Um abraço da vida pode curar a dor de mortes tão trágicas quanto as das vítimas do acidente na Serra Dona Francisca para, então, como diz a autora do livro Deixe-me Partir _ um Conforto para quem Perdeu um Ente Querido (Petit Editora, 232 páginas, R$ 29,90), deixar o luto e ir à luta.
Tânia Fernandes de Carvalho escreveu o livro a partir das experiências em um grupo de apoio a enlutados, chamado Encontro Amigo.
Para ela, é preciso viver a dor e depois se permitir voltar a ser feliz, trocando o olhar do pesar pelo da saudade. Já no título da obra, Tânia coloca o leitor no lugar de quem se foi.
_ É o pedido de quem parte: se você me ama, deixe-me partir _ afirma.
Permitir a despedida, diante da morte, é a atitude única para o momento. Tânia sabe que diante da partida não há nada que parentes das vítimas possam fazer, além de se resignar e orar. A tragédia que teve 51 mortes e enlutou catarinenses de Porto União e paranaenses de União da Vitória chegou aos ouvidos da escritora em São Paulo como história narrada pelos jornais.
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Ela aprendeu a lidar com este tipo de situação com a vida e a experiência no grupo de enlutados, vinculado a um centro espírita. Quem vive o espiritismo acredita que "não há morte", mas que "as pessoas continuam a vida em outro patamar".
Tânia ressalta que, mais importante do que se vincular a uma doutrina neste momento, é procurar apoio espiritual, principalmente diante de mortes consumadas de forma tão violenta.
_ A maioria das pessoas religiosas briga com Deus numa hora dessas _ constata
Tânia, que ressalta que a revolta é uma das fases do luto. Portanto, isso é natural.
No livro, a autora descreve "negação e isolamento" como a primeira das etapas de quem veste de negro os sentimentos. Os familiares das vítimas do acidente na Serra Dona Francisca, de acordo com ela, podem estar nesta fase da dor, de não acreditar e se fechar para o mundo. Não necessariamente viverão todas as outras _ de raiva, barganha, depressão e aceitação _, mas passarão por alguns desses estágios de enlutamento.
O mais importante e libertador é aceitar. Ela alerta que o luto, quando vivido por mais de seis meses, passa a ser considerado patológico, portanto, os familiares devem ficar atentos.
Atenção às crianças
Para Tânia, as crianças precisam receber atenção especial neste momento de dor e viver também o luto.
Nada de dizer que o familiar virou estrelinha, porque os mais crescidos não acreditam nisso. Nem usar a frase tão comum "Deus levou", pois ela pode despertar nos pequenos "uma luta eterna contra Deus".
_ A morte é o momento de dor mais superlativo da criatura humana. E o luto é essa dor causada pela morte de alguém _ entende a escritora.
O QUE FAZER
Como agir ao lado de alguém que está de luto?
- Estar disponível para ouvir, pois a pessoa precisa esvaziar esses sentimentos. Falar sobre o luto ajudará muito. Estudos mostram que quando as pessoas não lidam com esses sentimentos, a dor não passa.
- Permitir que a pessoa chore.
- Dependendo da fase do luto, apenas ficar ao lado da pessoa, segurar sua mão e mostrar que está junto e que ela não está sozinha. Muitas vezes, as palavras só atrapalham nesse momento.
- Oferecer possibilidades de ida a psicólogo/médico, grupo de acolhimento, visita a locais que possam estimular a pessoa a prosseguir com trabalho voluntário, por exemplo.
Cinco fases do luto
1 Negação e isolamento.
2 Raiva.
3 Barganha (negociação).
4 Depressão (dor-desespero).
5 Aceitação.