Impulsionado pelo custo do combustível, o dragão voou alto em fevereiro e agora a inflação acumulada chega a 7,7% em 12 meses, a maior taxa desde 2005. A disparada do dólar e o reajuste extraordinário nas contas de luz deve impulsionar os preços em março ainda mais para cima, afirmam especialistas.
Foi o pior resultado para o mês de fevereiro em 12 anos, conforme aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): 1,22%. Só nos dois primeiros meses de 2015, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já superou 50% da meta oficial do governo para todo o ano, 4,5%.
Para março, analistas não descartam novamente uma taxa ao redor de 1%. O aperto nas contas públicas e a alta mais acentuada na taxa de juros, remédios eficazes no combate ao avanço de preços, deve ter impacto mais efetivo apenas no segundo semestre. Caso se confirme, um esfriamento no mercado de trabalho também ajudaria a puxar o dragão para baixo antes do final do ano.
-A realidade tarifária parece nociva no curto prazo , mas é necessária. Resultará em uma tendência declinante da inflação a partir de meados de ano, com melhora no cenário econômico para 2016 - afirma o professor de macroeconomia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Pedro Raffy Vartanian.
Para os gaúchos, o impacto esperado para março deve ser ainda mais pesado. O primeiro choque é na conta de luz. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) concedeu reajustes extraordinários à todas as distribuidoras do país para compensar os custos financeiros das empresas com a compra de energia de termelétricas.
A revisão do custo da energia varia em cada região. No Norte e Nordeste foi de 5,5%, mas para Sul, Sudeste e Centro-Oeste foi bem mais alta. O maior reajuste do Brasil foi no Rio Grande do Sul com a AES Sul - 39,5%. Já a RGE teve a quinta maior alta tarifária do país, de 35,5%. A CEEE teve alta de 21,9%, um pouco abaixo do reajuste médio nacional.
Entra na conta ainda os aumentos no transporte público em várias capitais. Em Porto Alegre, o reajuste foi em 10,85%
Vilã de março, a gasolina pode voltar a assombrar com o retorno da Cide. O aumento do tributo federal sobre os combustíveis está nos planos do Ministério da Fazenda para cumprir o prometido ajuste fiscal. Com a relação estremecida entre Planalto e Congresso, seria uma alternativa ainda mais atraente para o governo que não precisaria de aprovação dos parlamentares para aumentar a arrecadação.
POR QUE A INFLAÇÃO NÃO CEDE?
Energia e combustível
Durante todo o ano de 2014 o governo evitou reajustar os preços controlados pelo Estado (luz, energia e transporte público) para evitar impacto nas urnas. Passadas as eleições, os repasses para a tarifa começaram. Primeiro foi a conta de luz que ficou mais cara para compensar o uso das termelétricas, mais dispendiosas que as hidrelétricas, cada vez com menos água. Mais recentemente foi a gasolina e o diesel. Tanto a energia quanto combustível geram um efeito cascata de aumentos já que impactam no custo de produção das empresas que repassam para as mercadorias.
Alimentação
A seca que afeta boa parte da região Sudeste do país impacta diretamente na produção de alimentos já que diminui a oferta. Com aumento no custo na criação de animais, a carne também ficou mais cara. A paralisação dos caminhoneiros por duas semanas em fevereiro, que restringiu a entrega de mercadorias em diversos Estados, também alimenta o dragão.
Produtos industrializados
A conta de luz mais cara tem grande impacto no desempenho da indústria, pois a energia é um insumo bastante utilizado nas fábricas. O custo de produção mais alto, que pressiona os preços para acima.
Dólar
A moeda americana valendo mais torna a exportação de produtos mais vantajosa. Com parte da produção brasileira indo para o Exterior, diminui a oferta de produtos vendidos dentro do Brasil.
Emprego
Apesar do ritmo de novas vagas ter caído, os índices de emprego continuam estáveis. Com mão de obra escassa no mercado fica mais caro para as empresas contratar e a despesa é repassada para o consumidor. Sem concorrência de importados, os serviços respondem de forma mais lenta à lei de oferta e procura e à alta do juro.
Juro
Remédio mais eficaz no combate à alta de preços, a taxa básica de juro não tem conseguido segurar a inflação porque os preços tem sido impulsionados em boa parte pelos serviços, que respondem de forma bem mais lenta à lei de oferta e demanda. Desde abril de 2013 já foram 13 aumentos na taxa e com o resultado de fevereiro a chance de novo reajuste em abril cresce.