Jorge Fossati será uma das estrelas da Festa Gigante, a série de eventos que a partir de sábado marcará a reinauguração oficial do Estádio Beira-Rio. Treinador que levou o Inter às semifinais da Libertadores de 2010, quando acabou substituído por Celso Roth para a fase final contra São Paulo e Chivas Guadalajara, atualmente ele comanda o Peñarol.
Assim como ocorreu em 1969, na inauguração do Beira-Rio, os uruguaios voltarão a entrar para a história do estádio, quando enfrentarão o Inter no domingo à tarde. Aos 61 anos, o técnico tem por missão levar o Peñarol à conquista do Torneo Clausura. Assim como o rival, Nacional, está eliminado na Libertadores. Por isso, o foco total é no campeonato local. Hoje, o Peñarol enfrentará o Miramar Misiones. Na sexta-feira, o Sud América - partida que poderá ser remarcada para sábado, caso o elenco consiga mudar o horário do voo para Porto Alegre.
Nesta entrevista a ZH, Fossati fala sobre a demissão antes do bicampeonato da Libertadores, diz se sentir responsável pelo título, conta que é reconhecido pelos colorados em férias em Montevidéu, fala sobre o processo que move contra o Inter e revela bastidores de sua saída do Beira-Rio. A seguir, os principais tópicos da entrevista.
O retorno ao Beira-Rio
"Será um dia especial, voltar para um estádio que me marcou muito. Foi um período curto, mas intenso. Foi uma honra dirigir o Inter e contribuir um pouco para a conquista da Libertadores. Fiquei com boas lembranças do Inter, ainda que o final não tenha sido como eu esperava. Não gosto de demagogia nem de falsa humildade. Para ganhar a Libertadores você disputa 14 jogos. Eu joguei 10 com o Inter. Da palavra "campeão" de 2010, acho que tenho direito ao menos a um 'camp'. Mas esse reconhecimento fica por parte do clube, do torcedor, para me dar um lugar na história".
Reconhecimento, só do torcedor
"No verão, muita gente do Brasil vem para Montevidéu. Muitos gaúchos. Os colorados me param na rua e me dizem: 'Obrigado, profe. Obrigado pelo campeonato'. É um reconhecimento. Deles. Quando fui demitido, Fernando Carvalho (então vice de futebol), Cuca Lima (diretor de futebol) e, acho que foi o Roberto Siegmann (assessor de futebol), foram à minha casa e disseram que os resultados não estavam dando certo. Nunca entendi. Eu avisei: 'Vocês têm que mudar o discurso, não dá para abdicar das demais competições em nome da Libertadores'. Mas só se pensava nisso. Depois dessa história dos "resultados", pedi que não dissessem mais nada, que não havia nada para ser discutido. A minha demissão aparentemente foi o melhor, pois saiu campeão. Apesar disso, gosto muito dos três, os respeito".
Boicote dos brasileiros, por ser uma comissão uruguaia?
"Levei a minha comissão técnica, mas fui muito aberto para que os profissionais que estavam no clube continuassem. Tínhamos preparadores físicos brasileiros (Fábio Mahseredjian e Elio Carravetta), além do meu preparador (Alejandro Valenzuela). Nunca disse que os meus eram melhores dos que estavam no clube, mas os outros já me conheciam. Se houve boicote dos jogadores, não sei. Nunca falaram para nós. Se tenho uma diferença contigo, vou de frente falar com você. Se tiveram problemas, nunca me falaram. Se não falou, não merece respeito porque falou pelas costas. E não é homem. Homem fala de frente. Quem faz isso é traíra, não é homem. Ficaria muito chateado com quem pensa que é homem e não é".
Processo contra o Inter na Justiça do Trabalho
"Fiquei chateado de ter de ir à Justiça. Estou indo contra o clube, que não merece isso. São milhões de pessoas que não têm nada a ver com a decisão de três ou quatro. Minha cláusula de rescisão deveria ter sido paga quando rescindi o contrato. Me disseram que não tinham como pagar. Não precisava, mas, para facilitar e não ficar mais um dia sequer onde não era bem quisto, parcelei. Atrapalharia o clube se passasse a dar entrevistas em Porto Alegre. Queria sumir. No parcelamento, abri mão de coisas que tinha direito. Foram pagando, mas, infelizmente, ficou a última parcela. Tentei resolver, falei com Giovanni Luigi (em agosto de 2011; a demissão foi em maio de 2010) porque, depois de mim, já haviam passado mais dois treinadores e o clube havia contratado atletas caros, e eu seguia sem receber. Era injusto, por isso, fui à Justiça. Vamos ver como acaba, talvez meus netos recebam esse dinheiro (Fossati ganhou em primeira instância R$ 1,9 milhão, mas o Inter recorreu)".
Ainda um fumante
"Sigo fumando, graças a Deus. São 10 cigarros por dia, mas não recomendo isso para ninguém. Não é bom para nada. É uma tolice não parar de fumar. Não é bom, mas, infelizmente, é um vício. Aos mais novos, digo: Não peguem essa m... porque depois é difícil largar e só te traz prejuízo, no bolso e na saúde".
Peñarol
"Não queria mais trabalhar no Uruguai, mas me pediram pra voltar. O clube havia ido mal no ano passado. Como se Inter ou Grêmio acabasse em nono no Gauchão. Aí, me me ligaram e peguei o time muito em cima do começo desta temporada, em cima da Libertadores. Não tinha condição de fazer muito além do que foi feito. Não poderíamos deixar o Clausura de lado, pois estamos a três pontos da liderança. Ainda não sei se terei condições de escalar força máxima no Beira-Rio, pois teremos um jogo na sexta-feira à tarde. Será pesado. De qualquer forma faremos um belo espetáculo, queremos que a apresentação seja boa. Mas, para nós, será apenas um amistoso".
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