A carreira do ator Cláudio Marzo, morto na madrugada deste domingo, aos 74 anos, acompanha a história da teledramaturgia brasileira. Em 50 anos de carreira, ele fez mais de 30 novelas, entre elas Irmãos Coragem, um marco dos folhetins televisivos.
Nascido em 26 de setembro de 1940, em São Paulo, filho de uma família de operários e descendente de italianos, Marzo abandonou os estudos aos 17 anos para trabalhar como figurante na TV Paulista. Depois, foi contratado pela TV Tupi.
Marzo tinha 25 anos quando foi convidado para trabalhar na Globo, integrando o primeiro grupo de atores contratados pela emissora, inaugurada em 26 de abril de 1965. Ele vinha de uma trajetória no teatro, especialmente com o Grupo Oficina. Sua estreia de destaque na emissora foi em A Moreninha (1965), de Graça Mello, novela da faixa das 19h.
"Sempre tive vontade de ser ator, achava uma coisa fantástica. Os atores me emocionavam. Achava interessante você transmitir emoções e consciência de mundo para as pessoas. Na época, eu acreditava, ingenuamente até, que o teatro pudesse modificar o mundo", recordou em 2000 em depoimento ao Memória Globo.
Sobre as primeiras experiências em televisão, quando as novelas ainda eram transmitidas ao vivo, comentou:
"Era muito emocionante, porque era ao vivo, não tinha a tecnologia. As coisas aconteciam na hora. Tinha certo calor de teatro. Você ensaiava o tempo que fosse necessário, ia lá e entrava em cena, como num palco: acendia a luzinha da câmera, você estava na casa do espectador. Podia errar, mas não podia corrigir. Era uma coisa vibrante".
Em 1969, Marzo atuou pela primeira vez ao lado de Regina Duarte em Véu de Noiva, de Janete Clair. O par romântico caiu no gosto popular. Marzo voltaria no ano seguinte como Duca, um dos irmãos Coragem na novela também escrita por Janete Clair. "Eu não queria fazer sucesso em televisão. Eu queria ser ator de teatro, entende? E achava que, na minha cabeça, na época, fazer sucesso em televisão era uma coisa que te queimava. Novela, televisão, isso era uma coisa inferior. Mas eu precisava trabalhar", comentou ao Memória Globo.
Nos anos 1980, Marzo se destacaria na novela Brilhante, de Gilberto Braga, ao interpretar o motorista Carlos, que vivia um romance com sua patroa, Chica Newman (Fernanda Montenegro). Marzo se afastou da Globo no início de 1988 e, na Manchete, estrelou as novelas Kananga do Japão, de Wilson Aguiar Filho, e Pantanal, de Benedito Ruy Barbosa. Nesta, deu vida a José Leôncio / Joventino Leôncio (Velho do Rio). Nos anos 1990, Marzo voltaria à Globo participando de novelas como Fera Ferida, de Walther Negrão, e no remake de Irmãos Coragem.
Além da TV e do teatro, Cláudio Marzo também fez uma série de trabalhos no cinema. Por sua atuação em O Homem Nu (1997), dirigido por Hugo Carvana, ganhou o prêmio de melhor ator Festival de Gramado.
O último papel que ele interpretou foi como o Capitão Guerra, da série Guerra e Paz, em 2009.