Glam metal. Hair metal. Metal farofa. Não importa o nome: passou laquê no cabelo e vestiu uma calça com estampa de zebra, é parte da cena. Uma cena surgida no final dos anos 1970 e que viu seu ápice na segunda metade dos anos 1980, mais precisamente na Sunset Strip, em Los Angeles.
A zona oeste de Hollywood, repleta de bares e casas noturnas, tornou-se a incubadora de dezenas de bandas e espécie de Terra Prometida do rock.
A origem de tudo remonta ao glam rock britânico setentista de David Bowie, T-Rex e Gary Glitter, pegando pesado na maquiagem, na androginia e no apelo sexual. A música que reverberava pelas caixas de som, no entanto, tinha outra pegada: mais rápida, alta, violenta e simples, bebendo direto do hard rock produzido pelo Van Halen - cujo vocalista David Lee Roth era referência no quesito performance. Já as letras eram crônicas do cotidiano de sexo, drogas e festas que seus jovens compositores viviam - ou ansiavam por viver.
Mas assaltar o estojo de maquiagem da mãe e ser malvado em cima do palco não garantia a ampliação do público, o que foi resolvido com a introdução das power ballads. As músicas românticas foram as responsáveis por dar o formato definitivo à estética musical da cena e colocar suas bandas para rodar na rádios mainstream e na MTV - que, em 1987, se viu obrigada a criar um programa voltado exclusivamente para dar conta da demanda.
Na época, a Sunset Strip não apenas via nascer de suas entranhas moleques cabeludos e com roupas espalhafatosas que viravam milionários da noite para o dia com suas bandas - como Mötley Crüe, Quiet Riot e Guns N' Roses -, mas também recebia gente de fora, como Bon Jovi (New Jersey), Poison (Pensilvânia) e Twisted Sister (Nova York). Com os olhos das gravadoras voltados para Los Angeles, não demorou para que outras bandas se adequassem, mudando não apenas seu estilo de tocar, como também os cortes de cabelo e guarda-roupas - Whitesnake, Scorpions e Def Leppard são os exemplos mais gritantes dessa guinada.
Mas a maquiagem começou a escorrer quando a úmida e sem-graça Seattle explodiu no noticiário com uma proposta musical completamente diferente do glam. Sem nenhum glamour e fazendo uma música pesada não apenas no instrumental, mas nos temas, o movimento que ficou conhecido como grunge soterrou os sonhos brilhantes da Sunset Strip. Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden e Alice in Chain eram como parentes distantes e crescidos na adversidade que chegaram para tomar - e, pior, esnobar - a máquina de dinheiro dos farofeiros. E o rock nunca mais foi o mesmo.
O glam metal nos anos 2000
Enterrado comercialmente pelo grunge no início dos anos 1990, o glam metal norte-americano persiste até hoje no coração dos fãs. Alguns são tão fãs que vão além e insistem no gênero, como é o caso do The Darkness. Surgida em 2003, a banda inglesa arrebanhou milhares de seguidores com seu visual espalhafatoso e suas guitarras estridentes, tomando de assalto um cenário dominado por bandos de garotos de cabelos mal cortados, roupas de brechó e atitude blasé.
O grupo, liderado pelo vocalista Justin Hawkins, estourou com o single I Believe in a Thing Called Love, mas não durou muito. Depois de um segundo disco malfadado, em 2005, a banda deu um tempo e voltou este ano com Hot Cakes, que tem recebido boas críticas.
Já o caso do Steel Panther é outro. Começou como banda tributo e agradou tanto aos fãs de glam metal que acabou por lançar discos com músicas próprias - que giram sempre ao redor de sexo, mulheres e... sexo. O visual exagerado e a interpretação fiel dos personagens que satirizam dentro e fora dos palcos garantem uma agenda cheia e casas sempre lotadas. Para este ano, preparam o lançamento do documentário The British Invasion.
Entre na batida do metal farofa
Para ouvir
Shout at the Devil
Em seu segundo disco, de 1983, o Mötley Crüe se firmou como uma potência musical da cena glam metal de Los Angeles, vendendo milhões de cópias, e também virou referência estética. Depois de Shout..., rímel, batom e laquê viraram itens obrigatórios para bandas postulantes ao sucesso.
Look What the Cat Dragged In
O Poison só precisou de um disco para provar que suas habilidades nos instrumentos eram inversamente proporcionais ao cuidado com que se maquiavam - o que parecia um bom negócio para a gravadora. E foi, de fato: o debut atingiu o terceiro lugar entre os discos mais vendidos do 1986.
Night Songs
Exemplo maior de que o negócio era ter os amigos certos, o Cinderella mal lançou seu primeiro disco, em 1986, e logo saiu em turnê mundial. Abrindo para os coirmãos do Bon Jovi, botou seu álbum entre os mais vendidos daquele ano enquanto excursionava pelo mundo.
Metal Health
O Quiet Riot é apontado como o responsável, para o bem ou para o mal, por viabilizar o glam metal. Tudo culpa de Metal Health, terceiro disco do grupo que, lançado em 1983, vendeu três milhões de cópias logo de saída graças aos singles Bang Your Head (Metal Health) e Cum on Feel the Noize.
Out of the Cellar
O segundo álbum do Ratt foi unanimidade de público e crítica. O trabalho trazia os hits Round and Round e Wanted Man e levou o disco de platina tripla nos EUA. Mas sua maior contribuição foi apresentar ao mundo a top Tawny Kitaen, que estampa a capa do álbum (e depois se casaria com David Coverdale...).
Appetite for Destruction
Lançado em 1987, o álbum de estreia do Guns N' Roses é mais do que um dos discos mais vendidos da história. Superior a qualquer um dos seus concorrentes, também marca o início do fim da cena glam metal de L.A., que se rendeu ao seu cantor instável e um guitarrista com talento sobrenatural para criar riffs.
Para ler
Heroína e Rock'n'Roll
O livro de 2008 revela o diário que o baixista do Mötley Crüe, Nikki Sixx, manteve entre os natais de 1986 e 1987, período em que foi viciado em heroína. As quase 500 páginas narram a luta de Sixx contra a droga.
Slash
O eterno guitarrista do Guns N' Roses lançou, em 2008, sua autobiografia. Escrita a quatro mãos com o jornalista Anthony Bozza, a obra esclarece desde a origem do visual icônico do músico (cartola, cabelos cobrindo o rosto) até a obsessão por cobras.
The Dirt
O Mötley Crüe é possivelmente a banda que tem as melhores histórias - verdadeiras ou não - para contar. Infelizmente ainda inédito no Brasil, o livro do jornalista Neil Strauss é um mergulho no mundo de excessos do glam metal oitentista.
Roses & Thorns
Cara e voz do Poison, Bret Michaels prepara para este ano o lançamento de sua autobiografia. Mas já adiantou que não entrou em polêmicas com seus irmãos de armas purpurinadas.
My Appetite for Destruction
Steven Adler foi demitido do posto de baterista do Guns 'N Roses por abuso de drogas. Processou a ex-banda, montou outra, entrou em um reality show para celebridades em reabilitação e, em 2010, contou tudo em um livro.