Não é só em Porto Alegre que o plano de ter um metrô na cidade anda em marcha lenta, quase parando. Devido à complexidade de uma obra desse porte e a fracassos no passado, os projetos de metrôs em cinco capitais brasileiras, anunciados pela presidente Dilma Rousseff desde o ano passado, caíram em descrédito pela população.
O gerente do projeto estrutural do metrô de Belo Horizonte, Warlei Agnelo de Oliveira, estava confiante na terça-feira, mas monocórdico, nas explicações sobre a futura linha subterrânea que cortará a capital mineira. Foi em uma pergunta que ele parou e, finalmente, riu. O que a população está achando?
- A população está ansiosa, mas também está cética... - ponderou.
Pudera. Belo Horizonte começou a construir um sistema de metrô há 15 anos, e, até hoje, está inacabado. A Linha 2 tem 10,5 quilômetros. O plano é finalizar esse trajeto, mas a grande expectativa em Minas é a Linha 3, que deve cruzar Belo Horizonte debaixo da terra.
Em Porto Alegre, a situação está indefinida. Enquanto a população esperava conhecer na segunda-feira o projeto escolhido para a obra do metrô, a prefeitura anunciou no mesmo dia que abriria uma nova proposta de Manifestação de Interesse. O motivo é que os dois projetos apresentados foram rejeitados, um pelo alto custo (R$ 9,5 bilhões, ante o limite de R$ 3 bilhões desejado) e o outro, por não seguir o determinado para o projeto.
Desistência e tentativa de retomada da obra
Curitiba voltou à estaca zero depois que o prefeito Gustavo Fruet (PDT) se elegeu. Ele questiona o projeto do antecessor, Luciano Ducci (PSB), por causa de subsídios anuais ao sistema metroviário, que seriam de até R$ 200 milhões. Fruet criou uma comissão para avaliar o projeto, e o relatório deve ficar pronto entre o final deste mês e o início de maio.
A população de Fortaleza também não confia muito que terá uma linha de metrô completa tão cedo. Desde meados do ano passado, a Linha Sul tem operação assistida, isto é, em formato de teste, com passagem gratuita. Tudo porque faltam duas estações para a linha se concretizar. Essa é uma parte do sonho. A outra é o projeto da Linha Leste, prevista para 2020.
Em Salvador, o prefeito ACM Neto (DEM) deve oficializar na semana que vem a transferência, para o governo do Estado, do maior abacaxi que a Capital tentava descascar nos últimos 13 anos. A Linha 1 do metrô conta com 6,6 quilômetros e quatro estações desde então. Até a Copa de 2014, espera-se que o governador Jaques Wagner (PT) consiga ampliar a obra, construindo mais uma estação e 5,6 quilômetros de trilhos. A missão já parece complicada. Imagine criar mais 24 quilômetros para a aguardada Linha 2. Não há data para tirá-la do papel.
Por que é tão difícil construir um metrô?
OBRA E PROJETO
- A resposta básica é que metrô é caro, especialmente obras enterradas. Portanto, a dificuldade principal é de financiamento.
- Demora em processos de desapropriação e licenças ambientais.
- O caráter sistêmico e multidisciplinar do projeto e implantação de metrôs. Uma linha de metro é composta de diversos subsistemas (trens, via, energia, sinalização telecomunicações, bilhetagem etc). Todos têm que ser projetados e implantados harmonicamente, não adianta ter um sem o outro, o que exige grande esforço de integração entre estudos e contratos de implantação.
- Nada no metrô está pronto para ser comprado e instalado. Tudo (trens, sinalização, energia etc.) tem de ser projetado, fabricado ou construído, testado etc.
ERROS E CORRUPÇÃO
Há desvios (maiores custos, menores resultados e dificuldade de financiamento) que resultam em paralisação de projetos, por três razões principais:
1) Erros nas projeções de demanda e custos, seja por inexperiência, seja por imprecisões próprias dos modelos de previsão, contra as quais não se faz análise adequada de sensibilidade.
2) O chamado "desvio otimista". Os responsáveis por projetos tendem a minimizar eventos desfavoráveis e contar com eventos positivos. Trata-se de mecanismo psicológico, pois não existe racionalidade pura. Neurologicamente, já sabemos que emoção e razão andam juntas.
3) Influência "política", que se manifesta de várias formas: desconsideração de alternativas de investimento (já está politicamente decidido o que será feito), inclusão de novos objetivos em projeto em andamento e, principalmente, a ideia de que para um projeto ser aprovado e financiado é preciso sobrevalorizar resultados e minimizar custos e riscos. Uma vez começado, o projeto se torna irreversível, e o dinheiro aparece.
Fonte: Telmo Giolito Porto, professor de ferrovias da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP)
A situação dos projetos
Porto Alegre
Com a rejeição dos dois projetos apresentados à prefeitura via Proposta de Manifestação de Interesse, o processo de construção do metrô praticamente voltou à estaca zero.
Extensão: 14,88 km
Estações: 13
Custo: R$ 3,085 bilhões
Método construtivo: cut and cover
Previsão de término: 2017
Curitiba
Parado devido à revisão pedida pelo prefeito Gustavo Fruet (PDT), que questiona valores do projeto, confeccionado durante o governo anterior. A comissão que analisa o projeto deve dar seu parecer até o final deste mês, e a tendência é rejeitar o projeto anterior, cujos dados seguem abaixo.
Extensão: 14,2 km
Estações: 13
Custo: R$ 2,3 bilhões
Método construtivo: elevado, cut and cover, NATM
Previsão de término: indeterminado
Belo Horizonte
Com projetos licitados, a prefeitura aguarda a liberação da Caixa. Tem uma linha parada há 15 anos. População é cética quanto à conclusão das obras.
Extensão: já existe uma linha de superfície. Deverá ser finalizada a Linha 2, de 10,5 km, e construída a Linha 3, com 4,5 km
Estações: 12 (linhas 2 e 3)
Custo: estimativa total é de R$ 3,1 bilhões
Método construtivo: indefinido
Previsão de término: 2018
Salvador
Prefeitura entregará o projeto do metrô oficialmente na semana que vem ao governo do Estado, já que não conseguiu terminar a obra ao longo dos últimos 13 anos.
Extensão: Linha 1 tem 6,6 km. Até a Copa, espera-se ter mais 5,6 km, restando mais 24 km da Linha 2
Estações: hoje, a Linha 1 tem quatro. O plano é construir mais uma até a Copa e outras 13 para a Linha 2
Custo: R$ 4,3 bilhões
Método construtivo: metrô deverá ser todo de superfície
Previsão de término: Linha 1 até 2014. Linha 2 ainda sem cronograma
Fortaleza
A Linha Oeste já existe, mas o transporte é por trem. Linha Sul foi inaugurada em junho do ano passado, sem duas estações. Incompleta, funciona em operação assistida, gratuitamente. Nova linha, a Leste, totalmente subterrânea, deve ter projeto executivo licitado em breve. Obra pode começar no segundo semestre.
Extensão: 13 km
Estações: as duas restantes da Linha Sul e 11 na Linha Leste
Custo: R$ 3 bilhões (Linha Leste) e R$ 35 milhões (estações da Linha Sul)
Método construtivo: shield
Previsão de término: 2020