
A construção da Six Semicondutores em Minas Gerais, com forte apoio financeiro do governo federal, vai mudar os planos da Ceitec. A nova empresa, que tem como um dos sócios Eike Batista, o maior bilionário brasileiro, deve se dedicar a fazer chips com uma tecnologia que a estatal instalada em Porto Alegre planejava ter.
- O nosso próximo passo seria esta tecnologia de 90 a 130 nanômetros que a Six vai ter. Teremos de reprogramar o jogo - admite o presidente da Ceitec, Cylon Gonçalves da Silva.
Quanto menor o número de nanômetros (medida que equivale a um milionésimo de milímetro), mais sofisticadas são consideradas as fábricas. Hoje, a Ceitec produz o chip do boi, com 600 nanômetros, e o que será utilizado em passaportes, com 180 nanômetros.
A chegada da Six, entretanto, também tem reflexos positivos para a Ceitec. O design house, braço de negócio da empresa onde são projetados os circuitos integrados, pode se beneficiar. Neste caso, chips desenvolvidos pela Ceitec poderiam ser manufaturados no Brasil, e não na Ásia, como ocorre hoje.
- É mais barato adotarmos uma logística doméstica do que mantermos uma internacional - explica Cylon.
A decisão do governo federal de financiar mais da metade do investimento de R$ 1 bilhão para a unidade mineira e também dividir o controle com Eike Batista (veja quadro ao lado), entretanto, também virou controvérsia. Para Claudio Frischtak, ex-economista do Banco Mundial e presidente da Inter B Consultoria, como a Ceitec já é uma estatal federal e encontra dificuldades para deslanchar, o correto seria direcionar os investimentos para a unidade gaúcha.
- O governo federal poderia repensar a Ceitec, dar uma orientação mais comercial, trazer parceiros privados, fazer uma parceria público-privada (PPP). A Ceitec já tem uma estrutura pronta e isso é meio caminho andado - opina Frischtak.
Projeto mineiro tem foco mais comercial
Para o secretário estadual de Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico, Cleber Prodanov, embora a Six e a Ceitec não tenham a mesma missão - enquanto a primeira terá um sentido mais comercial, a gaúcha adota um caráter de laboratório, de formação de recursos humanos e de produção em pequena escala - faria mais sentido instalar a unidade no Estado pela existência de outros elos do segmento de semicondutores:
- Às vezes, a lógica empresarial é outra.
Para presidente da Ceitec, Cylon Gonçalves da Silva, um dos motivos para levar o investimento a Minas Gerais seria a imagem negativa da Ceitec que teria sido criada no Estado pela imprensa, como no caso de Zero Hora, crítica quanto aos atrasos no projeto.
Um dos maiores conhecedores do setor no Estado, o empresário Ricardo Felizzola, presidente da HT Micron, voltada ao encapsulamento de chips, considera que Ceitec e Six serão complementares, não concorrentes:
- A Ceitec tem o papel de aumentar o conhecimento na área. Não teria a capacidade de produção que haverá em Minas. A iniciativa da Six é louvável.
Concorrentes hi-tech
A Ceitec
- Criada em 2000, a Ceitec foi federalizada em 2008. Em 2004, começou a receber os primeiros investimentos. Até hoje, foram aplicados cerca de R$ 500 milhões na empresa.
- Este ano será o primeiro exercício em que a Ceitec terá faturamento. A receita pode chegar a R$ 300 mil. A expectativa é superar R$ 1 milhão em 2013.
- A expectativa é equilibrar receitas e despesas até 2015. Hoje, o orçamento da estatal é de R$ 50 milhões ano.
Negócios em andamento
- Em setembro, assinou convênio com a Casa da Moeda para produzir o novo chip que será usado no passaporte brasileiro. Após 2014, todos os passaportes deverão ter o chip. A produção é estimada em 2,2 milhões de unidades/ano.
- Desde agosto, a empresa gaúcha Fockink, vende brinco utilizado na identificação animal com chip desenvolvido pela Ceitec. A companhia já assinou uma carta de intenção de compra de 500 mil unidades do chamado chip do boi.
- Outro negócio em estágio inicial é o fornecimento de etiquetas eletrônicas para cartuchos de impressão. Já foram vendidos 120 mil chips para a HP e 20 mil para a Epson.
A Six Semicondutores
- Sócios:
BNDES: 33,02%
Grupo EBX (Eike Batista): 33,02%
IBM: 18,8%
Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG): 6,5%
Matec Investimentos: 6,07%
WS IN-TECS: 2,59%
- Localização: Ribeirão das Neves (MG)
- Previsão de início de produção: 2015
- Investimento: R$ 1 bilhão
- Financiamento: R$ 202 milhões da Finep e R$ 267 milhões do BNDES