A menos de um mês para a abertura da Olimpíada, Zero Hora segue com a série especial que retrata grandes atletas do Brasil e do Exterior. Depois da ginasta Rebeca Andrade e da nadadora Katie Ledecky, conheça nesta quarta-feira (3) a trajetória da skatista Rayssa Leal.
Rayssa é precoce. Mas uma precocidade diferente. Não aprendeu a falar antes dos demais bebês, ou começou a dar os primeiros passos mais cedo. Aos 13 anos, com a introversão de adolescente que usa aparelho ortodôntico, posou mordendo uma medalha no pódio. Cena comum em campeonatos de escolas nos mais variados cantos do Brasil. Mas o sorriso dela encantava o mundo e passava em nove de 10 televisões de norte a sul, de leste a oeste.
Afinal, o segundo lugar e a prata haviam sido conquistados momentos antes em plena Olimpíada de Tóquio. Totalmente incomum para quem havia recém saído do ensino fundamental. A maranhense tornou-se a brasileira mais jovem a conquistar uma medalha olímpica, superando por quase quatro anos a antiga detentora do recorde.
Mas a fama de Rayssa veio anos antes, em 2015, quando ficou famosa nas redes sociais por um vídeo. Em Imperatriz, no interior do Maranhão, onde nasceu, a pequena menina fantasiada de fada Sininho, personagem de Peter Pan, executava perfeitamente um heelflip descendo uma escada. A megaestrela do skate Tony Hawk compartilhou. As imagens viralizaram, e a adolescente passou a ser chamada de Fadinha (apelido não mais utilizado por ela).
E com a velocidade de quem faz manobras inacreditáveis de skate, a vida de Rayssa acelerou. Com apenas 11 anos, fez história como a mais jovem skatista de street a vencer uma final feminina no Street League Skateboarding World Tour em Los Angeles, superando a então número um do mundo, Pamela Rosa – bateu a marca de Nyjah Huston, um dos mais importantes skatistas do mundo. Aos 14, já vice-campeã olímpica, venceu uma das competições mais tradicionais dos esportes radicais, o X-Games, outra vez no Japão.
Na mais importante liga de skate street, a SLS, já é bicampeã mundial. Primeiro, venceu no Rio de Janeiro, em 2022. No ano seguinte, em São Paulo, contou de novo com a torcida brasileira para ganhar mais uma vez. Para muitos, uma competição, mas, para Rayssa, é como se brincasse em um playground.
— É como se eu estivesse em um parque de diversões e apenas me divertindo. Porque estou fazendo o que gosto e o que sempre sonhei fazer. Então, só de ir aos campeonatos e estar com minha família e meus amigos é ótimo — disse Rayssa ao site dos Jogos Olímpicos.
O nível da brasileira é tão acima das demais que ela garantiu vaga na Olimpíada de Paris com uma etapa de antecedência. Dois meses antes do começo das provas da modalidade, em maio, ela conquistou a medalha de ouro na etapa da China do Pré-Olímpico de skate street, carimbando seu passaporte para a competição.
Conquistar um segundo pódio olímpico seria histórico para a menina de 16 anos, mas também para o Brasil. Rayssa vai além das conquistas esportivas. Inspira skatistas de todas as idades. Só que viver a intensa rotina de uma atleta de alto rendimento, misturada com a de estrela de diversas marcas pelo mundo, cansa. Então, os Jogos de Paris podem ser a última competição em um bom tempo:
— Estava falando com a minha mãe: querendo ou não, estou perdendo um pouco da minha adolescência lá em Imperatriz. Tô perdendo as festinhas com meus amigos, tô perdendo um pouco da escola. Tem que falar, pô. É abrir mão de algumas coisas para pensar no futuro.
Desfrutem dos momentos de Rayssa na pista, como uma criança desfruta dos primeiros momentos da vida. Eles prometem.