Maria Lucia trabalhando em obra da 5ª Bienal do Mercosul (Foto: Adriana Franciosi/Agência RBS/BD - 08/09/2005)
Um dos trabalhos da mostra Algumas Pinturas (Foto: Reprodução)
Maria Lucia Cattani, um dos nomes mais importantes da chamada geração 80 da arte gaúcha, morreu na madrugada desta sexta-feira, em Porto Alegre, aos 56 anos. Ela lutava há mais de um ano contra um câncer. A artista e professora está sendo velada na Capela B do Cemitério São Miguel e Almas (Oscar Pereira, 400). O enterro será realizado sábado, em Garibaldi, sua cidade natal, entre as 8h e 11h.
Nascida em 1958, artista visual e professora do Instituto de Artes da UFRGS na área de gravura com doutorado em Artes pela Universidade de Reading, na Inglaterra, Maria Lucia era casada com o artista inglês Nick Rands. Ela se iniciou artisticamente em pintura, mas logo ficou conhecida por seu trabalho gráfico e por livros de artista, vídeos e produções em outras linguagens.
- Difícil falar sobre o trabalho que faço. Procuro fazer trabalhos visualmente agradáveis - disse a ZH em 2009.
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Depois de participar de mostras individuais e coletivas no Brasil e na Europa, a artista apresentou na 5ª Bienal do Mercosul, em 2005, um de seus trabalhos mais marcantes. Maria Lucia passou quase dois meses, trabalhando de oito a nove horas por dia, dedicada uma tarefa intensiva e minuciosa: carimbou inúmeros quadrados coloridos em uma grande parede para depois cavoucar o reboco recoberto por tintas. O resultado, uma grande painel cujos efeitos óticos eram percebidos com a aproximação e o afastamento diante da obra, foi apresentado no Armazém A5 do Cais do Porto.
- É tudo matemático, mas bem simples. Me interessa a manualidade, preciso estar em contato com o trabalho, usar as mãos - disse a ZH na época.
Essa experiência marcaria sua produção seguinte. Maria Lucia voltou a se dedicar à pintura, mas mantendo no processo sua conhecida precisão nos métodos como artista gráfica. Daí uma possível indicação para os que veem em suas obras plásticas semelhanças com a gravura.
Em 2013, a artista apresentou na Galeria Gestual a exposição Algumas Pinturas, que dava uma amostra da sua produção mais recente com 11 obras que demonstravam seu gradual reencontro com a pintura nos últimos anos. As telas tinham marcas e texturas de tinta organizadas em linhas e estruturas abstratas, por vezes sugerindo escritos de um idioma específico.
- Brinco que é o "cattanês", uma escrita que tem a ver com meu gesto, que tem muito a ver com meu ritmo. Trabalho com essa questão da marca, de marcar com certo modo sistemático, obsessivo. Tem esse gesto. A questão gráfica me acompanha, e o estêncil me dá a possibilidade da repetição. É um trabalho intimista. Tem que chegar perto - disse Maria Lucia, em entrevista a ZH na ocasião.
(Foto: Paulo Garrido, Divulgação)
A exposição coletiva MAC 21 - Um Museu do Novo Século, atualmente em cartaz na Casa de Cultura Mario Quintana, apresenta um pouco da produção da artista. "Ela propôs que o trabalho fosse o seu Um Ponto ao Sul, uma caixa com 24 imagens gravadas, trabalho caracterizado pelo seu formato de livro de artista. Complementando o conjunto, a artista propôs outro trabalho seriado, consistindo em 24 varetas impressas e suspensas em um painel, caracterizados pelo mesmo rigor e refinamento artesanal", escreve o curador Paulo Gomes, no texto do projeto de aquisições de obras do Museu de Arte Contemporânea do Estado (MACRS) pelo Prêmio Marcantonio Vilaça, da Funarte.
O acervo do MACRS conta com cinco obras de Maria Lucia, entre gravuras, vídeo e livro de artista. Já o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) tem em sua coleção três gravuras da artista.
Foto de trabalho da artista na exposição MAC21 (Foto: MACRS, Divulgação)