Há cinco anos, Valmir Dias, 44 anos, e a esposa, Andréia Souza Pinto Cunha, 43, não poupam esforços para dar asas ao sonho do filho, Douglas Souza Dias: ser um esportista olímpico. Aos 12 anos, o pequeno atleta, que começou a lutar aos sete, é faixa preta de taekwondo e vem acumulando medalhas em competições que ultrapassam os limites de Cachoeirinha, onde a família mora, e do próprio Estado. Para custear as viagens do filho, a família recebe auxílio do Fundo Municipal do Desporto e Lazer (Fundesp). Mas, recentemente, ao ingressar com o pedido na prefeitura para receber verba visando a próxima competição, marcada para março, em Minas Gerais, foi solicitado, entre os documentos, uma certidão jurídica criminal. Ao retirar o atestado no Forum, veio o susto: constava que ele foi condenado pela Justiça de Garibaldi, na Serra, em 2006, em um processo criminal.
- Nem sei onde fica Garibaldi, nunca estive lá. O número da carteira de identidade que aparece como minha está errado. É o meu nome, minha filiação, minha data de nascimento. Mas o RG não é o meu. Acredito que tenham me confundido com outra pessoa com mesmo nome - explica o representante comercial.
Ao consultar um advogado particular, foi informado de que teria de arcar com um valor em torno de R$ 4 mil, além dos custos da ida a Garibaldi para tentar solucionar o problema. E ainda foi alertado:
- Ele me disse que eu poderia chegar lá e ser preso se fosse sozinho! Não tenho condições de pagar um advogado, nem de ir até lá. Se não tenho dinheiro nem para a viagem do meu filho, que é justamente o que estou tentando conseguir! - lamenta.
RG é de homônimo
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Aparentemente, há um erro nos dados pessoais que constam no processo. Com auxílio da Polícia Civil, o Diário Gaúcho descobriu que o RG no documento é de outro Valmir Dias, de 31 anos, natural de Itapiranga (SC) - e seus pais têm nomes diferentes do Valmir Dias gaúcho. O catarinense já foi preso em 2010, em Garibaldi, em cumprimento de mandado contra crimes de lesão corporal e ameaça. Também tem passagem por posse de entorpecentes.
Para o ex-presidente da OAB/RS, Luiz Carlos Levenson, tudo indica que seja uma situação envolvendo homônimos (duas pessoas com nomes idênticos). No entanto, o advogado não descarta outras possibilidades.
- Me parece que pode ter havido um erro na hora de consultar e registrar o RG, mas também pode ser o caso de uso de um documento falsificado. Não tem como apontar precisamente o que aconteceu sem uma análise apurada do caso, por meios judiciais. O ideal é que ele procure um defensor para esclarecer e regularizar a situação - esclarece Luiz Carlos.
Solução passa pela via judicial
A reportagem entrou em contato com o Tribunal de Justiça, que, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que uma investigação sobre alguma irregularidade no processo "não está em sua alçada" e indicou que o pai do menino, caso se sinta lesado, procure auxílio jurídico.
Por meio da sua assessoria de comunicação, a Defensoria Pública do Estado também informou que a maneira de tentar reverter essa situação é pela via judicial. E acrescentou que, caso não tenha condições financeiras de arcar com as despesas de um advogado, Valmir e outras pessoas que passem pela mesma situação podem recorrer aos serviços gratuitos do órgão.
Valmir seguiu a orientação, e a primeira consulta com um defensor público foi marcada para amanhã.
Custo alto e falta de patrocínio
Enquanto pensa em como resolver a sua situação jurídica, Valmir ingressou com novo pedido junto à prefeitura, desta vez, em nome da esposa. O casal foi chamado para uma reunião que acontece hoje na prefeitura e deve definir a liberação ou não do benefício. Se aprovado, o valor que o programa municipal disponibilizará para a viagem de Douglas é de R$ 1,5 mil.
O casal - que diariamente bate à porta de diversas empresas da cidade em busca de patrocínio para o atleta mirim - ainda tenta, por meios próprios, levantar a grana para poder acompanhar o filho na viagem.
- O custo é muito alto para mantê-lo no esporte, mas não vamos desistir. Já vendemos alguns objetos pessoais e estamos economizando qualquer dinheirinho que sobra no mês. É o futuro dele que está em jogo. Se nada der certo, vamos pedir um empréstimo, recorrer a tudo que pudermos, porque é o sonho dele e sabemos que ele tem talento e pode chegar lá - diz a mãe.
Pode ser o primeiro passo rumo à Olimpíada
Há três anos consecutivos, Douglas garante vaga na Seleção Gaúcha de Taekwondo. Agora, a viagem a Betim, em Minas Gerais, dará a ele a oportunidade de ingressar na Seleção Brasileira, caso se classifique na competição que reúne atletas de todo país. Ele é o único representante do Estado na sua categoria a participar da competição. O dedicado estudante da 7ª série do ensino fundamental, que treina cinco dias por semana, já planeja o futuro:
- Se eu conseguir entrar na Seleção Brasileira, vou disputar o Mundial, e se eu tiver uma boa classificação, posso ir para os Jogos de 2016. Eu acredito que vai dar tudo certo, tem que ter fé - diz o menino.
Para ajudar
Quem tiver interesse em patrocinar o pequeno Douglas ou auxiliar com a viagem a MG pode entrar em contato pelos telefones 9443-5642 ou 3399-0562.
Douglas conta como se apaixonou pelo taekwondo. Assista ao vídeo: