Memorial a Getúlio Vargas, em São Borja (Cláudio Gottfried/Especial)
Quando o Oscar Niemeyer biológico morre, sua mais recente obra cresce em Porto Alegre, de concreto, vidro e curvas, como deve ser um Niemeyer. Atrás de tapumes numa ponta da Avenida Beira-Rio se esconde um gol antes da Copa do Mundo de Futebol, o Memorial Luís Carlos Prestes, instituição com inauguração prevista para março de 2013. Numa área da orla de conexão entre as obras do português Álvaro Siza, com a Fundação Iberê Camargo, e o espanhol Fermín Vázquez, autor do projeto de modernização do Cais do Porto, Oscar Niemeyer fecha o traçado de um caminho de arquitetura de nível internacional em Porto Alegre.
- O Memorial Luís Carlos Prestes e o Caminho da Soberania são as duas últimas obras importantes que Oscar fez - sentencia o arquiteto Paulo Niemeyer, responsável pelo detalhamento dos esboços de ambas criações junto com o bisavô. Paulo se refere aos dois projetos de Oscar Niemeyer para a Capital: além do Memorial, prestes a receber o fechamento de vidro na semana que vem, e o outro, em homenagem a outros vultos da História, Jango, Getúlio e Brizola, este ainda na condição de projeto.
Veja abaixo as obras do Memorial e o terreno do Caminho da Soberania
Em particular, Paulo ressalta o apreço de Oscar Niemeyer pelo projeto do Memorial, em função da amizade com o camarada Luís Carlos Prestes. O seu cuidado com essa criação chegava ao ponto de Niemeyer estar preocupado com a museologia da instituição e não admitir outro curador senão ele mesmo para a área expositiva com o acervo encarregado de contar a história do Cavaleiro da Esperança, nascido na Capital.
- É um projeto inovador no conceito do trabalho porque a parede que sustenta a obra funciona como uma coluna, mostrando beleza, solto do chão, como uma escultura - diz Paulo, referindo-se ao volume vermelho que envolve o prédio e à relação do Memorial com o entorno - vizinho à área do Caminho da Soberania (leia abaixo) - e ao fato de ser obra pública.
Edson dos Santos, presidente do Instituto Olga Benário Prestes, entidade nacional com sede na Capital, participa do grupo de amigos comunistas de todo país envolvidos no encaminhamento da criação do Memorial Luís Carlos Prestes. Junto com o agrônomo Luís Carlos Pinheiro Machado, representa a todos na fiscalização informal do prédio.
Responsável pela execução das obras recentes no Estado e pela "costura" dessa empreitada, o arquiteto Hermes Teixeira da Rosa lembra do momento em que Niemeyer aprovou com elogios o projeto estrutural, trabalho do engenheiro José Sussekind, encarregado de manter o estilo "solto" da proposta:
- O corpo da mulher era a arquitetura dele - disse, referindo-se ao melhor clichê gerado pela arquitetura contemporânea.
Como havia dificuldade de executar a obra no terreno enorme, de 11,25 mil metros quadrados, a solução foi uma parceria com a Federação Gaúcha de Futebol: em troca da metade da área, a instituição se encarregou de financiar a execução da obra e, após concluída, de manter o Memorial, resultado da aproximação dos prestistas com a Federação. Niemeyer viu na divisão do terreno a oportunidade de fazer deslanchar a obra.
Devido à concretagem, as rampas foram os elementos mais complexos de ser executados no trabalho com 70% das etapas concluídas. A obra, de pé-direito de 5,5 metros, está sendo construída em área com um metro de elevação em relação ao prédio da Federação, erguida com blocos de concreto e teto de laje dupla. O próximo passo será a instalação de dois vidros de 5mm cada no contorno de concreto pintado de preto. O prédio, circundado por um espelho dágua, é marcado por um volume vermelho em alusão a uma foice estilizada. Tudo protegido por tela galvanizada no fechamento do terreno de 900 metros quadrados e área construída de 750 metros quadrados. Dentro, a protagonista área de exposição, biblioteca e miniauditório (o Memorial usará a estrutura da Federação, projeto de Debiagi Arquitetos e Urbanistas, em obra).
