Em 2001, uma lei que sugeria instituir em Bagé o Dia da Parada Gay foi duramente rejeitada: 20 votos contra um - apenas o proponente, o falecido ex-vereador do PSB, Paulinho Vesgo, foi a favor. Passados doze anos, uma nova versão da lei é apresentada pela vereadora do PT, Márcia Torres. A diferença de anos mudou a cidade - que ganhou reconhecimento nacional ao ter um casal de homossexuais a adotar uma criança - mas não tanto: vereadores de oposição não mais criticam abertamente, mas evitam tomar posição.
O projeto, que ainda não tem prazo para ser votado, estipula que 28 de junho seja o Dia Municipal contra a Homofobia e que na mesma data haja uma Parada LGBT (Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros e simpatizantes). Esse último ponto foi o que trancou a pauta mais de uma década atrás, segundo o vereador do PP, Antenor Teixeira, que na época foi contra:
- Havia problemas de inconstitucionalidade. Nós entendemos que para desfilar na avenida não é preciso que haja uma lei, senão teremos que criar uma lei para o 20 de Setembro também.
Ele sugeriu à vereadora que retirasse a proposta do desfile e aí acredita que haveria chance de passar, opção que não foi levada em conta pela proponente ao protocolar o pedido. A oposição do PT na casa prefere não se posicionar:
- Ainda não recebemos o projeto - fala o líder da bancada do PTB, Divaldo Lara, que questiona: - Mas é preciso averiguar bem, quem organizaria a parada? Com que dinheiro seria feita? Essas questões estão apontadas no projeto?
Não estão. O projeto foi protocolado no dia 18 de março e irá para as comissões ainda nesta semana. As comissões irão avaliar a legalidade e os impactos na economia do município. Caso passe por esse processo e depois da discussão no plenário, irá à votação. Até lá, segue o mistério sobre se Bagé realmente mudou:
- A cidade não tem qualquer movimento a favor dos direitos LGBT. Então esse é nosso primeiro passo para que haja uma unificação, para garantir tolerância e respeito - justifica Márcia.
A falta de movimentos sociais junto às fortes raízes com o tradicionalismo da região são fatores determinantes para que a cidade ainda tenha resistência sobre a questão homossexual, aponta o doutor em antropologia e professor da Unipampa, Daniel Etcheverry.
- Um dos valores do tradicionalismo é o machismo, que rejeita a ideia da homossexualidade. Na contrapartida, estão organizações internacionais, nacionais e movimentos sociais com forte discurso contra a homofobia, que acabam pressionando esses valores. Por isso, é preciso antes de tudo, que haja movimentos sociais para promover as mudanças que a cidade precisa.
Lembre do caso
Em agosto de 2001, o falecido ex-vereador de Bagé, Paulinho Vesgo (PSB), propôs que houvesse no dia 28 de junho o "Dia do Orgulho Gay". A proposta também colocava que na mesma data houvesse uma Parada Gay, na Avenida Sete de Setembro, no Centro, ao longo das sete quadras. O projeto gerou debate e foi rejeitado por 20 votos contra um.
A nova proposta
Estabelece a mesma data - 28 de junho - mas o nome muda para "Dia Municipal contra a Homofobia". Já a antiga "Parada Gay" ganha o nome de "Parada LGBT (Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros e simpatizantes). No projeto de lei enviado para Zero Hora, não há informações sobre quem organizaria o evento ou como seria pago.
Detalhe ZH
Lembre do caso do casal gay a adotar duas crianças:
No dia 27 de abril de 2010, um casal homossexual de Bagé obteve no Superior Tribunal de Justiça (STJ) uma vitória que mudou a história do direito de família no Brasil. A psicóloga Luciana Reis Maidana, 36 anos, e a fisioterapeuta Lídia Brignol Guterres, 44 anos, tiveram confirmado o direito de compartilhar a adoção de dois meninos, de seis e sete anos. A decisão, unânime, criou precedentes para que outros casais gays adotem filhos em conjunto.