O sucesso de um filme em seu país de origem nem sempre é indicativo de êxito internacional. O cinema francês tem um caso assim: A Riviera Não É Aqui (21 milhões de espectadores), o mais visto lá em todos os tempos, mas de pouca repercussão fora de casa. Coube ao segundo colocado, Intocáveis (que somou na França um público de 20 milhões), romper essa barreira e tornar-se um fenômeno mundial: com mais de 23 milhões de espectadores em outros países, tirou de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain o título de filme francês mais visto no Exterior.
Nesta terça-feira foi anunciado que Intócáveis será o representante da França para disputar uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2013. A comédia dramática, sobre a improvável amizade entre um milionário francês tetraplégico e um imigrante senegalês que este contrata como assistente, cumpre um desempenho fantástico no circuito global que corre à margem dos blockbusters. Já somou 23 milhões de espectadores fora da França, 308 mil deles no Brasil (com três semanas em cartaz), sendo 23 mil em Porto Alegre. Nos EUA, Intocáveis ganhou como grande divulgadora a cantora Madonna, e o remake em Hollywood está caminho, estrelado por Colin Firth.
No Brasil, conseguiu um feito raro: nas primeiras semanas de exibição teve aumento de público,quando a regra do mercado é a diminuição progressiva. Nesta terceira em semana em exibição, teve queda de apenas 18%, em vez dos mais de 40% de outros títulos. Intocáveis se impôs até aos aos reparos de parte da crítica, que sublinha os excessos melodramáticos e os clichês que forçam a mão para ressaltar o antagonismo social e cultural entre entre os dois protagonistas.
- O boca a boca tem sido muito forte - diz Hormar Castello, diretor de programação da rede GNC. - Quando assistimos a Intocáveis, vimos que era um filme diferenciado e com potencial para ser exibido em nossas salas dos shoppings Iguatemi e Praia de Belas, voltadas para títulos mais comerciais. E está tendo um desempenho excepcional. A tendência é ficar um longo tempo em cartaz.
Intocáveis tem distribuição nacional da Califórnia Filmes, responsável por cerca de 70% dos lançamentos de longas franceses no Brasil nos cinemas e no mercado de vídeo.
- Já é nosso maior sucesso francês aqui. Entramos na briga por esse filme ainda na fase do roteiro - explica Eusébio Munhoz, diretor comercial da Califórnia. - Havia muita expectativa na França, por ser inspirado em uma história real que virou livro de sucesso e por reunir dois atores muitos queridos lá, o François Cluzet, grande nome do cinema francês, e o Omar Sys, que comanda na TV um talk show muito popular.
Outros elementos que pesaram na grande aceitação de Intocáveis na França foram seu chamado ao entendimento e à tolerância, por conta do histórico dos permanentes conflitos étnicos gerados pelo passado colonialista daquele país - o tema foi atualizado trocando o assistente argelino original por um senegalês - e, destaca Munhoz, a história de superação vivida pelo próprio Cluzet: a primeira mulher do ator morreu aos 41 anos de um tumor cerebral, e um de seus filhos enfrentou uma grave doença.
- Chorei duas vezes diante de Intocáveis: quando o vi pela primeira vez, ainda numa versão promocional, e quando quase perdemos os direitos de lançá-lo. Foram 14 meses de uma dura negociação até o comprarmos - lembra Munhoz. - Lançamos em 110 salas, número expressivo para um filme europeu, apostando no seu perfil mais comercial.
A percepção de Munhoz é respaldada por Carlos Schmidt, proprietário da rede Guion, referência no circuito de arte na Capital:
- Não foi estas coisas por aqui, apesar de ter sido a nossa melhor renda durante o período em que ele está em cartaz. O perfil dele é bem abrangente, está em muitas salas e acabou ficando muito popular. De qualquer forma, as pessoas adoram o filme. Mas O Último Dançarino de Mao foi mais impactante em termos de reação do público.
A aposentada Maria Helena Padilha, 72 anos, encarou a noite chuvosa de segunda-feira para conferir Intocáveis no Guion. E, como destacou Schmidt, ela adorou:
- É muito engraçado, mas também passa uma mensagem de entendimento. Ambos (os protagonistas) queriam a mesma coisa: a paz, a felicidade. A partir do encontro, mudaram a vida um do outro e a própria.
Maria Helena tocou num ponto que, para Munhoz, é a chave para a grande empatia de Intocáveis junto ao público:
- A química entre François e Omar é perfeita. Arrisco dizer que antes deles só vi isso com o Leonardo DiCaprio e a Kate Winslet em Titanic (risos).
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