Documentos revelados por Zero Hora nesta quinta-feira comprovam que o ex-deputado federal (PTB-SP) Rubens Paiva foi preso por militares e levado ao Departamento de Operações e Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) no dia 20 de janeiro de 1971. A história do político pode ajudar a desvendar alguns dos mistérios ainda escondidos nos porões da ditadura militar.
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Veja os fatos que marcaram a vida de Paiva e seus desdobramentos nos últimos anos:
- Em 1962, é eleito deputado federal pelo PTB paulista.
- Em fevereiro de 1963 participou da CPI para examinar as atividades do IPES-IBAD (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais - Instituto Brasileiro de Ação Democrática). A instituição financiava palestrantes e escritores que escreviam artigos avisando sobre a chamada "ameaça vermelha" no Brasil.
- A CPI apurou que militares, que depois se envolvidos na destituição de João Goulart, receberam dólares dos EUA.
- Após a destituição de João Goulart, em 31 de março de 1964, seria um dos primeiros parlamentares cassados pelo Ato Institucional número 1, em 10 de abril. Fica nove meses exilado na Europa e retorna ao Brasil.
- Entre a metade dos anos 60 e o início da década de 70, Paiva notabiliza-se pela luta em defesa das liberdades individuais e pela restituição da democracia no país.
- É monitorado por supostamente trocar cartas com exilados brasileiros no Chile.
- É visto pela última vez ao ser preso em sua casa no Leblon, Rio de Janeiro, no dia 20 de janeiro de 1971.
- O desaparecimento de Paiva tornou-se um dos símbolos da ditadura.
- Em 1979, ao comentar a decisão do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), de declarar encerrados o caso de Rubens Paiva e de mais 47 desaparecidos, a mulher do ex-deputado, Eunice Paiva, destacou que "o governo confessou o crime mais uma vez, como o confessou ao promulgar a lei da anistia, com o artigo que admite a hipótese de pessoas desaparecerem pelo fato de estarem em atividades políticas".
- Em 1987, O médico Amilcar Lobo, que trabalhava no DOI-Codi, afirma em entrevista à Revista IstoÉ, ter visto e atendido Rubens Paiva. Ele declara que Rubens "era uma equimose só".
- À Revista Veja, em 1992, o ex-sargento Marival Dias Chaves do Canto informa que Paiva teria sido levado por um destacamento do I Exército para a casa de Petrópolis, onde acabou morto. Segundo Marival, os militares teriam usado o método de cortar o corpo aos pedaços e enterrar em locais diferentes.
- Em 1996, a União pede a certidão de óbito de Paiva.
- Em 1998, a Justiça determina que a União pague R$ 620 mil em sentença favorável à ação da família. Eunice, a viúva, não aceita e recebe apenas o atestado de óbito.
- Em 1999, reportagem do Fantástico, da Rede Globo, conta que um soldado e um civil, informante dos militares, participaram de uma operação de ocultação de cadáver em 22 de janeiro de 1971 num terreno no Alto da Boa Vista, Rio de Janeiro. O corpo poderia ser o de Paiva. Após escavações no terreno, nada foi encontrado.
- Em 2001, a Justiça assegura indenização por dano moral e material à família. A União foi condenada a pagar R$ 3 mil, multiplicados pela expectativa de vida, acrescidos das despesas que a família teve tentando encontrá-lo e 350 salários mínimos para a mulher e os cinco filhos. Eunice ganha seguro de vida e pensão vitalícia do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).
- Em entrevista à TVCOM, em março de 2004, o ex-presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Aloísio Lorscheider, disse que a Igreja suspeitava que o ex-deputado tivesse sido executado e seu corpo jogado ao mar.
Símbolo da resistência
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