Só se surpreende com o laudo inconclusivo sobre a morte de João Goulart quem embarcou na fantasia de que ele fora envenenado no exílio. Desde o início, a lógica indicava que seria perda de tempo, dinheiro e energia desenterrar o ex-presidente para tentar identificar vestígios de substâncias letais, que teriam sido administradas a mando do governo militar.
O laudo diz que os dados clínicos e as circunstâncias da morte de Jango são compatíveis com causas naturais. E que os exames toxicológicos não encontraram sinais de nenhuma das 700 mil substâncias testadas.
É fato que em 1976 o ataque cardíaco foi apontado como causa mortis sem exames acurados. Também é fato que as ditaduras do Cone Sul agiam em sintonia, mas, se fosse para matar alguém, o alvo não seria Jango, um homem pacato que abdicara de lutar pelo cargo para evitar derramamento de sangue.
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Se os militares quisessem tirar do caminho um exilado que representava perigo, o alvo seria Leonel Brizola, que conspirava, mantinha relações políticas com Cuba e tinha sede de poder. Jango não representava perigo. Não é preciso de um laudo para afirmar que, na prática, a ditadura matou Jango.
O exílio arrebentou-lhe os nervos, a ponto de não cuidar da alimentação, negligenciar o tratamento e se recusar a viajar para a Suíça, onde teria um tratamento de Primeiro Mundo. Diante do resultado dos exames, o governo e a família Goulart devem permitir que Jango, enfim, descanse em paz.
Antes da divulgação do laudo, a ministra Ideli Salvatti disse à Rádio Gaúcha que, mesmo se o resultado fosse inconclusivo, não ficaria frustrada porque a exumação mostrou a força da democracia e permitiu dar ao ex-presidente um enterro digno, com as honras de chefe de Estado que lhe foram negligenciadas em 1976, no sepultamento em São Borja.
Opinião
Rosane de Oliveira: que Jango descanse em paz
Colunista é a titular da Política+
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