É um conto de fadas o primeiro longa que a Pixar, o revolucionário estúdio de animação incorporado pela Disney, reservou para ser protagonizado por uma mulher. Em exibição em sessões de pré-estreia desde o fim de semana, Valente estreia na sexta-feira nos cinemas.
A história é a de uma princesa de cachos ruivos esvoaçantes que vive nas Terras Altas da Escócia num período não identificado, mas certamente algumas centenas de anos atrás. Merida (voz de Kelly Macdonald no original) é apaixonada por arco e flecha, tem espírito aventureiro e não suporta as formalidades da corte. Toda a trama se passa entre a insistência de sua mãe, a Rainha Elinor (Emma Thompson), em escolher o pretendente ideal para a donzela, e a sua revolta adolescente contra esta imposição.
A diversão maior está na graciosa rudez do Rei Fergus (Billy Connolly), nas composições dos tipos concorrentes ao posto de príncipe e em seus respectivos pais, além do trio de ruivinhos capetas, irmãos mais novos de Merida. Mas o foco de Valente, aquilo que amplia seu apelo aos adultos e o caracteriza como um filme da Pixar, é a complexidade da abordagem da relação entre mãe e filha.
Inconformada com a determinação da rainha em fazer dela uma princesa delicada e regrada, algo que vai contra a sua natureza serelepe, Merida foge. Encontra uma bruxa (Julie Walters) e encomenda dela um feitiço para mudar a personalidade de Elinor.
Um dos pontos negativos de Valente é a sua previsibilidade, excessiva mesmo em se tratando de um filme voltado, em grande parte, para o público infantojuvenil: o feitiço vai dar errado, e a rainha será transformada em um monstro, o que faz com que as duas, mãe e filha, tenham de unir forças para desfazer a maldição.
É neste ponto que o interesse do público adulto pela história diminui, e Valente se torna uma das mais limitadas e menos inspiradas produções da Pixar desde que ela foi incorporada pela Disney, em meados dos anos 1990. O filme também é o mais sombrio e assustador da série que inclui Toy Story, Wall-E, Up, Ratatouille e Procurando Nemo. Isso porque o monstro em que Elinor se transforma é, na verdade, um urso gigante semelhante ao que destroçou a perna de Fergus antes de ele se tornar rei. E, quando o pai de Merida descobre que há um daqueles animais soltos pelo reino, dá início a uma caçada cheia de tensão e com alguma dose de violência. Não dá tempo nem de a princesa explicar a ele que se trata da própria rainha transformada naquela horripilante figura - o trauma com ursos monstruosos deixa Fergus transtornado, sem tempo para ouvir os apelos da filha antes de partir em perseguição à besta.
O estranho é que Valente não é apenas o primeiro longa da Disney/Pixar protagonizado por uma personagem feminina, mas também o primeiro produzido e dirigido por duas mulheres - a produção é de Katherine Sarafian, e a direção, assinada em conjunto por Brenda Chapman e Mark Andrews. O filme tem pretensões e momentos inspirados que fazem jus à fama dos projetos anteriores que levam o mesmo selo. Entretanto, no fim das contas, lembra mais aquelas fábulas infantis que a Disney produzia sozinha, antes da união com a Pixar.