Quem parasse para contar facilmente se perderia nos cálculos: um raio caía a cada três segundos no Rio Grande do Sul na noite de 22 de julho de 2014, iluminando os céus e assustando muitos com estrondos que seguiram madrugada adentro. Ao longo do dia, não foi diferente. As fortes chuvas que atingiram o Estado vieram acompanhadas de muita trovoada - e os raios chegaram em quantidade acima da média, mesmo nesta região acostumada a recebê-los.
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Durante 10 horas, cerca de 12 mil raios cortaram o céu sobre o Estado: número considerado alto pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que mede a incidência do fenômeno no país. Isso significa que 20 raios caíram por minuto em solo gaúcho. Parâmetros internacionais consideram muito alta a ocorrência de raios quando a média ultrapassa 10 casos por quilômetro quadrado - quase a metade do registrado por aqui, onde a densidade em um ano é de 18,38 raios por quilômetro quadrado.
O Inpe calcula que em uma cidade como Porto Alegre haja incidência de raios acima da - já alta - média pelo menos quatro ou cinco vezes ao ano. Há dias em que, levando em conta um período de 24 horas, estima-se que mais de 30 mil raios atinjam o chão: são casos raros, mas que acontecem todo ano, segundo Osmar Pinto Junior, coordenador do grupo responsável por esses estudos. Nos últimos dois dias no Estado, o número de raios que não chegaram a atingir o solo foi ainda maior: 77.147 descargas.
- É um número que chama atenção, principalmente nesta época do ano. Não é tão raro se ter notícia de tantos raios no Rio Grande do Sul, mas um índice como esse só deve ser superado lá por setembro ou outubro - diz Osmar. - Mesmo em termos absolutos, levando em conta a extensão territorial, 17 mil é um número bastante expressivo.
A chuva acompanhada de trovoadas é algo comum por aqui: segundo o Inpe, o Estado é aquele com maior incidência de raios no Brasil. Isso porque estamos na região central do continente, no meio de fenômenos climáticos que vêm de países como Paraguai e do oceano Atlântico. Aqui, sistemas frontais se chocam com ar úmido que desce do Amazonas, e tempestades acabam migrando em direção ao território gaúcho.
Por ano, cerca de 50 milhões de raios atingem o território brasileiro - o país que mais registra o acontecimento de raios em todo o mundo.