Difícil encontrar um morador de Caibaté que não conheça alguém que tenha contraído dengue nos últimos dois meses. O município de apenas cinco mil habitantes, distante 58 quilômetros de Santo Ângelo, é o recordista de casos neste ano no Rio Grande do Sul, com 176 confirmações. Para muitos caibateenses, o número seria ainda maior se todos que apresentaram os sintomas tivessem procurado atendimento.
- A maioria das pessoas que conheço se queixou de dores fortes no corpo ou febre alta nas últimas semanas, mas se tratou em casa, pois sabia que o hospital da cidade estava cheio - diz Rafael de Oliveira, 23 anos, que teve dengue no início de março.
Na casa dele, o Aedes aegypti causou a internação também mais a mãe, Ilce Teresinha, e o irmão mais novo, de oito anos. A mãe passou quatro dias no hospital.
- Tinha vezes que doía tanto que achei que não fosse aguentar. Olhava para os lados e via o hospital cheio, com filas de gente esperando um leito. Nunca vi nada parecido - lembra Ilce.
Rafael e a mãe Ilse, que ainda se sente fraca e incapaz de retomar afazeres na lavoura após contrair dengue. Foto: Ricardo Duarte.
Nas últimas semanas, pais foram chamados a creches e escolas para assistir a palestras sobre riscos e prevenção da dengue. Parte das lanchonetes e dos mercados fecham em alguns turnos porque funcionários ficaram doentes e não podem trabalhar. Os dois postos de saúde da cidade passaram a abrir à noite para dar conta de todo o trabalho. Nos restaurantes e nas varandas das casas, a conversa é sobre quem se infectou nos últimos dias e onde foram encontradas larvas do mosquito.
Caminhadas suspensas
As caminhadas de final da tarde de Tainara Willers, 22, com o filho de um ano pela praça da matriz de Caibaté foram suspensas. Agora, ela vai direto do trabalho para casa, e não deixa de passar repelente nela e na criança.
Tainara - em coro com boa parte dos moradores - reclama que os casos da doença precisaram chegar às dezenas para que as autoridades sanitárias tomassem providência. O aposentado Ramón Pires da Silva, que tem dois vizinhos de porta infectados, disse que até março não havia recebido um técnico da Secretaria Municipal da Saúde sequer.
Em vídeo, entenda como o mosquito da dengue se prolifera:
O prefeito Remi Sérgio Birck (PPS) assegura que os funcionários trabalham desde janeiro em vistoria a residências e orientação a moradores sobre como evitar a reprodução do mosquito. Mais de 600 casas foram visitadas naquele mês, mas, em muitos casos, os próprios moradores impediam a entrada dos agentes, afirma.
- Tivemos um técnico que se afastou no final do ano passado e prejudicou o combate à dengue. Ficamos com apenas um especialista. Agora, estamos com equipes reforçadas trabalhando para resolver o problema - diz Remi, para quem o surto está superado.
Técnicos da 12ª Coordenadoria Regional da Secretaria Estadual da Saúde (CRS), que opera na região, passaram a visitar a cidade em intervalos de poucos dias para bloquear a reprodução do mosquito. Foram sete rodadas de envenenamento desde o início de março. A Brigada Militar e os bombeiros entraram em campo: junto a agentes da prefeitura, percorrem casas e rastreiam pátios em busca de focos da larva do mosquito e água parada. Algumas residências passaram a receber visitas diárias.
- Os resultados aparecem. Até o início de abril, Caibaté vinha apresentando de 20 a 30 casos suspeitos por dia. Hoje, são em média dois por dia, e muitos não se confirmam - diz Elson Pedro Resende da Silva, responsável pelas ações de combate à dengue da 12ª CRS.