O incêndio no CTG Sentinelas do Planalto despertou a solidariedade de moradores de Santana do Livramento. Desde o início da manhã e ao longo da tarde, uma pequena colmeia de pessoas trabalha para reerguer as paredes destruídas pelo fogo. No início da noite desta quinta-feira, todo o entulho que resultou do incêndio já havia sido removido pelos integrantes do Sentinelas e por voluntários.
Aos poucos, desembarcaram no local sacas de cimento e madeiras para reconstrução do prédio. O madeirame do telhado ainda fumegava quando o casal de mulheres Gislaine Moura de Vargas, 41 anos, e Maria Inês Machado, 26 anos, se apresentou para ajudar na reconstrução. Ambas estavam revoltadas com o incêndio.
- O preconceito é geral, é como se a gente não existisse. Então, quando tentam fazer algo por nós, acontece isso - lamentou Gislaine, que tem um brique de móveis em Livramento.
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As duas não iriam se casar, mas frequentam o CTG. Gislaine disse que nunca foi discriminada no Sentinelas do Planalto, ao contrário do que ocorre em outros clubes e mesmo em restaurantes.
- Os banheiros são masculino e feminino, e nós, vamos onde? Se entro num deles, já reclamam - contou Gislaine.
Logo depois que o CTG foi inspecionado e liberado para obras, Maria Inês e Gislaine se juntaram ao mutirão para limpar as dependências. Eram das mais ativas ao varrer os cacos de vidro e recolher as cadeiras calcinadas pelo fogo. Quem está de casamento marcado no CTG também acorreu ao bairro Planalto. Paulo Ricardo da Silva Nunes, 34 anos, e Eveline Bitante Pereira ficaram incrédulos ao depararem com o vandalismo. Há quatro anos juntos, se inscreveram na cerimônia coletiva para oficializar a união.
- Que tristeza - disse Eveline.
- Quem fez isso não tem família e não tem responsabilidade - acrescentou Paulo Ricardo, que trabalha como tratorista.
Os dois asseguraram que não estão com medo e esperam pela confirmação da cerimônia amanhã. Eveline está ansiosa para realizar o sonho de se casar vestida de noiva.
- Desistir, nunca - prometeu ela.
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