Apesar de se orgulhar por tratar de forma implacável o tráfico de drogas, punindo com a pena de morte quem se associa a esse crime, a Indonésia é um país conhecido por ser conivente com outros delitos e por ter modestos índices de desenvolvimento humano, corrupção alta e desigualdade social.
A execução de Marco Archer, na ilha de Nusa Kambangan, ocorreu em um contexto de mudança de governo e serviu para confirmar o discurso do novo presidente, Joko Widodo, de tolerância zero com o tráfico. Esses foram os primeiros presos mortos no governo de Widodo, que tomou posse em outubro de 2014, e desapontou ativistas dos direitos humanos ao manifestar apoio à pena de morte.
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A política de executar traficantes, porém, se mostra incoerente em relação a crimes mais graves, como o terrorismo. A Indonésia aliviou a pena do radical Umar Patek, que elaborou explosivos utilizados em um atentado em Bali, em 2002, que matou mais de 200 pessoas, a maioria estrangeiros.
No momento, o mesmo governo que matou Archer tenta evitar que a Arábia Saudita execute Satinah Binti Jumadi Ahmad, uma trabalhadora doméstica indonésia que está no corredor da morte naquele país desde 2010 por matar e roubar o seu patrão.
O combate ao tráfico foi a principal bandeira de Widodo durante a campanha eleitoral. O novo presidente acredita que a pena de morte aos traficantes pode servir de exemplo, ajudar a construir o caráter nacional e, a longo prazo, acabar com esse tipo de delito. Widodo chegou a dizer que o país está em "estado de emergência por causa das drogas". Segundo o governo indonésio, outras 20 execuções estão previstas para este ano.
Analistas internacionais apontam, entretanto, que a morte de criminosos tem grande apoio popular na Indonésia, que tem 88,2% da população adepta do islamismo. Widodo é o primeiro líder do país sem laços com o regime autoritário de Suharto, ditador que comandou a nação entre 1967 e 1998 e ajudou a eleger os três presidentes que antecederam Widodo.
Uma das heranças do regime autoritário é a corrupção. Em um estudo da Transparência Internacional divulgado no ano passado, 89% dos entrevistados disseram que o parlamento da Indonésia é corrupto ou extremamente corrupto. Questionados sobre a sensação de corrupção, 54% afirmaram que ela aumentou nos últimos dois anos.
O país de mais de 230 milhões de habitantes, o quarto mais populoso do mundo, ocupa apenas o 108º lugar no último ranking de Desenvolvimento Humano divulgado pela ONU, atrás do Brasil, que está na 79ª posição.
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