Em uma temporada acidentada, um guri de 19 anos, magrinho e de sorriso fácil, surge como a principal notícia do Inter em 2012. Fred começou a receber chances ainda na equipe de Dorival Júnior. Um tanto contragosto, afinal, o atual treinador do Flamengo entendia que o moleque de Belo Horizonte ainda não estava pronto para o time de cima. Diante do Santos, hoje à tarde, Fred será uma das esperanças do Inter para tentar a inédita vitória na Vila Belmiro - e manter o clube vivo na busca pela vaga à Libertadores.
Comparado a Tinga, devido à intensa movimentação no meio-campo, Fred prefere espelhar-se em Ramires, mas é fã declarado de Robinho. No Beira-Rio, havia a certeza que Oscar seria bem substituído pelo camisa 35. Fred ganhou a confiança de Fernandão ao destacar-se na falta dos medalhões, muitos lesionados, outros suspensos, quando ocorreu a troca de treinador na equipe, em julho. O meia demonstrou que estava pronto para o desafio do Inter. A seguir, ZH conta um pouco da história da nova joia colorada.
Nascido em Belo Horizonte, Fred passou a infância no bairro de Venda Nova. Filho de funcionários públicos, ele morou em um conjunto habitacional. Foi uma criança feliz, sem luxos, mas também sem passar necessidade - como costuma ocorrer com boa parte dessas histórias da bola. Longe disso. A partir dos cinco anos começou a frequentar escolinhas de futebol. Começou na de Éder Aleixo, ex-ponta-esquerda do Atlético-MG, do Grêmio e da Seleção Brasileira.
GALERIA DE FOTOS: Veja imagens da infância de Fred
Todos os dias, após as aulas do jardim de infância Chapeuzinho Vermelho, Fred embarcava no ônibus com o Vô Gersino (falecido há um ano) e rumava para aquela espécie de estágio. Jogava em quase todas as posições, só não pegava de goleiro porque era bom de bola e de zagueiro, por não ter corpo. Mas brincava até na lateral-esquerda.
Éder vendeu a escolinha, que passou a se chamar Liga Mineira, e Fred mudou de camisa pela primeira vez. Aos oito anos, ganhou uma bolsa para estudar em um das mais tradicionais escolas particulares de Belo Horizonte, o Colégio Magnum. Cursava o Ensino Fundamental e, sobretudo, era o ala titular do time de futsal da escola - que também sempre estava entre os melhores de Minas Gerais.
Os três anos de dribles no salão levaram o guri ao Atlético-MG. Houve festa na casa dos Rodrigues. Afinal, a família é composta na íntegra por atleticanos. Fred até hoje pega o "Galo" para jogar o game Fifa 12 - a nova versão, o Fifa 13, ele comprou dias atrás. Na Europa, opta pelo Chelsea, de Ramires e de Oscar. E, é claro, Fred sempre escala-se em um dos dois times. A transição do futsal para o campo também liberou o guri das aulas de teatro. Roseli, 47 anos, a mãe coruja de Fred, que mudou-se com o filho único para Porto Alegre há três anos, e que é uma espécie de conselheira e também ministra da Fazenda do meia, foi obrigada a aceitar que teria um filho jogador e não ator, como ela chegou a sonhar.
- Marquei três gols pelo Inter e tive boas atuações, mas o que mais me marcou foram aqueles 45 minutos contra o Atlético-MG - conta Fred, lembrando da derrota em Belo Horizonte, por 3 a 1, o jogo que derrubou Dorival Júnior, mas que apresentou Fred ao Brasileirão, com um gol de cabeça aos 19 minutos do segundo tempo.
Há um caso de amor e ódio entre Atlético-MG e Fred. Daí a importância daquele gol no Independência. Aos 16 anos, Fred negou-se a assinar o seu primeiro contrato profissional com o clube. Alexandre Lima, seu empresário, havia recebido uma oferta melhor do Porto Alegre (hoje extinto), de Assis. De Belo Horizonte para o Lami, a mudança foi grande. Por isso, Roseli veio com o filho. Um ano depois, Fred era levado ao Inter. Ao tomar conhecimento da transferência, o presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil, acusou o Inter de pirataria e reclamou da postura de Fred.
- Fiz a coisa certa - diz o meia, com segurança.
Fred mudou-se com a mãe para uma casa de dois quartos na Hípica, zona sul de Porto Alegre, perto do Lami. Por vezes, a namorada Thalita, 21 anos, muda-se para lá. Com um salário mais encorpado no time de cima, ele pôde comprar uma casa um pouco maior, com quatro quartos, próximo ao condomínio no qual vive atualmente.
- A casa é maior, mas não muito - avisa Roseli. - Se pega uma casa muito grande desce toda BH para cá - emenda, com um acentuado sotaque mineiro.
A mãe brinca que Fred é magrinho porque não para nunca. Agora, está na faculdade - com incentivo materno. No vestibular de inverno do IPA (Instituto Porto Alegre), passou para Educação Física. Cursa o primeiro semestre, à noite. E quando as viagens, jogos e concentrações não impedem a presença na classe. É o xodó da turma, o que não o impede de sofrer com os colegas gremistas. Principalmente após a derrota no Gre-Nal.
- Eles não me perdoaram depois do clássico. Pegaram no meu pé a semana toda - recorda o jogador.
- Fred é um excelente aluno, esforçado e estudioso - elogia a professora Leda Ferri Nascimento. - E está me devendo uma camisa do Inter - brinca a professora da cadeira de Ginástica Geral.
Indecisão no cartório
Frederico Rodrigues de Paula Santos escapou de ter sido registrado como Délion. Isso mesmo: Délion. Roseli recém havia voltado do hospital com o filho, quando o pai, Delson, foi ao cartório registrar o filho. Ela sonhava com Frederico - nome de um menino quietinho, filho da sua cabelereira -, Delson queria o ousado Délion. Por sorte, antes de ir ao cartório, Delson foi ao departamento do INSS, onde trabalhava, e comentou com os colegas sobre o nome que havia escolhido para o guri. Só faltou ser vaiado na repartição.
- Felizmente, ao voltar para casa, um tanto contrariado, o Delson disse: "Tá bem, registrei Frederico" - conta a vitoriosa Roseli.
Apesar de Delson e Roseli estarem separados há alguns anos, eles são o esteio de Fred. A mãe, que costuma esperar o filho com peixinho ou carninha com salada para o almoço, controla o salário de Fred e lembra o meia do dia do vencimento das contas. Também telefona para Fred para saber onde o guri anda, geralmente chamado pelo nome inteiro: "Frederico". Fica em cima, mas sem perder a ternura. E adora contar a história que Fred foi gerado em Porto Alegre, quando ela e Delson ficaram na cidade para um seminário de servidores públicos que durou 20 dias. Logo na entrada de casa, Roseli montou um quadro com um mosaico de fotos do filho famoso, desde a meninice até a titularidade no Inter.
- Sou coruja mesmo, sempre fui. Agora ainda mais que somos só nós dois aqui - afirma Roseli.
Não fossem os óculos e o enorme relógio de marca, ambos brancos - segundo Fred para "contrastar com a minha pele" -, Fred fugiria de todos os padrões do boleiro. Dirige um Gol (branco) e, por causa de Thalita, frequenta filmes que fogem um pouco da combinação "porrada e tiros". Na quinta-feira, antes da aula, foi ao cinema assistir ao francês Intocáveis - a história real de um milionário francês, tetraplégico, que acaba criando um forte laço de amizade com o seu enfermeiro argelino.
- Gosto desse tipo de filme. É inspirador - define Fred.