A menos de dois meses do início dos Jogos Olímpicos de Tóquio, o megaevento segue rodeado de polêmicas. Enquanto o Comitê Olímpico Internacional (COI) mantém a convicção de sua realização, diversas entidades do Japão e a própria população do país asiático têm mostrado contrariedade com a Olimpíada, marcada para ocorrer de 23 de julho a 8 de agosto.
Com a proximidade do evento, há uma crescente pressão e pedidos de reconsideração sobre a realização da Olimpíada. Representantes da classe médica do Japão já emitiram comunicados para que haja o cancelamento dos Jogos. Segundo os especialistas, o país-sede vive uma quarta onda de casos de covid-19. Além disso, há preocupação com a sobrecarga no sistema hospitalar.
As autoridades japonesas, por sua vez, prometeram realizar a Olimpíada de forma "segura e protegida" após um adiamento de um ano. Enquanto isso, Tóquio e outras províncias estão sob um terceiro estado de emergência para conter uma nova onda de casos de coronavírus.
Médicos alertam para a criação de uma "cepa olímpica" do coronavírus
Nesta quinta-feira (27), o Sindicato dos Médicos do Japão voltou a fazer um novo alerta sobre a realização dos Jogos. O líder da entidade, Naoto Ueyama, indicou que a união de pessoas vinda de mais de 200 países em um mesmo lugar pode provocar o surgimento de uma nova cepa do coronavírus.
— Todas as diferentes cepas mutantes do vírus que existem em diferentes lugares serão concentradas e reunidas aqui em Tóquio. Não podemos negar a possibilidade de que uma nova cepa do vírus pode surgir após a Olimpíada — declarou.
Ainda no início deste mês, o Sindicato Nacional de Médicos do país apresentou uma petição que pedia ao governo o cancelamento de Tóquio 2020. Em documento enviado ao Ministério da Saúde local, o sindicato afirmou que a chegada de atletas, jornalistas e árbitros possibilitaria a aparição de novas cepas no país, independentemente de não haver público estrangeiro nas arquibancadas.
A Associação de Praticantes Médicos de Tóquio, que representa cerca de 6 mil profissionais, também reforçou o coro contra a realização. Em seu pronunciamento, afirmou disse que os hospitais na cidade-sede dos Jogos "estavam ocupados e quase sem capacidade ociosa" em meio a um surto de infecções da covid-19.
Jornal japonês que patrocina Jogos Olímpicos defende seu cancelamento
Patrocinador oficial dos Jogos Olímpicos, o jornal japonês Asahi Shimbun pediu, nesta quarta-feira, o cancelamento do evento e classificou o mesmo como uma "ameaça sanitária", no momento em que o país enfrenta uma quarta onda de contágios da pandemia.
O editorial afirma que "não se pode aceitar a aposta" de celebrar os Jogos, apesar de o comitê organizador afirmar que o evento tem condições de acontecer de maneira segura. O jornal também acusa os dirigentes do COI de estarem "claramente fora de sintonia" com o público japonês.
Apesar da publicação, o diretor-executivo do comitê organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Tóquio, Toshiro Muto, afirmou que o fato não altera o cronograma previsto. Segundo Muto, houve uma reunião do comitê executivo da organização ainda no mesmo dia, e em nenhum momento foram discutidos uma anulação ou novo adiamento da competição.
Japoneses rejeitam a Olimpíada
De acordo com uma pesquisa realizada pelo jornal japonês Asahi, mais de 80% da população do Japão é contrária à organização dos Jogos Olímpicos, após adiamento pela pandemia do coronavírus. Os números apontam que 83% dos japoneses acreditam que os Jogos não devem ocorrer como planejado.
Deste total, 40% pensam que a Olimpíada deveria ser novamente adiada, enquanto que 43% preferem que seja cancelada. Por sua vez, 14% dos consultados opinam que a abertura, agendada para 23 de julho, deve ser mantida.
Recentemente, a maior agência de notícias do país, a Kyodo News, revelou que 57% dos japoneses é a favor do cancelamento dos Jogos. O levantamento mostrou também que 87% do público teme que a realização do evento desencadeie um aumento nos casos de covid-19.
Vacinação dos atletas
À espera dos Jogos, as delegações de atletas e demais membros que estarão na Vila Olímpica estão sendo vacinados. Na última semana, o presidente do COI, Thomas Bach, assegurou que pelo menos 75% das pessoas que ficarão no local estarão vacinados contra a covid-19 ou planejam fazer isso antes do início do evento esportivo.
No Brasil, a imunização dos atletas olímpicos iniciou no última dia 14. As vacinas serão repostas COI, que ofereceu doses a todos os Comitês Olímpicos Nacionais, além de vacinas suficientes para imunizar mais dois cidadãos dos países beneficiados pela doação. Em torno de 1,8 mil brasileiros que irão ao Japão serão vacinados, o que garante aproximadamente 7 mil doses adicionais entregues ao SUS e cerca de 3,6 mil pessoas beneficiadas com a doação das vacinas através do Plano Nacional de Imunização.
COB afirma que trabalha para a preparação dos atletas
Questionado por GZH a respeito do panorama para a realização dos Jogos de Tóquio, o Comitê Olímpico do Brasil, por meio de sua assessoria de imprensa, declarou que atua na preparação dos atletas. "O COB trabalha para oferecer a melhor preparação possível aos atletas brasileiros que participarão dos Jogos Olímpicos de Tóquio". Até aqui, o Brasil já garantiu 230 vagas para os Jogos Olímpicos.