No RU do Centro, páginas afixadas nas portas anunciavam que serviço deve ser normalizado em meados de março (Félix Zucco / Agência RBS)
Na retomada das aulas em universidades federais, alunos estão sendo surpreendidos com uma novidade que não consta no calendário acadêmico. Com menos verbas neste início de ano por conta de uma ordem de contingenciamento do governo federal, que afeta também o Ministério da Educação, as instituições estão tendo de encontrar maneiras de reduzir os gastos - e os reflexos podem não demorar a aparecer na vida acadêmica.
Na volta às aulas da UFSM, ordem é de conter os gastos
A ordem nas instituições de Ensino Superior em 2015 é economizar. O repasse destinado às federais em janeiro e fevereiro foi de apenas um terço do esperado e, enquanto a Lei Orçamentária Anual não é aprovada pelo Congresso Nacional - o que deve acontecer ainda neste mês -, é preciso conter as despesas. O contingenciamento neste início de ano chega a 30% do orçamento habitual, impedindo planos de expansão e restringindo investimentos na educação universitária.
Planalto corta gastos de ministérios e educação é a área mais atingida
Bloqueio do orçamento retém R$ 1,9 bilhão ao mês
No Estado, as universidades federais garantem que a contenção não deve afetar diretamente os estudantes. Conforme os reitores, as ações de assistência estudantil - como bolsas e moradia - permanecem com o mesmo orçamento do ano passado. Ajustes, contudo, estão sendo feitos em outras áreas. Água, luz, telefone e diárias são alguns dos gastos que as administrações procuram diminuir, em um ano em que a expectativa, mesmo com a aprovação da Lei Orçamentária, é de aperto nas contas.
- O valor de 2014, por si só, já seria causador de impacto para as universidades. Com novos prédios, novos alunos, temos mais gastos. Neste ano, porém, não será possível nenhum quadro de expansão, apenas de manutenção - analisa a reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Miriam da Costa Oliveira.
Volta às aulas sem restaurantes universitários na UFRGS
Para os alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o primeiro dia de aulas foi ainda mais atípico. Com problemas na contratação de uma empresa terceirizada para prestar o serviço, os restaurantes universitários (RUs) sequer abriram na segunda-feira, e a creche para filhos de funcionários e estudantes atende sem servir lanche às crianças. Depois de três empresas desistirem ou terem sido desqualificadas nos últimos meses, a Ondrepsb foi escolhida há apenas algumas semanas para prestar serviços à universidade.
Marta Sfredo: Levytando, muito além dos cortes
Sem tempo hábil para capacitar os 221 funcionários necessários para atender a comunidade acadêmica, a previsão é de que só a partir de 16 de março os primeiros restaurantes - dos campi Centro e Vale - comecem a funcionar, com os demais retomando as atividades até o final do mês.
- É uma infelicidade que isso aconteça exatamente nesta época, mas a questão dos RUs não tem nada a ver com a redução do orçamento - garante o reitor em exercício da UFRGS, Rui Vicente Oppermann. - A orientação que estamos passando é de economia de energia e água, inclusive com monitoramento de consumo. Mas ninguém vai ficar às escuras ou sem ar-condicionado - completa o vice-reitor.
Matrículas do Sisu apontam mudança de perfil entre alunos da UFRGS
Sisu: 54,7% dos aprovados em Medicina na UFRGS vêm de SP
Apesar de garantir que as contingências orçamentárias não afetarão os estudantes, a UFRGS vai promover encontros para recomendar a contenção de despesas. Os serviços terceirizados são os primeiros afetados, mas a avaliação da reitoria é de que o impacto neste início de ano não foi tão grande em função de um remanejamento interno prévio.
Mesmo sem previsão de receber mais verbas, a universidade afirma que todas as obras já empenhadas - com recursos garantidos - serão concluídas. Novos projetos, porém, como a planejada biblioteca do Campus do Vale, devem ficar para depois.
A contenção nas instituições
Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg)
A Furg explica que está reavaliando seu planejamento para se adaptar à nova situação de maior economia de recursos. A universidade afirma que não recebeu ordem de retirar nenhum serviço e nem prevê mudanças no atendimento aos alunos.
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)
A reitora Miriam da Costa Oliveira diz que a universidade deve se adequar ao contingenciamento de 30% durante todo o ano, focando na restrição de gastos com diárias e passagens, além de programas de racionamento de energia. Ela avalia, porém, que o cenário é restritivo, e dificulta a expansão da UFCSPA.
Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
O reitor da UFPel, Mauro Del Pino, garante que a restrição do orçamento em janeiro e fevereiro não causou impacto na vida universitária. Em relação a serviços terceirizados, como limpeza, ele garante que "os recursos foram suficientes". Se o Congresso aprovar o orçamento, a tendência é de que a universidade não tenha problema com verbas.
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Para alunos, professores e funcionários, o corte de 33% no orçamento da Federal significará economia em luz, água, diárias e viagens. Por causa do corte, os servidores não irão trabalhar nesta terça-feira e se reunirão para protestar por reajuste salarial.
Universidade Federal do Pampa (Unipampa)
Conforme a reitoria da Unipampa, a universidade está com todos os serviços em funcionamento e sendo pagos enquanto aguarda a votação da Lei Orçamentária Anual. A reitoria explica que diárias e passagens para congressos geralmente são despesas cobertas por recursos obtidos junto a órgãos de fomento pelos próprios interessados nos eventos.
* Zero Hora