A prática do surfe não se resume apenas à procura pelas melhores ondas ou manobras. Por trás do esporte, há o desenvolvimento de técnicas e materiais para fabricação de equipamentos, mudança de comportamento em relação à escolha das pranchas e o crescimento do mercado no Rio Grande do Sul.
Da concepção da prancha até o momento em que ela chega às mãos dos surfistas, um longo caminho é percorrido. E é dentro deste contexto que se opera uma alteração na visão dos adeptos do esporte. Nos últimos anos, tem crescido a procura por pranchas feitas de um material antes visto com certa desconfiança. A resina epóxi ganha apoiadores, em oposição ao tradicional poliéster.
Jeferson Comarú é, desde 1999, shaper - ou seja, responsável por fabricar pranchas. Nos últimos cinco anos, observa um salto no número de produtos a partir do epóxi, devido à maior resistência e pelo menor peso. A desvantagem ficaria por conta do preço mais elevado.
- No caso do nosso mar, a prancha leve é a ideal. E a feita de epóxi está em alta, flutua mais. A de poliéster, se for mais reforçada, fica um chumbo. Ainda há uma resistência, mas ela tem diminuído - analisa Comarú, vice-campeão brasileiro de stand up paddle por dois anos.
Daison Pereira, sete vezes campeão gaúcho de surfe e fabricante de pranchas, concorda na questão da maior resistência e da leveza do equipamento feito em epóxi.
- Esse material é cada vez mais usado. A prancha responde mais aos movimentos da água - diz o surfista, acrescentando que a procura pelo epóxi e pelo poliéster é parelha atualmente.
Empresário e surfista desde a década de 1970, Giovanni Mancuso faz ressalvas:
- O sistema de fabricação não é mais um bicho de sete cabeças, mas ainda é complexo. E, se dá uma quebradinha, é difícil de consertar. Do ponto de vista do investimento, a prancha em epóxi carrega algumas exigências.
Acompanhando as mudanças na composição das pranchas, desenvolvem-se, também, os equipamentos para produção. Não que tenham desaparecido as oficinas mais artesanais, onde o shaper participa de todo o processo, mas as máquinas vêm ganhando terreno. Comarú conta que desativou sua oficina e, hoje, faz os projetos pelo computador direto de Atlântida. Depois, envia-os por e-mail para a fábrica em Nova Santa Rita - de lá, as pranchas saem prontas.
- Cada funcionário faz uma coisa, domina uma técnica. Um faz a resina, outro coloca as quilhas e assim por diante - explica.
Há shapers, porém, que resistem ao maquinário. Um deles é Sérgio Augusto Antunes, fabricante em Tramandaí desde 1988: para ele, as máquinas são boas para grandes produções.
- O equipamento que usamos aqui é mais artesanal mesmo. Os que escolhem as máquinas são os profissionais que produzem mais. Nossa demanda é maior no verão - observa Antunes, que participa de todos os processos de fabricação.
Altera-se a forma de produzir e também a escolha pelo modelo. Giovanni Mancuso diz que existe uma maior experimentação dos diferentes tipos de prancha.
- As pranchas, na história do surfe, foram diminuindo de tamanho. Depois, voltaram a aumentar nos anos 80. Na década seguinte, diminuíram um pouco. Hoje, não existe mais um padrão, uma regra, vai do gosto de cada um. Se experimenta muito. O surfista virou um curioso por natureza - conta Mancuso.
Mercado cresce no Rio Grande do Sul
Tanto os shapers quanto os empresários voltados às vendas de produtos de surfe apontam para um aumento do mercado no Rio Grande do Sul, embora seja difícil precisar em números. Fernando Cunha, diretor de marketing das lojas Planeta Surf, diz que o grande número de vendas, em torno de 80%, se refere à confecção. Os equipamentos para surfar, não apenas as pranchas, são os responsáveis pelo restante.
- Eu vejo um aumento no consumo. Se percebe também o crescimento do número de praticantes apenas pelo lazer. Estão vendendo muito as pranchas do estilo retrô - explica Cunha.
O shaper Jeferson Comarú chama a atenção para um dos motivos de incremento nas vendas no Estado:
- De uns tempos para cá, o stand up paddle teve um boom, o que refletiu nas vendas.
Cunha lembra que, se por um lado as vendas estão mais aquecidas, por outro, a formação de atletas profissionais está mais difícil.
- O maior problema está em fazer um circuito de base para formar novos atletas. Hoje em dia, está difícil formar gente nova - relata Cunha, pedindo mais participação das prefeituras do Litoral na promoção de campeonatos.
Sérgio Augusto Antunes utiliza forma artesanal na produção de pranchas
Foto: Félix Zucco/Agência RBS
Como escolher a prancha
- Quem está pensando em praticar surfe pode ficar atento às dicas do surfista Daison Pereira. Ele aconselha que os iniciantes procurem por modelos longboard e funboard.
- Uma criança, porém, poderia escolher os modelos evolution, espécie de sequência das outras duas, que é mais leve e tem mais agilidade.
- Quem já tem experiência busca o modelo que melhor se adapta.
- O surfista indica como melhores lugares para praticar o esporte no Rio Grande do Sul as plataformas de Atlântida e Tramandaí e as praias de Torres. Mas não descarta locais como Capão da Canoa, Arroio do Sal e Cidreira.
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