Uma olhada fixa na prancha de surfe antes de acariciá-la com parafina, para manter os pés firmes sobre ela. A tremedeira na hora de colocar sozinho o leash (corda com velcro que prende a prancha ao surfista) na perna esquerda. E é chegada a hora de enfrentar pela primeira vez o desafio de manter-se de pé sobre a prancha no mar. Segundos que pareceram uma eternidade para Nuno Silveira Prieto, nove anos, que ao lado de outros pequenos iniciantes no esporte fez sua primeira aula prática do projeto Bê-a-Bá do Surf, em Balneário Pinhal, no Litoral Norte, na semana passada.
Este é o sexto ano do projeto gratuito que já formou mais de 400 surfistas mirins, com idades entre sete e 14 anos, na região. Custeada pela prefeitura, a iniciativa tem parceria com a Associação de Surf de Balneário Pinhal (Aspi), a Associação de Surf de Magistério e o comércio local. Há dois anos, são criadas turmas em Magistério e Pinhal. As aulas ocorrem na beira da praia, de segunda à sexta-feira. Os alunos recebem uniforme, prancha soft (mais leve e apropriada para quem é iniciante) e lanche (suco e barra de cereal) ao final de cada aula.
- O objetivo é formar novos surfistinhas e espalhar a filosofia principal do surfe: ter respeito pelo meio ambiente e, principalmente, pelo próximo, seja dentro ou fora da água - explica o professor Marne Alvares Sieben, surfista há 30 anos.
Na tarde em que Nuno estreou no surfe, acompanhado do professor, chovia fraco e ventava. Para Marne, o dia ideal para a prática porque não havia sol forte. Para Nuno, motivo para bater o queixo depois de sair da água. Nem assim o guri deixou de experimentar algumas vacas (quedas, na gíria dos surfistas). Na primeira tentativa, Nuno deslizou ainda deitado. Os olhos arregalaram, mas o sorriso era de satisfação.
Nuno deslizou faceiro até quase encontrar a orla
A segunda foi mais desafiadora. Concentrado, Nuno chegou a subir, mas desequilibrou e tombou. Foi na terceira, e última tentativa antes de voltar para a areia, que o guri conseguiu o que queria. Depois de ouvir os conselhos de Marne, Nuno encontrou a onda certa, ficou em pé em segundos e, de braços abertos para ter estabilidade, deslizou faceiro até quase encontrar a orla.
- A sensação que eu tive foi "já tô no ar!", "tô voando!" - comentou.
Litoral Norte
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