As Olimpíadas de Paris se aproximam do fim e, para fechar com chave de ouro a competição, vem aí um dos eventos mais tradicionais dos Jogos: a maratona. O Brasil, no entanto, não terá representantes na prova nesta edição, após a desclassificação de Daniel Nascimento por doping — uma história bem diferente do que ocorreu há 20 anos.
No final de um caloroso domingo na Grécia, em 29 de agosto de 2004, um brasileiro chamou a atenção do mundo ao, inesperadamente, tomar a dianteira na prova olímpica. Vanderlei Cordeiro de Lima passou a liderar a maratona após 1h14min46s de corrida e logo abriu uma boa vantagem de seus concorrentes.
Por quase uma hora, ele seguiu na liderança, acendendo a esperança de brasileiros por uma medalha de ouro. Parecia um momento histórico, à medida que ele seguia a rota original de Fidípides, dos campos da Batalha de Maratona até o Estádio Panatenaico, de Atenas.
Aos 35 anos, Vanderlei era um candidato improvável para uma medalha em Atenas. Apesar de ter sido campeão em dois Jogos Pan-Americanos (em Winnipeg, 1999, e em Santo Domingo, 2003) e ter vencido a maratona de São Paulo em 2002, ele tinha um retrospecto ruim em Olimpíadas. Em Atlanta 1996 terminou em 47º lugar e em Sydney 2000 na 75º posição.
Assim, o percurso, cheio de ladeiras e declives, parecia oferecer emoção o suficiente para o público, que acompanhava com receio a aproximação de outros competidores de Vanderlei. Exceto que não foi o calor ou ou cansaço que derrotaram o maratonista. Em uma das imagens mais lembradas da história dos Jogos, com 2h03min de prova, o atleta do Brasil é atacado por um espectador no meio da competição.
Mais tarde identificado como um ex-padre irlandês, que já havia invadido inúmeras competições esportivas, o lunático pula em cima do brasileiro, que é salvo por um grego que assistia à maratona.
O episódio claramente desequilibra Vanderlei, que começa a ter câimbras e é ultrapassado por Stefano Baldini, da Itália, e Mebrahtom Keflezighi, dos Estados Unidos. Ainda assim, ele passa a linha de chegada na terceira posição e garante uma medalha de bronze ao Brasil, sob aplausos do público na arena milenar.
É o melhor resultado do Brasil em uma maratona Olímpica na história. Vanderlei comemora com os braços abertos, um aviãozinho na pista, e a imagem corre o mundo. Nasce um herói do esporte brasileiro.
O Comitê Olímpico do Brasil tenta reverter o resultado, afirmando que Vanderlei merecia o ouro após o episódio, mas não tem sucesso. O brasileiro, no entanto, acaba ganhando uma honra ainda maior e se torna a 11ª pessoa a receber a medalha Barão Pierre de Coubertin, por seu espírito olímpico. Doze anos mais tarde, Vanderlei também é escolhido para acender a pira olímpica nos Jogos do Rio.
Atualmente, o ex-maratonista é um dos embaixadores do Comitê Olímpico do Brasil em Paris. A prova de maratona masculina ocorre neste sábado (10), a partir das 3h (horário de Brasília). Já a feminina ocorre no mesmo horário no domingo (11).