Se o plantio de soja fora de época ainda é arriscado em razão do clima no Rio Grande do Sul, nas áreas irrigadas o risco é reduzido, e o êxito da lavoura, praticamente garantido. Na Fazenda Boa Vista, em Chiapetta, a safrinha da oleaginosa começou a ser semeada na semana passada em 300 hectares irrigados com sistema de pivô central e cultivados com milho no mesmo ciclo. Este é o quarto ano em que a propriedade investe na janela de plantio dentro do ciclo de verão.
- A cada safra, estamos conseguindo aumentar o rendimento por hectare - diz Raul Nichel, 29 anos, que colheu 35 sacas de soja por hectare na safrinha de 2014.
Com o plantio do milho antecipado em 10 dias, em agosto, Nichel conseguiu começar a colher o cereal na primeira quinzena de janeiro. Em 2014, a colheita do milho só começou após o dia 20.
- Quanto mais tardio for o plantio em janeiro, menor será o potencial produtivo da cultura - destaca o agricultor, que no total cultiva 700 hectares de milho, dos quais 550 irrigados.
Além de encurtar o ciclo do milho, neste ano Nichel selecionou, com a ajuda da irmã, Gabriela, 20 anos, estudante de Agronomia, cultivares de soja mais adaptadas ao clima do período.
- Esperamos colher pelo menos 45 sacas por hectare na safrinha - estima Nichel.
Com pivôs de irrigação com 800 metros de extensão, abrangendo 134 hectares, a propriedade investiu na tecnologia há cinco anos. Aliado à adubação do solo por meio da agricultura de precisão, conseguiu fazer o rendimento das lavouras dobrar nos últimos anos, alcançando a média de quase 250 sacas por hectare.
- Chegamos onde nós queríamos em níveis de fertilidade do solo - completa o produtor, que na próxima safra pretende reduzir a área de milho para 500 hectares, deixando 1,2 mil hectares para o cultivo da soja.
Na fazenda Boa Vista, o custo da lavoura de milho no sequeiro é de R$ 2,6 mil por hectare, com rendimento de 130 sacas. Na área irrigada, o custo é de R$ 3,3 mil, com rendimento de 240 sacas.
Dica de especialista
1) Se a intenção é fazer a safrinha de soja após a colheita do milho, não se deve usar variedades resistentes ao glifosato nos dois cultivos. É recomendável deixar a resistência ao glifosato para a soja e usar variedade resistente a outro herbicida no milho. Isso evita problemas no manejo de plantas daninhas.
2) É importante respeitar áreas de refúgio recomendadas para milho com gene Bt (resistente a insetos). Ou seja, semear 10% com milho não Bt ou convencional. Na safrinha de soja, a recomendação é manter áreas de refúgio de 20%.
3) A segunda safra exige maior monitoramento de pragas e doenças. Isso porque as lavouras germinarão com outras em estágios de desenvolvimento mais avançados, quando a incidência de fungos e insetos é maior.
4) Escolha cultivares de soja com ciclos curtos, em torno de cem dias, e genótipos que consigam um bom desenvolvimento vegetativo com a semeadura no tarde.
5) O plantio direto e a irrigação são recomendados para reduzir o risco do cultivo da soja fora do período comum.
6) É importante lembrar que o plantio fora do zoneamento agroclimático não é coberto por seguro agrícola.
Fonte: Ana Cláudia de Oliveira, pesquisadora da Embrapa
Sistema de irrigação israelense em lavouras gaúchas
Sistema subterrâneo levou quase dois anos para ser instalado e faz com que Ademar (D) e Geovani estimem colheita 56% maior neste anoFoto: Diogo Zanatta, especial
Com 34 quilômetros de mangueira enterradas na propriedade em Horizontina, mais do que a distância até o município vizinho de Três de Maio, a família Zappe começa a colher o resultado de uma tecnologia desenvolvida nos desertos de Israel e ainda pouco difundida na agricultura brasileira. O sistema de irrigação por gotejamento, instalado em 29 hectares cultivados com milho, tem eficiência de 95% no uso da água, com economia de energia na comparação com o modelo tradicional, de pivô central.
O pioneirismo na adoção da técnica no noroeste gaúcho fez a lavoura de Ademar Zappe ser a escolhida para receber a abertura oficial da colheita de milho no Rio Grande do Sul, na última sexta-feira, com a presença de líderes do agronegócio e de autoridades políticas, inclusive do governador José Ivo Sartori. O produtor espera concluir a primeira safra irrigada com uma média de 250 sacas por hectare, 90 sacas a mais do que na área de sequeiro colhida no ano passado.
- A nossa área é muito desuniforme, o que dificultava a instalação de um pivô central. - conta o produtor, que recebeu incentivo do filho agrônomo Geovani Zappe, 30 anos, para investir na tecnologia israelense.
Com custo de R$ 15 mil por hectare, o dobro do pivô central, o sistema levou quase dois anos para ser instalado na fazenda Rincão das Tunas, com área total de 65 hectares.
- Com o ganho de produtividade nas lavouras, esperamos ter o retorno do investimento em, no máximo, cinco anos - complementa Ademar.
Após colher o milho irrigado por gotejamento, o produtor irá testar agora a tecnologia na safrinha de soja.
- A irrigação nos traz mais segurança para investir nesta segunda safra, com estabilidade de produção - afirma Geovani.
Além de fornecer a quantia exata de água necessária para o desenvolvimento das plantas, o sistema permite atrelar a irrigação com a fertilização, a chamada fertirrigação (técnica de adubação que utiliza a água da irrigação para levar nutrientes ao solo cultivado). Pelos gotejadores as lavouras conseguem receber também adubo, conforme a necessidade do solo.
- Fizemos apenas uma aplicação aérea de fertilizantes, as demais foram feitas pelas mangueiras subterrâneas - conta Ademar, que usa técnicas de agricultura de precisão na lavoura, com pelo menos uma amostragem de solo por hectare.
Como funciona o gotejamento por precisão
1) O sistema automatizado consiste em retirar água de reservatório, filtrá-la em tanques (foto abaixo) e distribuí-la pela lavoura em mangueiras com gotejadores distante 50 centímetros um do outro e programados por torres de controle.
2) A irrigação subterrânea permite que a planta receba a quantia exata de água para seu desenvolvimento. Em períodos de estiagem, pode irrigar durante 21 horas por dia, liberando em média um litro de água por hora.
3) Por ser subterrânea, a estrutura não atrapalha a colheita mecanizada.
4) Segundo especialistas, a tecnologia israelense usa 40% menos de água na comparação com o sistema de pivô central, que faz a irrigação por aspersão em vez de gotas.
5) O sistema permite ainda atrelar a irrigação à fertilização, utilizando os gotejadores para adubar o solo.