Internada em um hospital do interior da Argentina à espera de uma cirurgia de emergência, a estudante Paula Blume, 22 anos, foi tema de uma manifestação no Parque da Redenção, na tarde deste domingo.
Amigos e colegas da aluna da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) realizaram apresentações musicais e arrecadaram doações para ajudar a cobrir as despesas da família de Paula no Exterior.
Vítima de um acidente em uma estrada argentina no último dia 21, quando ela e um grupo de estudantes se dirigia à província de Neuquén para uma pesquisa, Paula fraturou uma vértebra e, se não for operada, corre o risco de ficar tetraplégica.
O procedimento já teria sido adiado três vezes desde que ela foi internada no Hospital Dr. Lucio Molas, na cidade de Santa Rosa, onde está acompanhada da mãe e de uma amiga. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o procedimento teria sido confirmado pelo governo da província de La Pampa para a próxima quarta-feira.
O pai da estudante, José Alberto Blume, 52 anos, disse que conversou com Paula no final de semana, por telefone.
- Elas (Paula e a mãe) contaram que um médico passou ontem (sábado) pela Paula e disse: "Quarta-feira vou te operar" - relatou José Alberto neste domingo.
A falta de uma promessa oficial quanto à realização da cirurgia é o que indignou mais os familiares e amigos da estudante, nascida em São Carlos (SC) e moradora de Porto Alegre há 12 anos. Colegas chegaram a acampar em frente ao consulado argentino na Capital pedindo providências aos governos dos dois países.
A mobilização deste domingo incluiu apresentações musicais e distribuição de panfletos com a foto da estudante, com a frase "Paula resiste". Os amigos também gravaram depoimentos em vídeo para enviar à estudante.
- Queremos um documento que garanta oficialmente a realização da cirurgia. Vamos percorrer a UFRGS amanhã (segunda-feira) para conversar com os estudantes e colher assinaturas - explicou Gabriela Silveira, 21 anos, amiga de Paula.
"Esse caso mostra o descaso com a saúde pública, aqui e lá", diz amiga
Amiga de Paula Blume, com quem costumava encarar longos trajetos de bicicleta ao Campus do Vale da UFRGS, Valéria Rocha, 21 anos, estava no mesmo carro que capotou em uma estrada na Argentina, no fim de semana do último dia 21. Sofreu fraturas na clavícula e no braço esquerdo, mas participou do ato em defesa da amiga na Redenção, neste domingo. O relato da estudante de Comunicação Social sobre o episódio:
Zero Hora - Como foi o acidente?
Valéria Rocha - Eu estava no mesmo carro. Não lembro muito bem, mas o que se soube é que passou um animal na estrada, e o motorista se assustou. Era uma estrada bem reta, sem acostamento. O motorista desviou do animal, e o carro saiu da pista e capotou. Os médicos que me atenderam disseram que tive sorte de não fraturar a bacia.
ZH - Qual foi o motivo da viagem?
Valéria - Estávamos a caminho da cidade de Neuquén para fazer uma pesquisa sobre uma fábrica de lá que teria sido desapropriada. Uma parte do grupo chegou a ir até lá.
ZH - Como você avalia o atendimento médico prestado lá?
Valéria - O atendimento de emergência foi bom, pelas possibilidades do hospital, que era pequeno (as vítimas foram atendidas primeiro na localidade de Victorica, e depois encaminhadas a Santa Rosa). Não tem do que reclamar. O problema é a burocracia em torno da cirurgia dela. Todos os médicos disseram que ela tem urgência na operação. Esse caso mostra todo o descaso que existe com a saúde pública, aqui e lá. A pessoa fica sofrendo por um trâmite burocrático. Aí se vê que a prioridade não é o ser humano.