O sueco Yngwie Malmsteen integra o seleto grupo de músicos que não admite meio-termo: é amor ou ódio. Quem o ama, terá a chance de conferir seus intrincados e extensos solos de guitarra, neste sábado, no Opinião. E quem o odeia... Bom, pode xingar muito no Twitter.
Digno representante da tão estimada quanto moribunda classe dos virtuoses da guitarra, Malmsteen se apresenta em Porto Alegre 12 anos depois de um conturbado show no mesmo palco (leia abaixo). Desta vez, espera-se que o concerto transcorra sem incidentes diplomáticos, com o músico apresentando as faixas do seu mais recente trabalho, Spellbound, lançado em dezembro do ano passado. Com ele, tocam Bjorn Englen (baixo e vocal), Patrik Johansson (bateria) e Nick Marinovich (teclados e vocal), banda que vem acompanhado o guitarrista na atual turnê latino-americana.
Além do visual glam oitentista (muito spray de cabelo, maquiagem, calças de couro, mangas bufantes e acessórios dourados) que ostenta há mais de 30 anos, Malmsteen é reconhecido pela destreza com que maneja a Fender Stratocaster que leva seu nome tanto como artista solo quanto em parceria com outros músicos - em 2003, por exemplo, integrou o projeto G3 com os também virtuoses da guitarra Joe Satriani e Steve Vai.
Apesar de ser discípulo declarado dos deuses da guitarra roqueira Jimi Hendrix (1942 - 1970), Brian May e Ritchie Blackmore, Malmsteen compõe notadamente influenciado por artistas eruditos, como Niccolo Paganini (1782 - 1840) e Johann Sebastian Bach (1685 - 1750). Foi inspirado neles que o sueco criou parte de sua obra, como o disco Concerto Suite for Electric Guitar and Orchestra in E Flat Minor, Opus 1 (1998) e faixas como Black Music Suite Op.3 e Arpeggios From Hell - esta talvez a canção mais conhecida, pelo menos por nome, fora do seu fã-clube.
Concerto para fazer as pazes
por Marcelo Gonzatto
marcelo.gonzatto@zerohora.com.br
Bin Laden deve ter morrido, sob a mira laser das metralhadoras, sem desconfiar que seu nome já foi gritado com o ânimo reservado a grandes heróis em Porto Alegre. Era 2 de outubro de 2001, menos de um mês depois de a Al-Qaeda transformar as torres gêmeas em poeira. O guitarrista sueco radicado nos EUA Yngwie Malmsteen resolveu fazer uma homenagem às vítimas do 11 de Setembro em seu show no bar Opinião, mas inflamou um movimento rebelde entre os próprios fãs.
No meio do show, tocou um trecho do hino americano. O problema é que, diante dele, estava uma plateia de jovens adeptos do dito "Esta terra tem dono!" e pouco disposta a tolerar propaganda americana. Foi vaiado. Como a humildade não é bem uma característica do sueco, decidiu dobrar o público. Arriscou Star Spangled Banner de novo. Tomou outra vaia. Insistiu. Dê-lhe vaia. O constrangimento pairava no ar.
Ao apresentar os músicos da banda, apelou: "Se vaiarem o hino dos Estados Unidos, eu paro de tocar". Pobre Malmsteen, ainda não conhecia seus fãs gaúchos. Perdem o ídolo, mas não a briga. Boa parte do público passou a gritar "Bin Laden! Bin Laden!". Malmsteen lascou um "danem-se" e bateu em retirada. O tecladista Derek Sherinian chamou os porto-alegrenses de "caipiras" em um texto na internet. Neste sábado, finalmente, o artista e os fãs da Capital terão a chance de fazer as pazes.