Em um dia qualquer de 1980, no interior de Torres, bateu uma enxurrada terrível que levou casas por diante, vitimando dezenas de pessoas, que morreram afogadas.
O menino Oli Hofman, com 10 anos de idade, foi atirado para fora de sua casa pela violência das águas e permaneceu - inacreditável! - durante oito horas agarrado num galho de árvore, enquanto durou a enchente, que teimava em açoitar seu corpo de criança. Sobreviveu graças ao seu estoicismo.
Um herói.
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Fiquei comovido com a história daquele menino. Afinal, a enchente matou sua mãe e cinco dos seus seis irmãos, levados pelas correntezas.
Então, levantei uma campanha entre os leitores de Zero Hora para conseguir recursos, na forma de depósitos populares no Banrisul, de apoio ao garoto órfão.
O Rio Grande do Sul inteiro atendeu ao meu pedido e conseguimos uma quantia considerável.
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Com o dinheiro, adquiri o seguinte para o menino Oli: 13 hectares de terra, uma casa em cima desse terreno, inteiramente mobiliada, uma junta de bois e uma caderneta de poupança com razoável depósito.
O menino foi viver com seu pai na terra que a nossa campanha adquiriu para ele.
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Passados oito anos, um dia apareceu o Oli Hofman, já com 18 anos, aqui na Redação. Veio para pedir minha autorização para poder retirar o dinheiro da poupança e comprar uma moto.
Prontamente autorizei.
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Só que ontem, 32 anos depois da tragédia, surgiu-me em carne e osso o Oli Hofman, já com 42 anos, aqui na Redação.
Veio acompanhado de seu pai, do único irmão sobrevivente e, pasmem, de seu filho, Geovani Hofman, com 10 anos.
Vieram fazer uma visita a mim, recordar aqueles tempos de pesar e de esperança e mais uma vez demonstrar gratidão.
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Contou-me Oli que é agricultor na terra que eu consegui para ele. Planta bananas, arroz, feijão e cria algumas cabeças de gado. Tira seu sustento daquela terra.
Bebericamos café e guaraná no bar da Redação e afinal nos despedimos.
Mas não nos despedimos da vida. Ele prossegue lá em Três Pinheiros com a família que formou, entregue ao trabalho.
E eu permaneço por aqui, na mesma trincheira que cavei para esta luta de 42 anos de jornalismo, cuja mais marcante obra social foi aquela campanha que organizei para levantar o Oli e seu pai, sendo esta realização, junto com o Prêmio dos Direitos Humanos que um dia esta coluna obteve, os dois grandes marcos deste espaço da penúltima página de Zero Hora.
Opinião
Paulo Sant'Ana: "Bela recordação"
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