O caso da adolescente de 16 anos que se suicidou na última quinta-feira após ter fotos íntimas divulgadas na internet, em Veranópolis, comoveu a cidade e motivou os pais da vítima a alertarem as famílias sobre os riscos que as redes sociais podem oferecer.
Para a a psicóloga Carolina Lisboa, professora do programa de pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), as humilhações sofridas no ambiente virtual são piores do que as que ocorrem em ambientes como a escola ou o trabalho:
- Infelizmente a gente nota que casos como esse acabam muitas vezes em suicídio, e isso é muito grave. O que preocupa é que a internet tem essa audiência muito extensa, são milhões de pessoas, e há esse caráter atemporal, a situação de humilhação perdura no tempo. É uma violência que deixa muitas marcas. No bullying que é vida real, na escola, por exemplo, é ali no momento. Se levantam a blusa da garota no recreio, são quatro, cinco pessoas que veem e acabou. Não quer dizer que não seja ruim, mas tem um ponto final.
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Carolina afirma que uma conjunção de fatores pode explicar as motivações que levam um jovem a cometer suicídio após ser vítima de ciberbullying.
-A vítima se vê muito sem recursos para lidar com a situação. Além de exposta, também se sente traída, enganada, porque teve o vínculo de confiança quebrado. Em geral a pessoa já está passando por uma situação de vulnerabilidade, provavelmente pode ter traços mais depressivos, e na adolescência existe também essa possibilidade de se adotar comportamentos mais impulsivos. Muitas vezes falta uma rede de apoio dos amigos, familiares. Às vezes não é porque não querem ajudar, é porque não podem, ou não enxergam. Ou às vezes a pessoa se prende muito ao namorado e deixa de se relacionar com os amigos, o que provoca uma alienação social.
De acordo com o diretor do Departamento Estadual da Criança e do Adolescente (DECA), delegado Andrei Luiz Vivan, como a divulgação de imagens envolve uma vítima menor de idade, o caso se enquadra entre os atos de pedofilia praticados na internet.
- Legalmente, é difícil estabelecer um liame entre divulgar fotos pornográficas e a relação que isso tenha com um eventual suicídio que irá provocar. Mas a divulgação das imagens íntimas da adolescente, por si só, já é passível de responsabilização penal, conforme os artigos 240 e 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Durante a tarde desta terça-feira, a família da adolescente compareceu à delegacia de Veranópolis para entregar o computador e o celular da estudante. Após conversar com os pais da vítima, a polícia abriu um inquérito para investigar o caso.