O principal temor da França em relação às Olimpíadas é o risco de atentados terroristas. Na tarde desta terça-feira (23), a reportagem de ZH presenciou um momento de apreensão na região central de Paris. A quadra onde fica a estação de metrô Madeleine, a apenas 700 metros do Palácio do Eliseu, sede do governo francês, foi isolada pela polícia por alguns minutos devido a uma suspeita de bomba.
— Bomba, bomba — disse um francês a todos os presentes no local, com um incompreensível tom de tranquilidade.
Logo depois, no entanto, os policiais receberam um comunicado pelo rádio e liberaram a rua. A bomba tinha sido alarme falso. A reportagem de ZH procurou os policiais responsáveis pelo bloqueio para entender o que tinha acontecido.
— Havia uma mala desacompanhada na estação. Por precaução, tivemos que isolar a rua até checar (se a mala representava um risco ou não) — explicou calmamente um dos policiais presentes, tratando o episódio como algo trivial do dia a dia parisiense.
Porém, é fato que a chave virou na França. A apenas três dias da abertura oficial das Olimpíadas, marcada para sexta (26), a preocupação com a segurança é cada vez mais perceptível nas ruas de Paris, com patrulhas do exército guarnecendo os locais de competição, e comboios de viaturas da polícia a todo momento cruzando a cidade em alta velocidade e com as sirenes a todo volume.
No total, 45 mil policiais serão destacados para trabalhar na polêmica cerimônia de abertura que, pela primeira vez, não será em um estádio e sim no Rio Sena. Em evento com a imprensa internacional, nesta segunda (22), o presidente da França, Emmanuel Macron, deu algumas pistas sobre o que deve ocorrer na solenidade.
— Será uma cerimônia única. No início, parecia uma ideia louca, mas decidimos que deveria ser transformada em real. Será um desfile único, com artistas, dançarinos e orquestras, transformando Paris em um teatro aberto e o Rio Sena no núcleo do teatro — disse Macron, que aposta nas Olimpíadas para melhorar a imagem do seu governo perante os franceses e da França perante o mundo.
A primeira missão, porém, parece mais difícil, uma vez que boa parte dos parisienses ainda é contra a realização dos Jogos, pelo alto custo e pelos transtornos causados. Muitos deles se organizam inclusive para sair da cidade durante o evento.
— Estou me organizando para assistir ao tênis, em Roland Garros. Gosto muito de tênis e estou empolgado com as Olimpíadas, mas sou do interior. Os parisienses não estão muito entusiasmados — disse o vendedor Larry Benoit, 28 anos, que é natural de Amien, no norte francês e trabalha em uma loja de caviar na região central de Paris.
A visão é compartilhada pelo professor universitário Luís Henrique Rolim, que está desde o dia 9 na capital francesa representando a PUCRS em eventos acadêmicos ligados ao esporte.
— Os franceses que estão de alguma forma envolvidos com os Jogos estão entusiasmados e querem receber todo mundo bem, com simpatia e vontade de ajudar. Já os que não são envolvidos estão frustrados por que o dia a dia ficou bastante prejudicado com a Olimpíada, e por vezes ironizam o evento — conta.
Outro fator de atenção é o fato de os hotéis parisienses, em sua maioria, não estarem lotados.
— A procura não está atendendo a expectativa que tínhamos. Esperávamos muitas pessoas para as Olimpíadas, mas essas pessoas não estão vindo, não sei se por medo ou pelo alto custo. Mas, além disso, os turistas habituais não querem vir justamente por causa das Olimpíadas — disse a ZH Fanny Assus, proprietária de um hotel parisiense.
Apesar disso, a França aposta em estádios e arenas lotadas, seja por estrangeiros, por franceses do interior ou mesmo parisienses. O presidente Emmanuel Macron e a ministra do esporte Amélie Oudéa Castéra apostam que o povo de Paris será conquistado pelo legado olímpico.
— As Olimpíadas transformarão várias regiões de Paris, em especial as mais pobres, como Saint-Denis, onde está localizada a Vila Olímpica, que depois será entregue à comunidade. Mas, analisando de forma mais ampla, estamos demonstrando que podemos realizar Jogos sustentáveis. Podemos organizar um evento bem-sucedido e alinhado com uma preocupação ecológica. Outro exemplo (de legado olímpico) é que, para a operação dos Jogos, buscamos pessoas que estavam fora do mercado. As treinamos e contratamos. Isso engajamento social e significa muito para nós — disse a ministra.
Macron compartilha do otimismo.
— As Olimpíadas vão mudar o dia a dia de muitos franceses — finalizou.