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Entre os comerciantes do Mercado Público, a sensação é de tristeza, preocupação e revolta. Há preocupação com a perda material, há consternação pela destruição de parte da história da cidade e há revolta com a suposta demora dos bombeiros em agirem para contornar as chamas.
Segundo o presidente da Associação do Comércio do Mercado Público, Ivan Konig Vieira, uma reunião com o prefeito José Fortunati, às 9h deste domingo, deve servir para se avaliar os prejuízos e projetar providências.
- Não sabemos o tamanho do prejuízo, mas o estrago foi grande - lamenta.
Segundo Konig, o incêndio teria começado entre os restaurantes Mamma Júlia e Marco Zero, no segundo andar do prédio. A impressão é confirmada por Daltro Souza, vendedor da Banca 26, que comercializa frios, cereais e outras especiarias.
- Ouvimos um estouro muito grande, e eu e meus colegas nos apressamos em tirar seis balanças novas que estávamos instalando hoje. Foi o que conseguimos salvar - lamenta.
Permissionária da banca 45, Cláudia Kolesar comentou a rapidez com que o fogo se alastrou ("Em questão de 15 a 20 minutos") e lamentou a atuação dos bombeiros.
- No início, chegaram quatro carros de bombeiros, mas somente dois tinham água. se tivessem os quatro entrado em ação poderiam ter salvado boa parte do prédio - opina.
Segundo Rodrigo Oliveira, proprietário do restaurante de culinária japonesa Seninha, era notável a precariedade das condições de trabalho enfrentadas pelos oficiais do Corpo de Bombeiros no combate ao fogo.
- Faltou água, faltou gente... o fogo se alastrou por falta de um plano de ação. Além disso, na parte interna do Mercado Público existiam mangueiras furadas e extintores estragados.
Luiz Custódio Duarte, dono da Banca 21, fez eco à reclamação, que também revoltou populares que acompanharam o controle das chamas.
- Achei que os bombeiros demoraram para chegar. É uma coisa horrível. Destruiu um patrimônio e a gente não pode fazer nada.
De acordo com o secretário da Segurança Pública, Airton Michels, os bombeiros começaram a combater as chamas após quatro minutos do início do incêndio.
Conforme o comandante do Corpo dos Bombeiros em Porto Alegre, Adriano Krukoski, é possível que a população tenha se revoltado ao não visualizar que o combate ao fogo começou por dentro do Mercado Público.
- Entre a primeira chamada que o corpo de bombeiros recebeu até a chegada ao local, passaram-se quatro minutos - explicou Krukoski.
Segundo o oficial, foram empregados 15 caminhões, 13 autoescadas e 70 homens. De acordo com ele, o fogo teria se iniciado na área superior do Mercado Público, próximo à Julio de Castilhos. Krukoski calcula que tenha sido queimado um cerca de 30% do Mercado.
Tristeza pelo que se perde
- Só ficou tristeza - lamentou Nilson Pessi, proprietário há 30 anos da última agropecuária restante no Mercado, a banca 14.
Pessi disse que estava em casa quando ouviu pelo rádio a notícia sobre o incêndio. Ele disse que não tinha seguro da loja, único estabelecimento de que era proprietário.
Situada no segundo andar, parte mais atingida do prédio, a Feira do Vinil também foi consumida, segundo o organizador e comerciante Natanael Peres.
- Havia 30 mil discos lá dentro. Não tem o que fazer, mas estou tranquilo, não posso me abalar. Amanhã a gente vê qual vai ser o resultado - disse.
Dono de um açougue nas bancas 8 e 9, no térreo do Mercado Público, Pasqualino Gugliotta, de 54 anos, não sabe quanto soma seu prejuízo, já que foi seu filho quem fechou o estabelecimento na tarde deste sábado.
- Um amigo meu me ligou por volta das 20h30min para contar. Liguei a TV e, pelas imagens, dava impressão de que era todo o mercado. Bateu um desespero e eu vim para cá - conta Gugliotta.
O comerciante já viveu uma experiência parecida em 1979, quando o Mercado Público também sofreu um incêndio.
- A gente já viveu isso em 79. Naquele tempo, as bancas eram de madeira, o fogo foi interno, não pegou por fora. Desta vez, foi muito rápido. Em questão de minutos o fogo tomou conta - afirmou e, em seguida, continuou:
- A gente recupera, recomeça de novo. O importante é que temos saúde.
Ainda não há uma previsão oficial de quando o Mercado retomará as atividades, pelo menos nos locais onde não houve grandes danos.