Por volta das 14h30min de terça (28), o Rio Grande do Sul recebeu de volta o campeão dos 200m T64 no mundial de atletismo paralímpico. Wallison Fortes, 27 anos, desembarcou na Base Aérea de Canoas com a medalha de ouro no peito a vaga garantida para os Jogos Paralímpicos de Paris 2024. O abraço no pai e na mãe que estavam lhe esperando foi reconfortante, principalmente pela tragédia que aconteceu enquanto ele esteve fora.
O campeão dos 200m T64, para atletas com amputação unilateral abaixo do joelho, saiu do Estado pouco antes da chuva começar a destruí-lo. Wallison foi a São Paulo realizar a fase final da sua preparação junto do treinador Leonardo Ribas. Depois foi para Kobe, no Japão, onde foi realizado o mundial de atletismo paralímpico.
Na competição, o gaúcho natural de São Luiz Gonzaga foi o segundo colocado, mas contou com a desclassificação do italiano Francesco Loragno, que pisou na linha da raia. A vitória ficou ainda mais marcante porque Wallison se jogou na chegada para ficar na frente dos outros concorrentes, o que lhe causou alguns hematomas, mas foi fundamental para garantir o ouro.
— Fiquei feliz pela prata, mas ao mesmo tempo triste porque sabia que o ouro era para ser meu. Acabei perdendo o controle no final e decidi me jogar, porque era o que restava. E deu certo — explicou o atleta em sua chegada na área de desembarque que foi improvisado no ParkShopping de Canoas.
Wallison foi recebido por aproximadamente 15 pessoas, entre familiares e amigos que o apoiam na sua trajetória. Uma faixa foi mostrada quando ele desceu do ônibus que fez o deslocamento entre a base aérea e o shopping. O atleta fez questão de abraçar a todos, inclusive três crianças que estavam saindo do local, mas permaneceram ao saber que um campeão mundial estava chegando.
Reencontro especial
Ao ver a recepção, ele abriu o sorriso e foi direto ao encontro do pai Marcos Fortes. Em seguida, Wallison abraçou bem forte a mãe Regina Fortes, que não conteve a emoção.
— É muito orgulho e muito bom ter ele aqui de volta — disse a mãe, que tinha lágrimas e um sorriso no rosto.
O retorno também é importante pela dificuldade que a família vive. Apesar de natural de São Luiz Gonzaga, na região das Missões, a família se mudou para Porto Alegre quando Wallison tinha um ano e meio, depois foram para Eldorado do Sul, onde vivem há 20 anos. Entretanto, por conta da enchente que afetou o Estado, a casa dos Fortes foi tomada pela água e quase tudo foi perdido.
— Feliz demais por ver ele depois de quase 25 dias e com essa medalha. Ela dá vaga para as Paralímpiadas, um sonho que estamos atrás há quatro anos — explicou o pai, que também ajuda a cuidar da carreira.
Wallison, entretanto, não vivenciou essa a enchente pessoalmente. Para preservá-lo, a família decidiu não contar a real situação da casa.
— Somente ontem (segunda) que eu fui ver as fotos da minha casa. Chorei, foram anos de trabalho para construir. Mas agora é a chance de recomeçar, não só a minha família, como todas as outras que perderam tudo — relatou Wallison.
Preparação para Paris
Com a vaga conquistada para os Jogos Paralímpicos de Paris, no final de agosto deste ano, Wallison terá três meses de preparação. Porém seu foco será dividido em ajudar a família a achar um novo lugar para morar.
— Estamos buscando um local em Porto Alegre para morar, em Eldorado está inviável. Queremos uma boa localização para ajudar no deslocamento dele. O foco é nas Paralímpiadas — explicou o pai.
O campeão mundial chegará com moral em Paris e espera conseguir novamente um bom resultado. Wallison conta com o apoio da Associação RS Paradesporto de Eldorado do Sul, clube pelo qual ele compete. O gaúcho também está em busca de mais apoiadores para entregar o melhor resultado possível na França.
— Vamos chegar bem em Paris. Não gosto de prometer vitória, mas todos podem ter certeza que eu vou me dedicar muito para isso — finalizou Wallison.