Apesar de não ter revelado se haveria participação de integrantes da prefeitura da Capital no suposto esquema que teria desviado mais de R$ 9 milhões dos cofres públicos, o superintendente da Polícia Federal, delegado Ildo Gasparetto, destacou que o fato de o processo estar sob a responsabilidade do Tribunal Regional Federal da 4ª Região indica a presença de pessoas com foro privilegiado nas investigações.
- Não descartamos (o envolvimento de membros da prefeitura), mas quem deverá se manifestar sobre isso deverá ser o Ministério Público Federal (MPF) - afirmou Gasparetto.
Policiais federais cumpriram nesta manhã 30 mandados de busca e apreensão em três Estados para tentar desmontar uma organização criminosa especializada em desviar recursos públicos destinados à área da saúde. A suposta quadrilha, que gerenciou durante dois anos postos de saúde da Capital, é suspeita de ter se apropriado irregularmente de R$ 400 mil por mês.
Batizada de Pathos, a operação capitaneada pelo Núcleo de Ações Ordinárias do MPF investiga supostas irregularidades de agentes públicos e de dirigentes do Instituto Sollus, uma Organização de Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), na prestação de serviços de saúde em Porto Alegre. A entidade, com sede em Sorocaba (SP), foi contratada em agosto de 2007 pelo governo José Fogaça para substituir a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs) na administração das 84 equipes do Programa da Saúde da Família (PSF).
Na ocasião, a troca das entidades gerou grande polêmica na cidade. A oposição e o Ministério Público (MP) Estadual chegaram a questionar a contratação da Oscip paulista sem licitação. O convênio, que previa o pagamento de R$ 2,4 milhões mensais ao Instituto Sollus, também foi alvo de auditoria do Tribunal de Contas do Estado (TCE). A prefeitura rescindiu o contrato com a Oscip paulista em agosto de 2009, por conta de suspeitas de irregularidades na prestação de contas. Nos 24 meses em que atuou na Capital, a organização recebeu R$ 57,6 milhões.
De acordo com as investigações dos procuradores da República, além dos R$ 400 mil que teriam sido desviados mensalmente ao longo do contrato com a prefeitura de Porto Alegre, também haveria indícios da apropriação de mais R$ 4 milhões que estariam depositados para o pagamento de encargos trabalhistas, como 13º salário e férias.
A Oscip operava, explicou o superintendente da PF no Estado, por meio de prestações de serviços não comprovadas, como honorários com advogados, consultorias, planejamento, auditorias, assessorias, marketing, propagandas, palestrantes e materiais para escritório, inclusive com a emissão de notas fiscais falsas. Segundo os federais, não foram cumpridos mandados de busca dentro da prefeitura de Porto Alegre. A ação dos agentes da PF na cidade teria se restringido, basicamente, à antiga sede do Instituto Sollus.
Às 15h30min, os procuradores da República que atuaram nas investigações concederão uma entrevista coletiva para dar mais detalhes sobre o esquema.
O nome
Resolveu-se intitular a operação de Pathos porque, numa concepção moderna e simplificada, significa doença. Paralelamente, na filosofia grega, Pathos representa espanto, passividade e sofrimento.
Operação da PF faz apreensão em antiga sede do Instituto Sollus na Capital
Atuação do TRF-4 no processo indicaria presença de pessoas com foro privilegiado nas investigações, diz Gasparetto
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