A medalha de prata de Rayssa Leal no skate street das Olimpíadas de Tóquio coloca luz sobre uma modalidade que até pouco tempo atrás era marginalizada no Brasil. A prancha com rodinhas viu o Brasil subir duas vezes ao segundo lugar mais alto do pódio — antes, Kelvin Hoefler havia ficado com a prata também.
Natural de Imperatriz, no Maranhão, a carismática menina de 13 anos escreveu seu nome no hall do esporte brasileiro e passou a ser, ainda mais, um exemplo para quem quer seguir o mesmo caminho que ela. Mas a conquista de Rayssa tem um significado diferente.
A história da skatista brasileira começou há pouco mais de seis anos, quando a lenda mundial Tony Hawk compartilhou um vídeo com Rayssa andando de skate vestida de fada.
Agora, com a prata, mostrou que sonhar é possível. Entre 2015, quando estourou na internet, e Tóquio, ela foi vice-campeã mundial em 2019 e bronze no Mundial de 2021, ocupando a segunda posição no ranking da categoria.
De olho em Paris
Ver todas essas conquistas de uma menina que recém entra na adolescência faz outras garotas, tão jovens quanto, pensem que para elas também é possível. É o caso da gaúcha Marina Martins Brauner, de 11 anos, que também é skatista e tem sonhos por realizar nos próximos anos. Marina conheceu o skate por acaso e pela família.
Em uma das férias da escola, os primos dela a apresentaram para o skate. Com quatro anos, começou a andar e fazer manobras por aí. Natural de Pelotas, no sul do Estado, atualmente ela faz parte da seleção brasileira de Skate Júnior, na categoria park, criada para a preparação das Olimpíadas de Paris em 2024.
Ser parte dessa seleção da Confederação Brasileira de Skate (CBSK) faz com que ela tenha suporte. A menina conta com um técnico, médicos, psicólogo, fisioterapeuta — basicamente a mesma estrutura que a seleção de Rayssa, Letícia Bufoni e Pamella Rosa, representantes brasileiras em Tóquio.
— O skate feminino sempre teve menos visibilidade, então acho que a conquista dela vai fazer com que muitas meninas também queiram andar. Eu fui chamada para a seleção júnior há pouco tempo, e ver a Rayssa lá e conquistando uma medalha me mostra que é possível que eu chegue lá também. Meu maior sonho é chegar lá também — revela Marina, que é completada por sua mãe, Daniela Schild Martins:
— Quando ela me dizia "mãe, quero ir para as Olimpíadas", achava que era uma coisa muito longe, e hoje a gente vê que está cada vez mais perto. Depois da conquista da Rayssa, mais ainda. Fico pensando que aqui em Pelotas a Marina inspira algumas meninas, então imagina a proporção que a medalha vai trazer no Brasil inteiro.
De ídolo a inspiração
No região metropolitana de Porto Alegre, mais uma garota ficou feliz com o que viu nas Olimpíadas. Lara Vargas, adolescente de 12 anos, nascida em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Desde os sete anos no skate park (modalidade diferente de Rayssa), Lara tem o sonho de repetir o feito da compatriota:
— Me imaginei, e espero que em uma próxima eu esteja lá. Ela é uma inspiração pra muita gente, pra mim também, claro.
Lara conheceu a atual medalhista olímpica durante uma seletiva em Sapiranga, na Região Metropolitana. Na época, ainda com nove anos, viu Rayssa das arquibancadas.
Esses dois exemplos só provam que o skate, mesmo antes da conquista da brasileira no Japão, já vinha ganhando cada vez mais espaço na sociedade. Para quem acompanha diariamente a modalidade, caso de Guilherme Abe, apresentador do Youtube da CBSK e com o canal Sobreskate, as mulheres vêm crescendo sua participação.
— As meninas vêm tendo muito mais adesão ao esporte do que nas décadas anteriores. Atualmente, elas já são muito mais influentes, têm um espaço na comunidade internacional de skate, são igualadas nos eventos (em questão de premiação). Ter um exemplo de uma menina que anda de skate, tem o carisma dela (como a Rayssa), com certeza atrai outras, e isso vai fazer com que o skate feminino tenha um progresso e uma evolução muito maior — analisa Abe.
A vitória de uma menina de 13 anos, nordestina e praticamente de um esporte na sua maioria urbano mostram que não existe lugar, nem idade para o nascimento de uma sonhadora, como Rayssa.
— O skate brasileiro é muito forte no cenário internacional, muito respeitado por todos. O fato de se tornar olímpico acaba lançando luz sobre ele. O brasileiro gosta de ídolos e de heróis. Assim foi no surfe, com o Gabriel Medina, e no tênis, com o Guga. Acredito que não só para as meninas, mas também para as crianças, a Rayssa vai ser um exemplo de que dá para chegar lá e de que não existe novo ou velho para começar — finalizou.