Pela manhã, todos os dias, há 43 anos, o Rio Grande inteiro professa dois cultos: toma chimarrão e lê esta coluna, não necessariamente nessa ordem.
Há uns gaúchos e umas gaúchas que se entregam a um dilema cedinho, todas as manhãs: se tomam chimarrão ou café, se leem minha coluna ou se vão antes ao banho.
E muitos não resistem e leem minha coluna antes e só depois se atiram a todas as outras tarefas necessárias.
Esse é um rito que percorre o Rio Grande há quase meio século. Per saecula saeculorum.
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A Polícia Federal descobriu e prendeu gente que subornava ou se deixava subornar para que fossem retiradas criminosamente das margens do Rio Jacuí milhares de toneladas de areia.
Com esse butim criminoso, os autores desse atentado contra a natureza levaram a ser simplesmente desaparecidas sessenta (60) praias do Jacuí.
Repito: 60 praias.
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Eu penso exatamente como vou descrever agora: para mim, não há diferença entre as pessoas que subornam e se deixam subornar para arrancar areia do rio e os três assaltantes que queimaram em vida até a morte a dentista de São Paulo.
Não há diferença entre esses predadores e o rapaz que assassinou os seis taxistas em Livramento e aqui.
Todos cometem crimes hediondos, é assim que eu entendo.
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E, entre os que se deixaram subornar e estão presos e outros que podem vir a ser presos e tomara que o sejam, existem, acreditem, detentores de diploma de curso superior.
Ou seja, estudam, empregam-se no serviço público ou são escolhidos para cargos de confiança com a única finalidade de se corromperem.
Isto é de matar. São pessoas que estudaram, se formaram e usaram seu diploma para corromper a natureza.
É revoltante e causa um estresse na gente que fica observando esse esforço da polícia e do Ministério Público para levar esses bandidos às barras da lei.
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Eu noto o esforço das ONGs e de outros grupos de defesa do meio ambiente para conscientizar a população de que temos de respeitar a natureza e não agredi-la.
E esses sacripantas solapam todo esse esforço. E o pior: muitos desses sevandijas se incrustam no serviço público para levar a efeito essa destruição. Ganham salários públicos saídos do bolso da população e por fora se corrompem para devastar exatamente a natureza.
É demais!