A enchente em São Sebastião do Caí, no Vale do Caí, já deixou 88 famílias desabrigadas desde o sábado. Os dois dias de agonia trouxeram a perda de móveis, alimentos, roupas e outros utensílios das casas devastadas pela forte correnteza do Rio Caí. Na pressa por juntar pertences e manter os filhos a salvo, muitas famílias acabam esquecendo dos seus animais de estimação ou não tiveram como socorrê-los.
Veridiana de Souza, 37 anos, só conseguiu trazer para o abrigo montado pela prefeitura no ginásio do Parque Centenário duas trouxas de roupa e um colchão. Ao lado do marido e dos dois filhos, a agricultora lamentava a provável morte dos seus três cachorros e de um gato, que permaneceram em sua residência no bairro Navegantes, após a Defesa Civil proibir a família de regressar para a casa.
- No domingo de manhã, eu saí com a família levando o que deu dentro da nossa Kombi. Deixamos as coisas aqui no ginásio e voltamos para buscar os restos das coisas, dentre elas os nossos cachorrinhos, que ficaram lá. Mas não deixaram a gente voltar porque a correnteza estava muito forte. É triste, não vou me perdoar se algo acontecer com eles - disse, resignada, a mulher, que planta e vende rosas.
Avisada pela reportagem que havia um centro para cães ao lado dos ginásios onde estão 75 famílias - o restante está na Associação de Moradores do bairro Quilombo - e que os animais poderiam estar lá, Veridiana levantou-se rapidamente do sofá trazido por sua irmã e saiu em disparada ao abrigo montado pela ONG Vira Lata na Net, que já resgatou 35 cães de rua ou que foram abandonados pelos donos nas enchentes. Um dos cachorros, o Sheikh, em homenagem ao atacante do Corinthians, que os filhos são fãs, dormem na cama das crianças, tamanho o afeto.
- Eu não acredito que o Sheikh e a Preta estão aqui! Obrigada por ter me avisado! Eu achava que eles estivessem mortos! Meus filhos são apaixonados por eles. Mas ainda rezo para que o meu gato e o outro cachorro estejam bem - comemorou, abraçando os bichos efusivamente.
O resgate ocorreu nesta manhã, quando uma voluntária da ONG entrou na casa e pegou os animais, que já estavam praticamente sem vida.
- Eles estavam desesperados, quase morrendo afogados e com muito frio. A água batia na minha cintura. É triste ver que algumas famílias não se preocupam primeiro com os seres vivos do que com os seus pertences - lamentou.
A ONG Vira Lata da Net montou um abrigo provisório para os animais encontrados. Cada um tem um cobertor, uma caixa de papelão, água e ração. Todos serão cadastrados e os machos que não forem buscados pelos seus donos serão castrados.
Veridiana encontra dois de seus cães, Sheik e Preta
Foto: Charles Dias, especial