiano.
Os filhos têm hora para jogar e só podem depois de terminar a lição de casa. E ele não estimula, mas deixa o espaço livre para eles pedirem presentes ligados aos games _ o que sempre acontece.
É também um defensor de que os jogos eletrônicos desenvolvem o raciocínio. Tanto é que, de jogar a vida inteira, acabou indo trabalhar com isso. É programador e desenvolvedor de games.
LEVEL 5
Agora todo mundo joga
É uma década ainda em andamento e difícil dizer onde vai parar. Ela consolidou uma mudança. O boom dos games chegou para todo mundo, na palma da mão, com os smartphones e tablets. O mesmo pai que brigava para o filho viciado sair do quarto pode muito bem estar jogando Sudoku no celular.
A tendência "mobile" levou a Nintendo a comprar uma desenvolvedora de jogos para a plataforma e em breve devem chegar às telinhas jogos com - adivinha quem? - o Mário. Outra coisa certa: os jogos agora são online. Cada vez menos gente joga sozinha. Mesmo que esteja vidrado na tela, provavelmente tem alguém do outro lado também com olhos fixos no game.
- Vamos dizer que, "oficialmente", para eu não ter problemas, eu jogo duas horas por dia - diz Caio Gutierrez, 14 anos, sob a vigilância da mãe, Luiza, que está ao lado.
Ele é uma das 67 milhões de pessoas que jogam League of Legends, um título online em que equipes de cinco contra cinco se enfrentam por horas até alguém derrubar todos os adversários. E já sabe no que quer trabalhar. Vai tentar ser jogador profissional de games (que chegam a ganhar R$ 3 mil por mês) ou virar desenvolvedor de jogos.
Foto: Marco Favero
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O que esperar do futuro dos games
As apostas são variadas, mas até 2020 há algumas tendências que podem se concretizar. Jogos educativos, para aprender Biologia, Matemática, o que for, estão pipocando na internet. E há plataformas de saúde que estão usando recursos de games para te convencer a se cuidar melhor.
Mas tem uma outra coisa em que Google, Microsoft e Facebook apostam. É a realidade virtual, óculos que colocariam você dentro desse mundo. Talvez se torne realidade, ainda nesta geração, o sonho de todo gamer: estar dentro de um jogo.
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