A velocista de Belarus Krystsina Tsimanouskaya, que deixou os Jogos de Tóquio precipitadamente devido a um conflito com autoridades esportivas de seu país, desembarcou na Polônia na noite da última quarta-feira (4). O país concedeu tanto à atleta, quanto a seu marido, Arseni Zdanevitch, um visto humanitário para que pudessem refugiar-se.
Após chegar ao local, ela deu uma entrevista coletiva dizendo sentir-se feliz por estar segura. Contudo, ressaltou estar surpresa com o seu caso ter virado um escândalo para além da área esportiva, embora ainda não pense em buscar asilo político e diga que só quer poder continuar competindo.
Além disso, ela afirmou que "temeu por sua vida" e relatou sua tentativa de repatriação forçada. Conforme a velocista, a federação bielorrussa queria forçá-la a participar do revezamento 4x400 metros, ao que a atleta mostrou sua indignação, já que planejava correr apenas os 100 e 200 metros.
— Quando eu estava na Vila Olímpica, alguns técnicos e homens da nossa equipe vieram ao meu quarto e disseram que eu deveria dizer que estava com uma lesão e voltar para casa. Se eu não fizesse isso, eu poderia ter alguns problemas no meu país e eles não sabiam quais problemas, mas depois desse dia, eles também vieram ao meu quarto e disseram que eu não tinha chance de correr 200 metros e deveria voltar para casa, que não era decisão deles e eu apenas tinha que fazer isso — contou ela, que chegou a ser levada ao aeroporto, onde pediu ajuda à polícia japonesa.
A bielorrussa se viu afetada pela agitação política e pela repressão contra a oposição, após a eleição presidencial em seu país a qual elegeu novamente Alexander Lukashenko - que está no poder desde 1994. Krystsina foi uma das mais de 2 mil personalidades bielorrussas do esporte que assinaram uma carta aberta por novas eleições e pela libertação de presos políticos.
Seus problemas em Tóquio surgiram, no entanto, depois que ela publicou uma mensagem em sua conta do Instagram criticando seus treinadores por terem-na inscrito em uma corrida, sem aviso prévio.
— Meus pais me disseram que estavam falando mal de mim na televisão. Recebi muitas mensagens desagradáveis, mas recebi ainda mais mensagens de apoio — disse ela na coletiva.
Ameaças aos atletas
Lukashenko e seu filho Viktor, presidente do Comitê Olímpico nacional, foram vetados de comparecer aos Jogos Olímpicos por terem atacado atletas pelas suas opiniões políticas. Pouco antes dos Jogos de Tóquio, o presidente bielorrusso pediu aos líderes esportivos e aos atletas para obterem resultados no Japão.
— Pensem nisso antes de ir (...) Se voltarem sem nada, é melhor que nem tenham ido — alertou.
A suposta tentativa de obrigar Krystsina a voltar para Belarus gerou condenações internacionais. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, acusa Minsk de "outro ato de repressão transnacional".
COI reage e retira credenciais de técnicos
Investigando o caso, o Comitê Olímpico Internacional (COI) retirou as credenciais de dois treinadores bielorrussos e pediu-lhes para deixar a Vila Olímpica pela suposta tentativa de obrigar Krystsina a voltar para seu país. O anúncio foi feito pela entidade esportiva nesta quinta-feira (5).
"Uma Comissão Disciplinar da COI foi estabelecida no caso de Krystsina Tsimanouskaya para esclarecer as circunstâncias do incidente e os papéis que os treinadores Artur Shimak e Yury Maisevich desempenharam. No interesse do bem-estar dos atletas do da Bielorrússia que ainda estão em Tóquio e como medida provisória, o COI cancelou e removeu na noite passada as credenciais dos dois treinadores, Sr. A. Shimak e Sr. Y. Maisevich", afirmou o COI no Twitter.
"Os dois treinadores foram convidados a deixar a Vila Olímpica imediatamente e assim fizeram. Eles terão a oportunidade de serem ouvidos", acrescentou a entidade.
No dia 2 de agosto, o comitê de Belarus havia afirmado em comunicado que os treinadores suspenderam Krystsina devido a seu "estado emocional e psicológico".
— Tínhamos sinais de que algo estava acontecendo com ela — criticou o técnico Yuri Moisevitch, que declarou à TV estatal de Belarus que a atleta havia "transformado sua participação em Tóquio em um escândalo grandioso".
Em mensagem no Telegram, enviada nesta sexta-feira (6), o Comitê Olímpico de Belarus afirmou que "continuará protegendo os interesses de todos os atletas e treinadores contra todas as formas de discriminação".