Um furacão. Três mortos, 75 feridos. Pelo menos 40 mil casas danificadas. Danos estimados em mais de R$ 700 milhões.
As informações acima são verdadeiras e ocorreram no sul do Brasil. Em 2004, o Catarina devastou parte dos litorais gaúcho e catarinense. Nove anos depois, o país finalmente se prepara para tentar evitar que eventos extremos destruam cidades do litoral. E o Rio Grande do Sul sediará o monitoramento deste sistema.
Será comandado pela Universidade Federal do Rio Grande (Furg) o Sistema de Monitoramento da Costa Brasileira (SimCosta), que busca visualizar as variações oceanográficas e meteorológicas do litoral do país. Com ele será possível alertar sobre eventos extremos, prever consequências de fenômenos como o El Niño, identificar características do mar e estudar os efeitos das mudanças climáticas.
Na primeira fase, quatro estados serão atendidos: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. O investimento do governo federal para essa etapa chega a R$ 4 milhões.
Parte dos equipamentos já está no Laboratório de Estudos dos Oceanos e Clima (Leoc). A expectativa do professor Carlos Alberto Garcia, coordenador do projeto, é que a primeira estrutura esteja instalada ainda neste ano, provavelmente próximo à praia do Cassino, em Rio Grande, no sul do Estado.
A estrutura foi montada por uma empresa brasileira. Ela une diferentes equipamentos - medidores de PH, salinidade, temperatura, onda, luminosidade, pressão e corrente - em um mesmo sistema, que está ligado a uma antena com transmissão GSM. Por ela, os dados serão enviados por uma operadora até os computadores do laboratório.
Depois de processados, eles serão disponibilizados para o público, que poderá verificá-los de qualquer lugar do mundo, em equipamentos móveis, como tablets e smartphones. Assim, estudantes e pesquisadores terão um vasto banco de dados sobre as variações nos mares do Brasil.
Será criado um grande banco de dados das águas
Mas não é só para cientistas que o sistema poderá ser útil. Quem pratica esportes náuticos, por exemplo, obterá dados sobre correnteza, força de ondas e vento, que poderão ajudar a decidir se o mais indicado para o dia é o surfe, ou kitesurfe. Ou, com o controle de salinidade, pescadores poderão antever a presença do número de animais como o camarão, que depende de altos índices de sal na água para se reproduzir.
A expectativa do professor é que a boia de Rio Grande possa ser instalada até o final do ano, com a disponibilização dos dados em um site a ser divulgado pelo laboratório. O projeto piloto já está na rede, mas, ainda sob testes.
O sistema é pioneiro no Brasil, atrasado em pelo menos duas décadas com relação a outros países. Inglaterra, Estados Unidos, Irlanda, Austrália, Portugal, Espanha e Índia, por exemplo, possuem programas desse gênero instalados desde o século passado. Caso já estivesse em uso no país, poderia ter reduzido os estragos do Catarina.
- É com esse sistema que até tsunamis são alertados nos locais mais propensos a isso. Ao menos, felizmente, não é o nosso caso - diz Garcia.
Marégrafos nos portos nacionais
Parte integrante do SimCosta, uma rede de marégrafos também será coordenada pela Furg. Doze equipamentos capazes de identificar e analisar as variações nas marés serão instalados nos principais portos brasileiros.
A divisão contemplará os 8,5 mil quilômetros da costa brasileira, a partir de critérios que caracterizem suas bacias hidrográficas e de homogeneidade de comportamento oceanográfico e costeiro ao longo de segmentos da costa brasileira.
Os dados serão transmitidos por sistema semelhante ao das boias e as análises também estarão na internet.
Veja quais dados serão disponibilizados:
Meteorológicos:
- Temperatura do ar
- Vento (velocidade e direção)
- Pressão Atmosférica
- Precipitação Pluviométrica
- Concentração de CO2
- Radiação Solar
- Umidade Relativa do Ar
Oceanográficos:
- Temperatura da Água
- Turbidez - luminosidade
- Salinidade - presença de animais
- Profundidade (Pressão) - alteração em marés e ondas
- O2 Dissolvido - quantidade de algas
- Perfis de Correntes e Altura de Ondas - alteração de marés
GRÁFICO - como funciona o monitoramento: