Preste atenção neste nome: Alison Brendom Alves dos Santos. Principal revelação do atletismo brasileiro neste ciclo olímpico, o paulista de São Joaquim da Barra chegará a Tóquio com chances reais de brigar por um lugar no pódio e, talvez, até mesmo repetir o feito de Thiago Braz, que nos Jogos do Rio 2016 surpreendeu os favoritos do salto com vara ao conquistar um ouro inédito para o país.
A evolução de Alison dos Santos nos 400m com barreiras impressiona. Apelidado de Piu, o atleta de 2m de altura e 76kg apresentou seu cartão de visitas em 2019, ainda com idade sub-20, em duas das principais competições do calendário. Nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, o brasileiro venceu a prova com 48s45, então a quarta melhor marca daquela temporada, que lhe garantiu a vaga para os Jogos de Tóquio.
Dois meses depois, no Mundial de Doha, no Catar, avançou à final com 48s35, o segundo melhor tempo geral. Na corrida decisiva, voltou a melhorar seu desempenho, fechou a prova em 48s28, mas terminou em sétimo lugar.
De 2019, pulamos para 2021, já que no ano passado Alison dedicou-se basicamente a treinos, sem participação em meetings de atletismo. De março a maio, Piu estabeleceu-se na Califórnia, nos EUA, onde intensificou a preparação de olho na Olimpíada. Foi então que deu início a uma incrível sequência de quebra de recordes sul-americanos – o primeiro perdurava havia quase 16 anos, e os demais, claro, melhorando seu próprio tempo. Em uma competição na costa oeste americana, baixou pela primeira vez da casa dos 48 segundos e cravou 47s68, superando por 16 centésimos a marca estabelecida pelo panamenho Bayano Kamani em 2005.
No fim de maio, tomou o rumo de Rio Maior, em Portugal, para a fase final de lapidação dos treinos e também para competir em eventos da Liga Diamante, circuito que reúne a elite do atletismo. No primeiro deles, em Doha, em 28 de maio, fechou em segundo lugar e estabeleceu novo recorde continental: 47s57.
Em 1º de julho, conquistou outra prata na etapa de Oslo, na Noruega, com 47s38. No último domingo (4), Alison venceu a prova em Estocolmo, na Suécia, quebrando o recorde sul-americano pela quarta vez na temporada (47s34). Foi a terceira melhor marca de 2021 no mundo, o que já faz da jovem revelação do atletismo o 14º corredor mais rápido da história nos 400m com barreiras.
O desafio de Piu é que o primeiro e o terceiro colocados dessa lista estão em plena atividade e também atravessam grande momento nas pistas. Na etapa de Doha, aquela em que o Alison ficou com a prata, o americano Rai Benjamin, 23 anos, foi o vencedor. Em outra prova da Liga Diamante, em 26 de junho, o atual vice-campeão mundial fez 46s83, a terceira melhor marca de todos os tempos.
Recordista
Mas o homem a ser batido na prova é o norueguês Karsten Warholm, 25 anos. Em Oslo, correndo em casa, o bicampeão mundial deixou Alison para trás com 46s70, quebrando por oito centésimos o recorde de quase 30 anos de Kevin Young (EUA), ouro na Olimpíada de Barcelona 1992. Warholm e Benjamin, por sinal, estão no seleto grupo de quatro atletas que já baixaram de 47 segundos na distância _ outro corredor contemporâneo, Abderrahman Samba, 25 anos, já registrou 46s98, em 2018, mas o catari não vive boa fase.
O alto nível da prova não desanima Felipe de Siqueira da Silva, treinador do atleta desde 2018. Pelo contrário:
– Os 400m com barreira são a bola da vez do atletismo. Já foi, por exemplo, os 100m na época do Usain Bolt. Mas digo que é uma felicidade para nós. A partir do momento em que o atleta melhora e mesmo assim não é o melhor, isso o ajuda a evoluir cada vez mais.
Siqueira evita falar em meta para os Jogos, mas está otimista:
– Alison sempre teve o perfil de fazer o melhor desempenho dentro das grandes competições. Essa é a grande motivação para ele e é o que nós esperamos: que faça a melhor marca da carreira em Tóquio.
Queimaduras
Nesta sexta-feira (9), a partir das 15h03min, Alison terá mais uma chance de mostrar sua evolução, desta vez na etapa de Mônaco da Liga Diamante. A última prova do brasileiro antes dos Jogos será uma prévia olímpica. Isso porque Warholm e outros adversários da Olimpíada estarão ao seu lado na pista do Estádio Louis II.
Não duvide de Piu, que desde cedo conseguiu superar as barreiras da vida. Descoberto em um projeto de atletismo de sua cidade-natal, Alison aparenta mais idade do que os 21 anos recém-completados sugerem. Quando tinha 10 meses, sofreu um grave acidente doméstico: uma panela de óleo quente virou sobre o bebê, e as cicatrizes que resultaram de queimaduras de terceiro grau impedem que o cabelo cresça no topo da cabeça.