O neozelandês Richard Curtis, 57 anos, é um dos mais bem-sucedidos roteiristas do cinema britânico contemporâneo. Autor das histórias de comédias românticas de êxito como Quatro Casamentos e um Funeral (1994), Um Lugar Chamado Notting Hill (1999) e O Diário de Bridget Jones (2001), Curtis estreou na direção com Simplesmente Amor (2003) - filme cujo elenco estelar incluía o brasileiro Rodrigo Santoro. Criador do célebre especial de TV beneficente Comic Relief - espécie de Criança Esperança do Reino Unido -, o diretor de Questão de Tempo já era uma celebridade da televisão antes de ir para o cinema, graças a seus roteiros para programas humorísticos como Blackadder e Mr. Bean. Veja a entrevista exclusiva que Curtis concedeu por telefone:
Zero Hora - Um dos trunfos de Questão de Tempo é a química do casal interpretado pelos atores Domhnall Gleeson e Rachel McAdams. Você poderia falar um pouco sobre essa dupla?
Richard Curtis - São dois grandes atores. Rachel é uma das melhores atrizes com quem já trabalhei. É incrível a maneira de ela expressar o significado de tudo sem eu precisar detalhar nada. Ela alcançou sempre o registro que eu queria: do primeiro encontro com Domhnall até o casamento com o personagem dele e a maternidade. Ela foi adorável! Já Domhnall, conhecia de outros papéis, como o Levin de Anna Karenina. Testei atores de todo o Reino Unido para o papel de Tim, e ele foi aquele por quem me apaixonei. Um homem divertido e doce, que tem uma qualidade fundamental: é engraçado.
ZH - Aliás, a facilidade com que os atores brilham em cena é uma característica de seus filmes. Como foi trabalhar novamente com o sempre ótimo Bill Nighy, que você dirigiu antes em Simplesmente Amor e Os Piratas do Rock?
Curtis - Deixe-me falar uma coisa a respeito de elencos: realmente levo muito a sério a escolha dos atores. Aprendi com a responsável pelo elenco de Quatro Casamentos e um Funeral (Michelle Guish) que não existe papel sem importância. Você tem que desenvolvê-los todos, do começo ao fim. Então, passei meses e meses selecionando o elenco de Questão de Tempo. Convidei Bill para o papel do pai do protagonista, e ele aceitou, mas impôs uma condição: "Tudo bem, desde que eu não tenha que interpretar nada". "Como assim?", perguntei. "Quero fazer algo excêntrico, com bigode ou algo assim", ele disse. Eu queria algo mais simples, e no final das contas acho que Bill está adorável no filme.
ZH - Questão de Tempo é seu terceiro filme como diretor. Você prefere dirigir ou escrever roteiros?
Curtis - Quando você dirige, tem que fazer as coisas certas de acordo com o planejado. Quando você escreve, pode mudar tudo o tempo todo. Você tem bons e maus dias quando escreve. Dirigir, por outro lado, é nunca ter dias chatos. E a única coisa mais tensa do que dirigir é não dirigir: ficar atrás de um cara que às vezes não está fazendo o que você acha que ele tem de fazer. Em certo sentido, dirijo porque não quero acabar matando alguém que quer me matar.
ZH - As histórias e os diálogos de seus filmes são muito britânicos, ainda que universalmente compreensíveis. Você pensa em plateias estrangeiras, como a norte-americana e a brasileira, por exemplo, quando escreve seus roteiros?
Curtis - É uma coisa engraçada: nunca pensei em ter sucesso em qualquer lugar que não fosse aqui. Nunca imaginei que Quatro Casamentos e um Funeral fosse fazer sucesso nos EUA. Ao longo dos anos, me dei conta de que escrevo sobre coisas simples, como amor, amigos e família, que são estranhamente parecidas em qualquer lugar do mundo.
ZH - Como Quatro Casamentos e um Funeral afetou sua carreira?
Curtis - Bem, se esse filme não tivesse feito sucesso, eu teria abandonado o cinema. Essa é a verdade. Eu já tinha uma sólida carreira na TV, escrevendo programas e sitcoms.
ZH - Você escreveu o roteiro de Trash, filme ainda inédito de Stephen Daldry rodado boa parte no Rio e com atores brasileiros como Wagner Moura e Selton Mello. Você fez pesquisas sobre o Brasil?
Curtis - Sim, ainda que o romance de Andy Mulligan, que adaptei, não especifique nenhum país. O Brasil foi escolhido como cenário porque, além de ser esse país maravilhoso, tem uma grande indústria cinematográfica. Visitamos muitos lugares, como favelas e prisões, falamos com pessoas e adaptamos o clima do livro. Encontramos aí as pessoas mais belas e malucas do mundo!