Aos 203 anos, Rio Pardo tem prédios históricos fechados e se mobiliza para buscar recursos para restaurações.
Caminhar pelas ruas da bicentenária Rio Pardo é uma aula de história. Em uma esquina fica o prédio onde estudou - e foi expulso - o ex-presidente Getúlio Vargas. Naquela outra casa hospedou-se Dom Pedro II, no século 19. E, logo ali, está a primeira rua pavimentada do Estado, com as pedras originais calçadas por escravos.
Como uma senhora de idade não muito bem cuidada, a cidade revela as interferências negativas do tempo com a degradação de seu patrimônio. O museu que abriga documentos da Revolução Farroupilha está fechado para visitas e a quarta igreja mais antiga do Estado ficou interditada por três anos - e ainda necessita de restauração completa.
Uma das alegações da prefeitura para não investir em reformas é a burocracia que envolve o patrimônio histórico. É o caso do Solar Almirante Alexandrino de Alencar, que pertence ao Ministério da Cultura, e abriga cerca de 1,8 mil itens do Museu Histórico Municipal Barão de Santo Ângelo, fechado para visitas há um mês.
Projeto para recuperar a Igreja Matriz esbarra na falta de recursos
Foto: Clarissa Cunha / Especial
Na tentativa de amenizar o problema, uma equipe executa reparos emergenciais no assoalho e forro do imóvel construído em 1790. Também há uma negociação em andamento para passar o prédio ao município.
- Acredito que essa mudança pode dar mais agilidade às obras, reduzindo a burocracia - afirma a presidente da associação de amigos do museu, Aida Ferreira.
Diferentemente do museu, no entanto, a Capela São Francisco, já tem um projeto de restauro pronto, com custo estimado em R$ 4 milhões, mas faltam interessados em financiar a obra, lamenta o presidente da associação zeladora da igreja, Jorge Luiz Trombetta:
- Já tivemos o projeto aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura (LIC), mas o prazo venceu e o dinheiro não chegou.
Enquanto a reforma não acontece, a capela já contabiliza quatro anos de interdição. A Igreja Matriz Nossa Senhora Do Rosário, a quarta mais antiga do Estado, chegou a ficar fechada por três anos, mas desde outubro do ano passado voltou a sediar missas e receber visitantes.
No momento, passa por manutenção no reboco e na pintura - voltando à cor original - custeada por empresas e pela paróquia. A igreja também tem um projeto de restauro pronto, estimado em R$ 7 milhões, mas esbarra na captação de recursos.
Para preservar
- No município, há mais de uma entidade organizada para garantir o restauro do patrimônio, como a União dos Ex-Alunos Amigos do Auxiliadora (Uneama), responsável por recuperar o prédio construído em 1848 que sediou a primeira Escola Militar da então Província, onde estudou Getúlio, e transformá-lo, em 2005, no Centro Regional de Cultura.
- A obra custou cerca de R$ 3,8 milhões, custeada pela Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), através da LIC. No total, o município tem 102 prédios arrolados, mais de 90% deles privados. Com isso, os proprietários têm o dever de manter os imóveis conservados e, em troca, são isentados do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) de quatro a oito anos.