Antonio Meneses, 56 anos, é um dos raros solistas brasileiros no primeiro time da música erudita internacional. Radicado desde 1989 na Basileia, Suíça, o violoncelista pernambucano se apresenta nesta segunda-feira, às 21h, com a Orquestra de Câmara Theatro São Pedro no teatro que dá nome ao conjunto, em Porto Alegre. A regência será de Antônio Borges-Cunha.
Meneses executará o Concerto para Violoncelo nº 1, de Shostakovich (obra que havia apresentado na Capital em 2004, com a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre). Na primeira parte da noite, a OCTSP tocará Convertimento, de Bruno Kiefer, e a suíte Pulcinella, de Stravinsky.
O músico não estará no palco com seu histórico violoncelo Alessandro Gagliano, criado por volta de 1730. Optou por um novinho em folha construído neste ano pelo italiano Filippo Fasser. Meneses conversou com a reportagem na Capital.
Zero Hora - O pianista Nelson Freire e o senhor estão entre os melhores solistas brasileiros. É possível cogitar quais serão os próximos a chegar lá?
Antonio Meneses - Moro fora do Brasil há tanto tempo que perdi um pouco o contato com o que está acontecendo aqui, principalmente com os jovens. Vejo muita gente de talento. Se isso significa que você vai fazer uma carreira como solista e despontar também fora do Brasil, é outra história. É todo um desenvolvimento que tem que acontecer.
ZH - Por que há poucos solistas brasileiros no primeiro time mundial?
Meneses - A carreira de um grande solista, regente ou cantor é muito difícil de conseguir. Depende de muitos fatores, inclusive de você começar bem com um bom professor. E praticamente todo músico brasileiro tem que ir para os Estados Unidos ou para a Europa para se aperfeiçoar. Os fatores são múltiplos, até sorte é necessária (risos). O que talvez seja um empecilho é que precisamos de uma massa muito grande de músicos para que possam despontar, dentro dessa massa, os grandes talentos - e que eles sejam realmente acompanhados até chegar àquele ponto excepcional. Sabia-se fazer isso muito bem na antiga União Soviética. Talvez esteja faltando isso na América do Sul inteira. Teria que acontecer muito mais esse estilo de trabalho, talvez como está sendo na Venezuela, mas em um nível muito mais alto, de ter conservatórios no Brasil inteiro.
ZH - Em 2012, Nelson Freire e o senhor acompanharam a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) em apresentações na Europa. O Brasil pode ser uma força emergente na música de concerto internacional?
Meneses - A Osesp é um caso muito especial. Para que uma Osesp seja possível, são necessárias muitas coisas, inclusive muito dinheiro. E é preciso uma direção forte, uma pessoa com visão como o (John) Neschling (que esteve à frente da Osesp de 1997 a 2009), foi ele quem criou aquilo tudo. Temos agora mais uma orquestra nessa situação - talvez ainda não tão adiantada como a Osesp, mas a caminho - que é a Filarmônica de Minas Gerais, com o (maestro) Fabio Mechetti. Fiz uma turnê com eles, no ano passado, na América do Sul, que foi um enorme sucesso. Não é fácil construir uma orquestra. Na realidade, antes da Osesp, nunca achei que seria possível. É um milagre. As orquestras brasileiras sempre foram orquestras que se pode dizer medíocres. O exemplo que a Osesp deu foi maravilhoso porque agora temos uma orquestra como a de Minas Gerais, temos a OSB (Orquestra Sinfônica Brasileira, no Rio). É necessário que haja a mesma coisa em Porto Alegre, em Curitiba. Tem que ter governo atrás, tem que ter patrocinadores. Sem dinheiro e sem muita dedicação, é impossível.
ZH - Nas apresentações que o senhor já realizou em Porto Alegre, interpretou compositores como Dvorák e Haydn. O senhor se considera um amante da tradição?
Meneses - O meu repertório, em princípio, é um pouco conservador, tenho que admitir. Mas sempre tentei adicionar obras escritas especialmente para mim. Não é uma questão de não querer tocar composições atuais. São exigidas do solista as obras mais famosas porque atraem mais público. Mas isso (o interesse na música atual) já melhorou muito.
Música erudita
Antonio Meneses apresenta obra de Shostakovich com a Orquestra de Câmara Theatro São Pedro
Violoncelista é um dos solistas brasileiros de maior projeção internacional
Fábio Prikladnicki
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