Simone Biles adora o Brasil, ama Rebeca Andrade e gosta muito de falar sobre a importância da saúde mental no esporte. Pude perceber tudo isso no meu contato com a lendária ginasta norte-americana na sala de entrevistas da Bercy Arena, nesta segunda-feira (5), logo após a final do solo, vencida pela brasileira.
Quando me identifiquei como jornalista do Brasil, a atleta de 27 anos abriu um sorriso, que ficou ainda maior quando perguntei a sua opinião sobre a performance de Rebeca na decisão.
— Eu amo a Rebeca. Ela é absolutamente incrível. É uma pessoa incrível e uma ginasta ainda melhor. Ela me mantém sempre alerta e me faz sempre querer ter um desempenho melhor. Ela é muito, muito talentosa. Eu amo ela, ela é incrível — disse.
Mas a resposta que mais me chamou atenção foi outra. Como só tinha direito a perguntar uma vez, fiz o famoso "duas em uma" e, além de falar sobre Rebeca, perguntei sobre a importância da saúde mental no esporte. Ao longo da resposta, em duas oportunidades, Biles me agradeceu por abordar o assunto.
Não foi por acaso que escolhi este tema. Simone Biles tornou-se uma lenda no esporte mundial não só pelas suas sete medalhas de ouro olímpicas. A norte-americana foi quem naturalizou o debate sobre saúde mental no esporte de alto rendimento, ao desistir de quatro finais nos Jogos de Tóquio, em 2021, alegando a necessidade de cuidar de si. Nesta segunda, tive a oportunidade de dizer tudo isso a ela pessoalmente através do microfone da sala de entrevistas da Bercy Arena.
— Acho que colocar a saúde mental em primeiro lugar e tirar um tempo para si cria uma longevidade no esporte, especialmente, mas também é importante para se ter um estilo de vida melhor e mais saudável, esteja você praticando esporte ou não. É muito importante colocarmos nossa saúde mental em primeiro lugar, e aí todo o resto se encaixa — comentou a ginasta.
Sem menosprezar os seus feitos nos ginásios, talvez a normalização do debate sobre a saúde mental no esporte tenha sido um dos principais legados de Simone Biles para a história. Depois de Tóquio, os surfistas Filipe Toledo e Gabriel Medina, o canoísta Isaquías Queiroz, a nadadora Ana Marcela Cunha e o skatista Pedro Barros foram só alguns dos nomes brasileiros que precisaram parar de competir por um tempo ou diminuir o ritmo dos treinos e das competições para cuidarem de si. E todos eles voltaram, participam — ou participaram — das Olimpíadas e ficou tudo bem.
O fato é que, graças à Biles, o debate sobre estar tudo bem se as coisas por ora não estão bem se tornou mais natural no mundo do esporte de alto rendimento. E ela sabe e se orgulha disso.