Cronologia do Memorial
1989 - Oscar Niemeyer aceita realizar o desejo dos amigos de projetar o Memorial Luis Carlos Prestes, o que faz como doação. O detalhamento do projeto é do bisneto e arquiteto Paulo Niemeyer
1990 - Aprovação pela câmara municipal da doação do terreno da Prefeitura para a construção do Memorial
1998 - Lançamento da pedra fundamental do Memorial
15 de julho de 2008 - assinatura da minuta com a Federação Gaúcha de Futebol da cedência de 50% do terreno doado pela Prefeitura, com a contrapartida do compromisso da execução da obra e da posterior manutenção e segurança do Memorial
31 de agosto de 2011 - aprovação do projeto arquitetônico assinado por Oscar Niemeyer na Prefeitura de Porto Alegre
11 de abril de 2012 - início da obra
Dezembro de 2012 - 70% da obra realizada
Março de 2013 - previsão de conclusão e inaguração do Memorial
Caminho da Soberania, outro projeto para Porto Alegre
Projeto anterior do Memorial Luís Carlos Prestes, o Caminho da Soberania, homenagem a Jango, Getúlio e Brizola, em terreno à beira do Guaíba de 23 mil metros quadrados, ainda não entrou em campo. O arquiteto responsável pela execução do Caminho, quando for construído, Hermes Teixeira da Rosa, espera sensibilizar o poder público neste momento da morte de Oscar Niemeyer para aprovar o projeto da construção de 1,75 mil metros quadrados junto à Prefeitura Municipal, assunto que está sendo encaminhado pelo deputado Carlos Eduardo Vieira da Cunha. Essa região deve receber a sequência de uma rua na lateral que irá facilitar o acesso.
Outras obras no Estado
Concluídas
Memorial a Getúlio Vargas - São Borja
Inaugurado em 2004, na passagem dos 50 anos de falecimento de Getúlio Vargas, o mausoléu fica na praça que leva o nome do ex-presidente. Do projeto original, falta a construção de um espelho d'água. O arquiteto responsável, Hermes Rosa, viajará à cidade para garantir que o projeto fique completo. A prefeitura diz que foram feitas quatro licitações para contratar uma empresa que construísse o espelho d'água, mas ninguém se interessou. Outra tomada de preços será feita.
Casa do Povo - Vacaria
O prédio, inaugurado em 1986, é Patrimônio Artístico e Histórico do Estado desde 2008. O cilindro de concreto, com grandes janelas circulares, distribuídas ao longo da fachada, guarda um auditório para 450 pessoas. No início dos anos 2000, Niemeyer teria rejeitado a obra, em razão de modificações radicais feitas no traçado original e em decorrência do abandono. Havia, entre outras intervenções, uma churrasqueira. Em 2005, a obra voltou a integrar o catálogo do escritório do arquiteto carioca.
Não concretizadas
Instituto de Previdência do Estado (IPE) - Porto Alegre
O prédio da sede do Instituto de Previdência do Estado (IPE) foi o primeiro grande e não executado projeto de Oscar Niemeyer para Porto Alegre. O edifício concebido por Niemeyer teria 16 andares _ quatro pavimentos para o IPE, cinco para escritórios privados e sete de apartamentos. De acordo com a assessoria do IPE, o projeto do arquiteto ficará apenas na lembrança, pois não há intenção de colocar a obra prevista inicialmente em execução.
Centro Amrigs - Porto Alegre
Projetado para ser erguido no centro de Porto Alegre, o Centro Amrigs, hoje na Avenida Ipiranga, deveria ser o segundo prédio de Niemeyer na Capital. A construção abrigaria hotel, centro administrativo, restaurante e auditório de 2 mil lugares. O edifício construído pouco lembra a escala e as formas do projeto original. A Amrigs guarda todo o material produzido pelo arquiteto e pretende fazer uma exposição.
Memorial Oswaldo Aranha - Alegrete
Idealizado pelo ex-prefeito Adão Faraco (1983 _ 1987), o Memorial Oswaldo Aranha será construído a partir de uma parceria entre poder público e patrocinadores, com gerência do Instituto Memorial Oswaldo Aranha, coordenada por familiares do alegretense homenageado. No início deste ano, a prefeitura doou uma área de 872 metros quadrados, às margens da rodovia Alegrete-Uruguaiana (BR-290). A construção, avaliada em R$ 1,5 milhão, será iniciada em 2013.