O resultado de dois laudos que faltavam no inquérito que apura a morte do torcedor do Novo Hamburgo Maicon Doglas de Lima, 16 anos, em fevereiro, reforça a tese da investigação: os tiros que atingiram o jovem pelas costas partiram da Brigada Militar. O promotor de Justiça que atua no caso, Sérgio Luiz Rodrigues, anexou as novas provas ao recurso que pede a prisão preventiva de quatro PMs envolvidos no episódio, que já estiveram temporariamente detidos, mas foram soltos por decisão da Justiça.
Maicon foi morto no dia 1º de fevereiro, na saída do jogo entre Novo Hamburgo e Aimoré, em São Leopoldo, durante uma briga de torcedores que teve atuação da Brigada Militar para conter o tumulto.
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Conforme o promotor, o primeiro laudo entregue pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) nesta sexta-feira comprovou que um estojo de munição calibre .40, encontrado a cerca de 20 metros de onde Maicon foi baleado, partiu de uma das cinco armas da BM que foram apreendidas durante as investigações. O segundo, confirmou que o projétil apresentado pelos brigadianos como sendo a bala retirada do corpo do jovem, foi substituído por um de outro calibre: uma munição .380.
Conforme o titular da Delegacia de Homicídios de São Leopoldo, delegado Vinicius do Valle, que conduziu a apuração pela Polícia Civil, dois outros laudos já haviam confirmado a troca da bala - não havia traços de material biológico e de sangue no projétil analisado.
Recurso do Ministério Público pede prisão de PMs por morte de torcedor
O promotor ressalta que as novas provas serão anexadas ao recurso que pede prisão preventiva de quatro PMs envolvidos no caso. A solicitação foi negada no último dia 5 e os brigadianos, que estavam temporariamente detidos, foram soltos. Os PMs Fabiano Francisco Assmann e Moyses Augusto Ribeiro Stein, estavam recolhidos no Presídio Policial Militar, na Capital, desde o dia 4 do mês passado e Angela Peppe Christofari e Ulisses de Matos Quos, desde o dia 13. A libertação foi concedida pelo titular da 1ª Vara Criminal de São Leopoldo, juiz José Antônio Prates Piccoli _ o mesmo que havia decretado as prisões temporárias.
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No despacho que determinou a soltura dos brigadianos, o juiz considerou que, apesar do "fato gravíssimo", não haviam "requisitos essenciais para o decreto de prisão preventiva". "A prova indiciária ainda é extremamente frágil, não há auto de necropsia, tampouco balística para que se possa aferir a origem dos projetis", escreveu o juiz. As novas evidências, segundo o promotor, aumentam as chances de o magistrado modificar seu despacho anterior:
- Quando o juiz negou o pedido, se reportou especificamente sobre a ausência do auto de necropsia, que já temos, e dessas perícias balísticas. Agora, não há mais essa carência - afirma Rodrigues.
Policiais foram recepcionados com bolo no batalhão (Reprodução/Facebook)
As imagens da festa organizada no 25º BPM, para recepcionar os quatro PMs após sua libertação também serão anexadas ao processo. Conforme o promotor, as fotos postadas no perfil da Comunicação Social do batalhão no Facebook reforçam o sentimento de impunidade pela soltura dos brigadianos. A página foi apagada da rede social.
- Creio que a festa é inoportuna e inconveniente, especialmente pela própria exploração institucional da confraternização, demonstrando desprezo, indiferença e absoluta desconsideração com o momento de dor e sofrimento vivido pela família da vítima - declarou o promotor.
A reportagem tentou contato com o comando do 3º Batalhão de Polícia Militar (3º BPM), que conduz um inquérito policial militar sobre o caso, mas o tenente-coronel Luiz Fernando Rodrigues não atendeu às ligações em seu celular.
O advogado de defesa de cinco nos nove PMs indiciados pela Polícia Civil, Jairo Luís Cutinski, afirma que só poderá se manifestar na segunda-feira, após ter acesso aos autos do processo.
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ENTENDA O CASO
- Em 1º de fevereiro, Maicon Doglas de Lima, 16 anos, foi baleado após briga entre torcedores dispersada pela BM, em São Leopoldo. Morreu no Hospital Centenário.
- No início da investigação, em depoimento à Polícia Civil, um PM admitiu ter feito disparos com munição comum, alegando legítima defesa. Surgiu ainda a suspeita de que um dos projéteis retirados com marcas de sangue do corpo do jovem teria sido trocado por outro com traços de concreto.
- No dia 3, a Polícia Civil divulgou vídeo de câmeras do hospital mostrando que quatro PMs entraram na sala onde o rapaz foi atendido. Veja:
- No dia 4, a Justiça decretou a prisão de dois PMs - Fabiano Francisco Assmann e Moyses Augusto Ribeiro Stein. No dia 13, outros dois foram presos: Angela Peppe Christofari e Ulisses de Matos Quos.
- No dia 26, a Polícia encerrou o inquérito indiciando nove brigadianos. Também foi pedida conversão da prisão temporária dos quatro PMs detidos em preventiva.
- Na quinta-feira, o pedido foi negado, e os quatro PMs foram soltos.
- Na segunda-feira, eles foram recepcionados em confraternização no 25º BPM. No mesmo dia, o MP entrou com recurso pedindo a prisão preventiva dos PMs.
Postagem no Facebook registrou apoio dos colegas (Reprodução/Facebook)
- Nesta sexta-feira, laudos de perícia confirmaram que um estojo de munição .40, achado próximo do local onde o jovem foi baleado, partiu de uma arma da BM. Outro lado confirmou que o projétil apresentado pelos brigadianos que sendo o retirado do corpo de Maicon foi substituído por uma munição .380 sem traços de sangue ou material biológico.
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