No domingo em que a torcida gremista comemorou os 30 anos do primeiro título da Libertadores da América, um incidente antes do jogo marcou a vitória gremista sobre o Fluminense na Arena, e transformou em personagem do dia o torcedor conhecido como Gaúcho da Geral.
O motorista Juliano Franczak, 33 anos, morador de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, é visto desde os tempos do Estádio Olímpico assistindo aos jogos sempre pilchado. Montado no parapeito da barra da mureta de contenção da Arena, esse torcedor usava uma muleta como mastro para uma bandeira quando foi abordado por policiais militares. Após confusão entre um grupo de torcedores e PMs, ele foi retirado da arquibancada. Imagens mostram Franczak sendo agredido com socos e golpes de cassetete e depois arrastado pela perna para fora do campo. Confira trechos da entrevista com o Gaúcho da Geral, que afirma pensar em não mais ir a jogos na nova casa do Grêmio.
Zero Hora - Você tem um problema no joelho?
Juliano Franczak - Fiz uma cirurgia há alguns anos e coloquei pinos no tornozelo. Fui jogar bola e estou com inflamação. Estou usando a muleta para evitar esforços. Nos últimos jogos fui com a muleta, entrei numa boa e tive a ideia de colocar a bandeira na muleta. Como sempre levei a bandeira do Rio Grande, na emoção coloquei a bandeira. Nunca me falaram nada.
ZH - Não falaram nada no momento da revista?
Franczak - Passei pela revista e fui para o meu lugar de origem. Balancei um pouco a bandeira, montei na mureta e aí, de repente, chegou um brigadiano e me puxou. Todo mundo perguntou "por que?" e ele disse que ninguém precisava saber.
ZH - A Brigada diz que sua ficha não é pequena, que você já se envolveu em confusões e que, inclusive, esteve no caso dos banheiros químicos queimados no Beira-Rio, em 2006.
Franczak - O que eu digo, sempre, é "olha as imagens". Se olharem vão ver que eu não fiz nada. Eles sempre me pegam porque sou mais visado. No Beira-Rio, como eu fico na mureta, lógico que eles jogaram os banheiros por cima da mureta e eu apareci. Eu sou sócio, pago para ir na Geral. Lógico que, ao natural, o cara vai participar da torcida. Claro que eles vão dizer que eu estou sempre metido em confusão, mas até hoje não provaram nada. Tanto que não fui condenado de nada. No jogo do Fluminense pela Libertadores me retiraram na hora que acenderam os sinalizadores. Eu estava torcendo e disseram que eu acendi sinalizador e inflamei a torcida. Daí depois eles vão lá e colocam conduta inconveniente.
ZH - Ocorreram outras situações como essas?
Franczak - Teve outra situação, que não foi com a Brigada, foi com segurança do Grêmio: caiu meu chapéu no fosso do Olímpico e eu fui pegar. Disseram que eu queria invadir o campo. Depois dessa, teve uma saindo do Olímpico que foi com a segurança também. Eles estavam tirando dois guris de dentro do estádio no final do jogo a porrada. Cheguei pedindo para parar. Nisso, um chefe da segurança, que tinha me pegado no dia do chapéu, mandou me prender. Aí os seguranças do Grêmio me levaram ao Jecrim, mas ficou por isso.
ZH - O que aconteceu depois que os policiais retiraram você da arquibancada?
Franczak - Todos perguntaram por que estavam tirando o "gaúcho". Os brigadianos começaram a se irritar. Fui numa boa. Daí começaram a tocar spray de pimenta, e todos se revoltaram. Eles me retiraram para onde ficam as ambulâncias e um PM começou a me bater, eu caí no chão e me puxaram pela perna. Eu perguntei: "Por que, cara, é ofensa levantar a bandeira?" Eles disseram que era para calar a boca e responder para a juíza (do Juizado Especial Criminal, para onde foi levado). Fiquei o jogo todo lá dentro.
ZH - Você é integrante da Geral?
Franczak - Eu conheço todo mundo. Na verdade, o pessoal me adotou como símbolo da torcida. Eu só não participo de reunião, dessas coisas com BOE. Não sou cadastrado. Tenho amizade ali do tempo de que se criou a torcida.
ZH - O que você pretende fazer agora a respeito do incidente?
Franczak - Eu cheguei cansado ontem e acabei não indo à delegacia, essas coisas. Dormi e vim direto trabalhar, não consegui pensar no que vou fazer. Agora um monte de advogado começou a me ligar para dizer que posso colocar na Justiça e tal. Estão falando para eu fazer corpo de delito, mas primeiro vou colocar em dia o serviço, os compromissos que tenho. Estou pensando em não ir mais à Arena. Estou pensando em abandonar e só ir a jogo fora, porque o único lugar em que me sinto em casa é em jogo fora. Agora minha mãe, meu pai e até meu patrão também disseram para eu não ir mais, não bater de frente com a Brigada que eu ainda vou me incomodar mais.
Confira imagens da confusão:
Assista o vídeo que mostra como a confusão começou: